Capítulo 73

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POV ANTONELLA MORGAN

Quando a Neide me ligou, e contou o que aquele monstro fez com a minha menina, eu surtei, decidi que era a hora de voltar, minha filha precisava de mim, que tipo de mãe eu fui?

Eu sentia tanto, tanto a falta da Alice, ela nem sabe que é a razão da minha vida, é por ela que eu vivo, mesmo longe, sempre dei um jeito de cuidar dela, conversava com a Neide todos os dias, durante os anos, meu coração se quebrava um pouco mais, sempre que a Neide me contava que ela chegou chorando por eu não estar na apresentação da escola, ou quando Neide me contou do primeiro beijo dela, da primeira paixão, eu não estava lá, e sim aquele monstro.

Tive anos para me preparar para o nosso encontro, entretanto, estou aqui, sentada em sua frente, sem saber o que dizer, vejo tanta dor em seus olhos, minha menina perdida.

- Fi...Alice, devo admitir- Faço uma pausa- Tive anos para me preparar para esse momento, mas a verdade é que não me sinto preparada. - Respiro fundo e cruzo as mãos.

- Só..Só por favor, não minta pra mim, eu não aguento mais - Alice fala baixinho e suspira cansada, uma enfermeira entra na sala nos assustando e serve Alice, observo tudo, e quando a moça sai, minha filha me olha em expectativa, ok, vamos lá.

- Quando eu conheci o seu pai, eu era muito nova, ele já era mais velho. Seu pai é 13 anos mais velho que eu, quando eu o conheci, eu tinha 15, e ele 28, eu sei, isso é muito perturbador, mas eu sempre gostei de homens mais velhos, e quando eu completei 15 anos, aceitei ir num baile de favela com uma amiga, na época, conheci seu pai lá, na época ele se chamava Daniel, mas era conhecido como boy - Ela me olha como se eu tivesse um terceiro olho - Eu me encantei por ele, diferente dos muitos rapazes ali, ele tinha o cabelo bem cortado, cor de cobre, os olhos claro, era muito charmoso, a gente ficou nesse dia, mas eu era muito novinha, e ele já tinha quase 30 anos, se seus avós descobrissem, mataria nós dois, depois desse dia a gente resolveu ser só amigos, eu via ele ficando com outras mulheres, e eu surtava, no fundo, eu já gostava dele, mas ele nunca assumia nenhuma mulher, ele trabalhava pro dono da boca, na época, mas seu pai sempre teve ambição, ele queria mais, sempre quis. - Respiro fundo, contenho as lágrimas, as lembranças daquela época voltando com tudo - Eu era muito nova, era fácil de manipular, então eu e seu pai ficávamos as vezes, ele me enchia de esperança, e depois me deixava, nessa época eu tive crises de ansiedade, estava indo mal na escola, meu pai encontrou algumas drogas na minha bolsa, drogas que eram do seu pai. - Alice está pálida, acho que está descobrindo agora que seu pai não é o herói da história, nunca foi.

- Quando meu pai achou as drogas, eu simplesmente não sabia reagir, ou o que dizer, ele me mandou para um colégio interno em Nova York, fui embora do Brasil sem contar pra ninguém, fiquei incomunicável por anos, quando fiz 18, eu saí da escola, eles não podiam mais me manter lá, voltei pro Brasil, e segui a minha vida, mas ai eu reencontrei com a amiga que te falei, e ela estava casada com um amigo do seu pai, e eles ainda estavam trabalhando juntos, ela me chamou parar ir no morro, só pra visitar, mas nessa visita inocente, eu vi o seu pai, ele estava ainda mais bonito do que eu me lembrava, eu também tinha mudado, a gente começou a conversar, e alguns meses depois começamos a namorar, no meu aniversário de 19 anos descobri que estava grávida, eu surtei, tinha sonhos, planos, uma vida pela frente, gravidez não estava nos planos, contei para minha mãe, e ela ficou tão feliz que ia ser avó, que eu comecei a aceitar a ideia, quando eu fui contar pro Daniel, ele surtou, disse que eu tinha acabado com a vida dele, ele me bateu muito naquele dia, eu pensei que tinha perdido você, quando acordei no hospital eu chorei muito, eu já te amava tanto, e nem me dava conta disso. - Limpo uma lágrima solitária que escorreu na minha bochecha - Fiquei de repouso uns dias no hospital, e quando saí, o Daniel estava me esperando, mais uma vez ele me manipulou, disse que me amava, que tinha perdido a cabeça, e que queria se casar, eu disse não, mas ele foi até a casa dos meus pais, e pediu a minha mão, ele sempre foi bem apresentável, manipulador, até hoje eu não sei como ele convenceu o meu pai.

