Capítulo 25

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Bangkok, Tailândia.
Templo de Wat Phra Somdej.

Flashback no Templo de Wat Phra Somdej, Séc XVIII.

"O aroma de incenso suave ainda pairava no ar do templo, enquanto Phra Somdej, caminhava lentamente em sua postura serena. O templo, um lugar sagrado que tantas vezes abrigou momentos de paz e conexão espiritual, tornava-se agora um palco de visões sombrias e dolorosas. Seus olhos presenciavam uma tragédia, após um disparo...

Ele via Kanya, a jovem e radiante, ajoelhada diante do altar, suas mãos unida em preces silenciosas. Aquela alma que vinha frequentemente ao templo, tão devota, tão pura, buscando não apenas méritos, mas um futuro em que pudesse estar junta novamente de sua amada — um futuro que não era permitido nesta vida, e foi interrompido. O monge líder que foi julgado por acobertar o amor proibido pela sociedade, mas que brilhava com uma intensidade que nem mesmo os deuses poderiam negar.

Phra Somdej a viu oferecer méritos, assim como as viu juntas muitas vezes no templo, seus corações pulsando com um desejo silencioso, mas profundo. Ele foi os olhos abertos que os deuses o enviaram para aquele trágico episódio. Presenciando tamanha crueldade, então, aquela bala atravessava o peito de Kanya, deslizava como a lâmina de uma espada, queimando dentro dela até a morte.

Ele sentiu a onda de desespero quando o som seco e brutal do disparo cortou o ar, ecoando nas paredes do templo. O corpo de Kanya tombou, o olhar vazio se apagando diante dele. Phra Somdej estava lá, seus olhos testemunhando o que a própria Kanya não poderia compreender nos instantes finais: o assassino. A sombra daquela pessoa que era tão próxima da mulher que Kanya amava, o dedo ainda no gatilho, o olhar frio e impiedoso.

O tempo para ela parou. O monge, impotente, viu a vida de Kanya se esvair, um sopro que os deuses não puderam salvar. Ele não conseguiu esquecer o momento, a alma dela partindo enquanto seus desejos, suas preces, ficavam pendentes, inacabados. O templo, que tantas vezes as acolheu, agora estava marcado pelo sangue de uma tragédia.

Phra Somdej segurava aquela visão como um fardo. Ele ainda ouvia o eco das preces de Kanya e via seu corpo sem vida, enquanto rezava silenciosamente, com as palavras que ela sempre murmurava: "Que nos encontremos de novo, em outra vida, onde possamos ficar juntas sem medo."

Mas o monge sabia que, enquanto o destino cruel permanecesse, esse encontro ainda estava além do alcance de Kanya. Ela não via, não sabia quem a tirou deste mundo. Ele, porém, viu tudo. A verdade ardia nele como o fogo de uma vela, uma chama que nunca se apagaria."

Charlotte ouviu os sussurros, ela olhava desperada ao redor, chegou a caminhar em volta da estátua, procurando aquela voz. Aquele som... Tão familiar. Ela olhou para Engfa travada em frente a estátua, com os olhos fechados, como se suplicasse para que aqueles sussurros parasse de incomodar. O ponteiro do relógio que ficava no alto do topo no Templo, alertava o próximo som de sino.

Niran...Niran... Niran.

Ela ouviu novamente. E depois, de novo, e de novo. Charlotte se ajoelhou em frente a estátua, em prece diante a mesma. Fechou os olhos, e de repente um novo cenário.

Déjà-vu: "Passos lentos e firmes, a voz de homem alto e forte, chamava o nome de Niran, um toque gentil mas ignorado por ela.

Ela não conseguia olhar em seu rosto, e mesmo que fizesse isso, não enxergaria quem era. Mas aquela voz, era grossa e assustadora. O homem a cortejava, Niran sentia aflita perto dele."

O sino tocou, o templo ecoava o seu som por todos os lados. E lá estava, Charlotte ao abrir os olhos se viu ajoelhada, tentando se recuperar daquela sensação. Ela se levantou devagar, suspirou fundo e encarou a mulher mais velha ao seu lado.

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