Inalo uma tragada profunda, sentindo a fumaça se espalhar por meus pulmões enquanto meus olhos permanecem fixos na janela do segundo andar. A casa está envolta em escuridão, cada canto engolido pela penumbra, e já passa da meia-noite. A família dela, com certeza, já está dormindo. Mas ela... hoje, de novo, não apareceu. Nem uma única vez. Ela sempre aparecia, nesse horário, com algo nas mãos, comendo qualquer besteira. Por que ela come tão tarde? Será que não janta? Ou janta e ainda sente fome?
Eu não sei ao certo quando comecei com isso... essa obsessão. Só sei que não consigo me afastar. Tentei várias vezes agir como alguém normal, me aproximar de um jeito simples, natural. Mas ela fugia. Sempre fugia. E aqui estou eu...
Descobri, ao longo dos anos, que a única maneira de conseguir sua atenção era tirá-la do sério. E eu me tornei bom nisso. Passei anos me aperfeiçoando, tornando-me mestre em testar seus limites. E, mesmo assim, o que recebo é o mínimo de sua atenção, o suficiente apenas para ela me notar antes de desaparecer de novo. E isso me fez odiá-la.
O que a surpreenderia? O que, neste mundo, realmente despertaria seu interesse? Porque, até onde vejo, ela não se importa com nada. Nem consigo mesma. Nem com os outros. Nem com o que acontece ao redor.
Eu sempre observei, sempre estive de olho nela, mas nunca deixei que percebesse. O controle estava em minhas mãos, a distância me protegia. Só que quando o Chase decidiu colocar as mãos no que deveria ser meu, algo em mim mudou. O ódio cresceu, queimando por dentro. Ela dava atenção a ele. Aquele babaca prepotente, cheio de si, e nem sequer me olhava.
Que merda é essa? Ele, o queridinho, filho do prefeito, recebendo os olhares e sorrisos dela, enquanto eu... nada. Sou digno apenas do seu desprezo, e idiota o bastante pra me contentar com isso. Não sou filho de ninguém importante, certo? Tudo bem, princesinha mimada. Vá pro inferno então.
Trago mais uma vez, sentindo a brasa quase tocar meus dedos. O calor me incomoda, e com o cenho franzido, jogo a bituca no bueiro. Subo a máscara cobrindo o rosto. Enfio as mãos nos bolsos e dou alguns passos à frente, me aproximando da árvore. A mesma árvore de onde resolvi aparecer aquele dia. E que droga, que merda colossal eu fiz. Não devia ter chegado tão perto, não devia ter me mostrado, não devia ter corrido atrás dela, e nem pressionado na escola.
Já se passaram duas semanas. Duas malditas semanas, e desde então, ela sumiu. Não apareceu mais na janela. Uma luz permanece acesa, fraca e amarelada, no quarto. Às vezes, vejo sua sombra se mover lá dentro. Toda vez que acontece, meu coração dispara. O que ela faz a essa hora?
Pelo que percebo na escola, ela gosta de ler... deve ser isso, está lendo. Ou talvez assista a séries, quem sabe filmes. Que tipo de filmes será que ela vê? Penso que, se ela me desse uma chance, eu a levaria ao cinema algum dia. Mas isso nunca vai acontecer.
Será que ela desenha? Ou... vai saber, ela já é bem crescida, talvez passe um tempinho explorando o próprio corpo. Deus, eu daria qualquer coisa pra ver um pouco disso. Mataria alguém, fácil. Mas não... não pode ser. Ela nunca pensaria em mim desse jeito. Ela me odeia. Então, em quem será que ela pensa? No Chase? Não, acho que não. Se fosse por ele, seria mais fácil ele aparecer por aqui, fazer algo pessoalmente.
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MIDNIGHT CLUB - #1
RomanceEnemies/Haters To Lovers + Dark Romance • Esta história é completamente autoral e não aceito cópias, plágio é crime! Damon Campbell é um vício disfarçado de pesadelo. Obcecado por Angel Miller, ele vive para provocá-la, transformando cada interação...