Alice permanece em silêncio, e as lembranças vem com força, me lembro do dia que ele chegou sorrindo, e com flores na casa dos meus pais, e pediu a minha mão, meu mundo desabou quando meu pai aceitou.

- De alguma forma, meu pai e o Daniel viraram amigos do peito, meu pai era Coronel do Exército, ganhava muito dinheiro, e também fazia coisas ilegais, hoje eu sei disso, logo Daniel se tornou conhecido, meu pai pagou os estudos dele, até mesmo a faculdade, quando você nasceu, ele já tinha saído da vida do crime, mas aquela raiva, a sede de crecser ainda estava nele, anos depois, ele matou o meu pai, a minha mãe, tomou todo o meu dinheiro, e se tornou o George Cooper, eu não conseguia sair desse casamento, você não se lembra, era muito bebê ainda, mas ele me batia, me humilhava, a Neide acompanhou tudo de perto, ela era governanta dos meus pais, e depois veio trabalhar com a gente, para cuidar de você, e de certa forma, de mim também - Respiro fundo e me levanto, meu peito dói, mesmo com anos de terapia, reviver essa época não é fácil, nunca foi. - Ele só era bom pra você, seu pai te amou desde o segundo que você nasceu, eu nunca tinha visto ele olhar pra alguém com tanto amor, eu só via ódio,e dor, muita dor, nos olhos dele. Foi por isso que eu fui embora, meu plano era você ir comigo, mas ele descobriu e surtou, fiz um acordo com ele, eu iria embora, mas deixaria você com ele, eu sabia que você ia ficar bem, ele sempre cuidou bem de você, me perdoa Alice, eu tinha meu próprio fardo para carregar, e você não merecia isso, eu saí de casa sem nada, só com algumas roupas, saí, mas prometi que ia voltar para te buscar, então durante anos eu montei um dossiê com todos os crimes do seu pai. - Respiro fundo e me viro pra ela.

- Passou todos esses anos longe, por causa disso? Nem se preocupou em saber como eu estava? Se sentia sua falta? Você nunca pensou em mim, não  é? - Alice fala chorando muito, seus olhos estão tão triste, me odeio por saber que é minha culpa, mas ela precisa me entender.

Quando vou abrir a boca para responder, a Machado entra correndo no quarto, o rosto pálido, ofegante, está com um semblante de assustada.

- Fudeu mano, fudeu muito, caralho. - Ela fala nervosa andando de um lado pro outro.

- Que foi Machado? O que aconteceu ? - Alice pergunta.

- É a Sant, ela foi presa. - Quando a Machado fala isso, vejo Alice murchar, quem é Sant?

- Que história é essa Macahdo? Conta isso direito. - Alice está muito nervosa.

- Ela estava vindo pra cá mano, falei pra ela não vir, mas tu sabe como ela é cabeça dura, disse que queria te ver, te pedir desculpa e os caralhos, tentei segurar ela lá, mas ela saiu na frente, escondido, quando fui atrás dela, os cana tava prendendo ela, mas ela conseguiu gritar que era tudo culpa do seu pai, filho da puta do caralho. - Machado fala com raiva passando a mão no cabelo.

- E agora Macahdo? A Malu já sabe? - Quero perguntar quem é Sant, e porque o George tem culpa na prisão dela.

- Sabe mano, foi pra delegacia já, vai passar o resumo da situação quando chegar lá po, vamo ter que ficar no aguardo. - A Machado fala tentando ficar calma, mas ela falha.

- Eu vou ligar pro meu advogado, e um conhecido, não trabalha pro meu pai, vai ajudar ela, mas não fala que foi eu que mandei ele, por favor. - Alice fala, seja quem for essa Sant, é importante pra ela, faço questão de ajudar.

- Não precisa Alice, eu sou advogada, posso ajudar, só preciso ligar pra minha assistente e vou pra delegacia, seu pai não pode me vencer, não mais. - Digo pra ela que me olha atenta.

- E você pode advogadar aqui? - Pergunta, poder não posso, mas minha assistente vai dar um jeito nisso.

- Não se preocupa, hoje mesmo eu tiro ela de lá. - Respondo firme e me levanto. - Com licença, preciso fazer uma ligação.

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⏰ Última atualização: Sep 13 ⏰

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