Capítulo 33

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POV SANT
48 horas pós cirurgia

Sinto uma dor do caralho no peito, no corpo todo que caralho é esse. Não lembro de nada, escuto vozes baixinho, queria saber onde eu to, viro o corpo mas nada, nem me mexo, tento abrir o olho mas não abre, que desgraça é essa irmão.

Escuto a voz da Malu, e tento me mexer pra ela ver que estou acordada, sinto meu coração bater rapidão, e dói, que porra, dói pra caralho, escuto as vozes altão, acho que estão correndo, sinto várias mãos me tocando, e a Malu chorando, porquê ela tá chorando? Tudo fica escuro e em silêncio.

-Sant?, Sant? acorda minha filha, você precisa voltar. - Escuto meu pai me chamando e não acredito, abro os olhos rapidão, to deitada no campinho de futebol na favela. Olho em volta e vejo meu pai sentado do meu lado, não entendo nada.

-Caralho coroa, é tu mermo? tá maluco po - Me jogo encima dele, e abraço, que saudades, ele me abraça.

-Ta chapando? sou eu merma cria- Ele fala e me olha.

-Isso é um sonho? porra que maluquice é essa, eu vi tu morrer mano. - Falo e já levanto, quero entender o que tá acontecendo, tá mandando.

-Desculpa ter te deixado, eu tentei avisar, alertar, mas como, cheguei tardao, armaram pra mim po, me perdoa pelo o quê aconteceu com sua mãe. - Ele fala, e fico sem entender, nessa hora vejo minha coroa atravessando o campinho e vindo até mim, tá maluco, já começo a chorar.

-Mae, eu sinto tão sua falta po, de você me guiando, até dos puxão de orelha, papo reto, me perdoa por ter virado traficante, só queria te encher de orgulho, e vingar vocês - Choro abraçada a ela, tá maluco.

-Ei, eu sigo todo seus passos minha filha, ilumino todos seus caminhos e passos, você é minha filha querida e amada, Deus está trabalhando para tirar esse ódio do seu peito, mas você me orgulha tanto, minha menina crescida. - Ela fala fazendo um carinho no meu cabelo, não quero sair daqui nunca, papo reto.

A gente deitada ali no campinho, eu deito com a cabeça em seu colo, meu coroa no lado, nunca me senti tão bem, papo reto.

-Você precisa voltar Sant, a comunidade precisa de você cria. - Meu pai fala e me olha.

-BG e Danca dão conta po, quero ficar aqui, com vocês, eu já fiz tudo que tinha que fazer mermo, tenho medo da morte não po - Eu falo, sinto o carinho da minha mãe no meu cabelo, como que eu vou embora daqui? vou nada.

-Oh minha filha, você ainda não cumpriu sua trajetória, confia na sua mãe, Deus vai te dar tanta sabedoria, você ainda tem muito o que viver. - Ela fala com tanta certeza, queria entender isso.

-Nao estou entendendo esse papo torto aí não. - Namoral, minha cabeça e peito tá começando a doer.

-Sant, quero que pegue a visão, vários mandados vão tentar te derrubar, vão tentar te tirar do poder, mas você é a dona do seu destino, não deixa ninguém te tirar do seu trono, você ainda ainda vai descobrir muita sujeira, você precisa voltar, eu queria que ficasse aqui, mas o morro precisa de tu, vai e faz teu corre minha cria. - Meu pai fala e faz um carinho na minha mão, não estou entendendo.

-Papo reto, não estou entendendo não pai, fala a fita claro po. - Reclamo com ele que ri, namoral to cheia de ódio já.

-Sempre tão ansiosa, acalma o coração filha, ainda não chegou sua hora, eu preciso ir, nunca se esqueça que teu velho vai tá sempre do seu lado. - Ele me dá um beijo na testa e sai andando, o chamo várias vezes mas ele some, olha pra minha mãe que me olha tão cheia de amor.

-Eu também preciso ir, a gente só veio te dizer que te amamos muito, que temos orgulho da mulher que se tornou e está se tornando, acalma teu coração e mente, muitos vão entrar no seu caminho, vão tentar destruir um amor tão lindo e puro que ainda não sabe a força que tem, mas você vai descobrir. - Porra, porque estão fazendo isso comigo?

-Mãe, não vai, por favor, fica mais um pouco, tenho vários bagulho pra te contar.- Falo e começo a chorar feito bebê. - Queria tanto que estivesse aqui, eu conheci mãe, conheci uma garota linda, eu gosto de ficar perto dela, de conversar com ela, de implicar, eu acho que é ela, lembro da senhora dizendo que um dia eu ia encontrar alguém que me fizesse sentir uns bagulho fortao, acho que sinto isso com ela.- Conto tudo pra ela mermo, ela só me olha e sorri, me dá um beijo demorado na testa, fecho os olhos e curto aquele momento de paz, quando abro os olhos ela também se foi.

Fico sem entender, eu não lembro o quê aconteceu, ou como vim parar aqui, mas eu preciso voltar, não sei como, saio do campinho, e começo a andar pela comunidade, não tem ninguém, tudo vazio, que porra é essa maluco.

Vou andando entre os becos, começo a escutar vozes, tão longe pra caralho, mas to ouvindo mesmo, vou passando pelos becos até chegar na boca, me assusto vendo a cena, eu na laje olhando a vista, Danca com o fuzil correndo me gritando, escuto um barulho alto de tiro e o Danca gritando, não vejo de onde veio o tiro ou quem atirou, me vejo caindo com a mão no peito, sinto uma dor absurda, grito e caio em sono profundo outra vez.

Abro os olhos devagar, olho pro lado e dessa vez meu corpo obedece, to num quarto de hospital, tento mexer os braços mas to fracona, caralho, olho pro outro lado com cuidado, essa luz da porra tá doendo meu olho. Vejo Malu ali deitada na poltrona dormindo, sorrio fraco, minha de raça. Tento me levantar e solto um gemido de dor.

-Caralho - Esbravejo de dor.

-Sant!? SANT PORRA VOCÊ ACORDOU CARALHOO - Malu levanta num tiro e se joga encima de mim gritando, caralho que dor, tudo dói, ela beija meu rosto todo.

-Ih qual foi? que melação do caralho é essa? - Pergunto fraco implicando já.

-Caralho mano, acabou de acordar e já tá enchendo o saco, vou chamar o médico. - Percebo que ela tá chorando.

-Vem cá feia. - Puxo ela e abraço, tava com saudade, tá maluco, onde o sangue dessa aqui pingar o meu vai jorrar, ela começa a chorar muito, sinto as lágrimas dela no meu pescoço. - Ja era mano, to aqui po, vivona, já passou, te falei que vaso ruim não quebra, vou te deixar sozinha nesse mundo não.

-Eu senti tano medo, tanto medo de perde você, nunca mais faz isso comigo, ou eu mesma mato você. - Ela me dá um tapa fraco no braço e se afasta.

-Ai, to doente aqui mano, e você me batendo, chama o médico ai, to fraca pra caralho, uma sede monstra. - Falo e ela aperta um botão do lado da cama, levo até um susto quando umas 3 cabeças tudo vestido de branco entra na sala, mesmo deitada sem se mexer, vejo que to num hospital de bacana, não sei como vim parar aqui não, lembro de porra nenhuma, só que preciso voltar pro morro, e ficar na atividade o maluco que fez isso vai pagar, vou pegar bolado, vai ser cobrado da pior forma, agora o proceder vai ser outro, vou ser pouco mano, sem leme.

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Já posso pedir meta, ou tá cedo ainda?

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