Capítulo 04.

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Me levanto assim que olho o relógio: já passou das onze

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Me levanto assim que olho o relógio: já passou das onze. Coço os olhos, fecho o livro que estava mergulhada por horas, e deixo-o na estante. Minha barriga ronca pela milésima vez, a fome apertando como se minhas entranhas estivessem se retorcendo. Meu pai veio ao meu quarto esta noite, mas eu fingi estar dormindo. Não queria conversa, não queria mentir, nem omitir. Só precisava de silêncio, de ficar sozinha no meu canto, esperando que eles dormissem.

Desde que voltei do colégio, dediquei-me a uma das três redações que o professor Kelleman exigiu. Quando finalmente terminei, mergulhei no meu livro e fiquei ali, devorando cada página até agora. Não desci para o jantar. Na verdade, não desceria nem que me pagassem. Minha paciência com as provocações de Adeline e Norma está por um fio, e a última coisa que quero é explodir na frente do meu pai. Sinto que um surto está à espreita, esperando o momento certo.

Levanto-me com cuidado e caminho silenciosamente até a porta do quarto. Giro a maçaneta com a delicadeza de quem teme acordar fantasmas, me esgueirando pelo vão estreito da porta. Encaro o corredor envolto na escuridão, todas as portas fechadas, e o silêncio pesado que envolve a casa. Amo esse silêncio, é meu refúgio. Na ponta dos pés, desço as escadas. As meias amortecem meus passos, tornando-os imperceptíveis. Ao chegar à cozinha, respiro fundo antes de abrir a geladeira, o frio da luz interior iluminando meu rosto cansado.

Nada parece realmente apetitoso, mas a fome me obriga a escolher algo. Pego um pedaço de queijo e uma maçã, fechando a porta com cuidado para não fazer barulho. O silêncio ainda reina, e eu me movo lentamente até a bancada, onde deixo os alimentos enquanto procuro uma faca e o pão. Corto algumas fatias de queijo e coloco sobre o pão, em seguida fecho o "sanduíche" e coloco pra aquecer na sanduicheira. Enquanto espero, como a maçã.

Minha mente começa a divagar. Tento ignorar o sentimento de exaustão mental que me acompanha desde... sempre. Adeline e Norma, com suas piadinhas cruéis e risadas debochadas... Não me importaria de nunca mais vê-las, mas sei que amanhã terá mais do mesmo.

E meu pai... Ele sempre parece tão distante, tão envolto em suas próprias preocupações. Não posso culpá-lo, acho. Ele tem as dele, eu tenho as minhas. Mas, às vezes, sinto que ele deveria perceber, deveria enxergar como estou à beira de perder o controle. Quer dizer... Um pai deveria observar os comportamentos de uma filha, certo?

Assim que o pão está pronto, o envolvo em um guardanapo e pego um copo de suco na geladeira, subindo as escadas da mesma forma que desci: em silêncio. Ao chegar no quarto, fecho a porta e caminho até a janela. Sento-me na cama embutida, cruzando as pernas, enquanto observo a quietude lá fora. A rua está deserta, as casas vizinhas com todas as luzes apagadas. As únicas coisas que se movem são as árvores, balançando suavemente ao vento. Dou uma mordida no pão e respiro fundo, sentindo a tranquilidade me envolver aos poucos.

 Dou uma mordida no pão e respiro fundo, sentindo a tranquilidade me envolver aos poucos

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