CAPÍTULO 50

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-- RESPONDE, PORRA! – Grita irritado, fazendo a criança dentro do cesto chorar

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-- RESPONDE, PORRA! – Grita irritado, fazendo a criança dentro do cesto chorar.

-- Não sou surdo. – Resmungo e começo a fazer leves balançadas no cesto. – Minha mulher. – Ou ex, talvez.

Os dois se entreolham e o chefe bufa, mas noto que dá um sorriso de lado, se sentando na cadeira velha dali. Enquanto o outro revira os olhos e joga o celular ao meu lado, ainda apontando a arma.

-- Então você é o homem que ela nunca dizia quem era. – Faz careta.

-- Então você é o homem que ela ajudou. – Faço o mesmo que ele.

-- Ela disse sobre mim? – Sorria abertamente como a porra de um moleque apaixonado.

-- Você tem a idade de ser filho dela, moleque. E sim, tive o desprazer de saber sobre você. – Resmungo, não querendo prolongar essa conversa.

-- Está com ciúmes de mim, velhote? Sei que ela é uma maravilha, mas somente fazia graça para tirar onda com ela. – Dá de ombro. – Não a vejo com outros olhos. Ela me lembra muito a minha mãe. – Ah, pronto, outro! – Somente não vou fazer nada com você por ela, por ter salvo a minha vida e não ter tido a chance de retribuir. –

-- Humm...—É o que falo.

-- Mas que merece uma surra, chefe. Esse aí merece. – O outro comenta, me encarando. – Pelo que eu sei, os dois estão há um mês sem se verem e nem se falam. ---

-- Como sabe disso?—O branquelo pergunta.

-- Estava com ela esses dias no ponto. – Comenta e vejo suas bochechas ficarem avermelhadas mesmo na pele morena quando o outro o encara. – Para ela não ficar sozinha, notei um carro estranho todos os dias. Eles estão aqui com ela. – Dá de ombro.

-- Carro preto, fume?—Pergunto estranhando.

-- É. – Diz sem vontade alguma. – Ela me contou o que estava acontecendo entre vocês e posso dizer, você é um vacilão! Eu obriguei ela a ficar aqui para salvar o meu irmão. Somente dei o celular para na manhã seguinte. Voltou somente para dar um remédio de dor e foi embora, nunca mais pisou aqui. – Conta enquanto acende uma maconha.

-- Não acenda isso. Não sei se notou, mas tem um recém-nascido aqui que precisa ir ao hospital; está com o problema respiratório. – Me ignora e continua, mas o outro toma de sua mão.

-- Você vai ficar aqui ainda, cana. Vamos ver o que fazer com você, mas não se preocupe, morrer você não vai. – Reviro os olhos.

-- Nossa, me sinto bem melhor com isso. – Falo bufando.

-- Sabe? Eu poderia meter uma bala no meio de sua cara, mas não vou fazer isso por ela. Então, seu filho da puta, seja grato com isso! Sabe o quanto a sua cabeça está valendo? – Zomba e o encaro. – Um dos seus está contra você e está desesperado para arrancar a sua cabeça. Recusei por saber quem você é, mas estou começando a me arrepender. Camila fira bem sem você, pode ter a mim, poso ser um bom pai, cuidei desse pirralho. – O olho irritado.

-- Toca nela, que fica sem suas mãos. – Deixo claro. Naquele momento não estava mais ligando para nada.

Os dois dão risada e bufam, me virando para o bebê no cesto, tirando o pano de seu rosto pequeno, e o mesmo estava um pouco avermelhado, tentando puxar o ar, mas não chorava e nem resmungava, chamando a nossa atenção.

-- João Pedro? Chame ela aqui. – Pede se levantando e vindo até mim, enquanto eu tentava ajudar a criança de alguma forma.

-- Ela nunca que vai vim. Temos que o levar, não tem nada que ela vá fazer aqui que possa ajudar. – Confirmo com o que o outro disse.

Olho para o projeto de dono e o mesmo encarava o bebê, mas bufa e confirma. Me levanto, deixo a cesta e o enrolo na manta que estava escondendo. Saí da salinha às pressas, descendo o morro, sentindo a criança começar a se remexer como se estivesse desconfortável, mas ao olhar, notei que a respiração tinha parado.

Aumento os meus passos e, na entrada, vejo meus homens mirando para tudo que é lugar, tentando acionar o rádio que estava no meu peito, mas não dou atenção e continuo correndo na direção do hospital.

As pessoas à minha volta me encaravam confusas e até mesmo assustadas; não as culpo. Um homem de um metro e noventa e pouco, quase dois metros, com roupa de polícia correndo com um bebê nos braços gritando aos quatro cantos para saírem da frente, até eu ficaria assustado.

Assim que me aproximo do hospital, entro atropelando quem estava ali na frente e já não estava sentindo a criança se mexendo.

-- ME AJUDEM AQUI. – Grito chamando o médico que reconheci. Ele estava cuidando do meu caso.

-- O que aconteceu com ele, senhor Mon... – Se cala ao ver a criança albina.

-- Não é tempo de ficar surpreso, doutor. – Falo irritado. – Recém-nascido, teve uma parada cardíaca por conta de ao nascer, o cordão umbilical estava em seu pescoço, apresentou sinais de dificuldade para respirar, mas não teve como o trazer antes e piorou. – Conto tudo às pressas.

-- Ele está tendo outra. – Coloca um negócio de ouvir o coração no pescoço e se vira para uma das enfermeiras. – Preparem para mim uma incubadora; ele vai para lá. – Eles pegam o menino no meu colo e o colocam em uma maca.

Conseguia ver que estava voltando a ficar roxo e sinto meu peito apertar por uma criança tão pequena já passando por isso. O que me leva a lembrar do Karlos quando era criança, ele era tão chorão e barulhento, tão diferente desse menino que nem completou um mês e já está sofrendo.

Tento ir na direção que estavam levando a criança, mas sou segurado pela enfermeira que diz para esperar onde tinha algumas pessoas e mesmo não querendo, me sento na cadeira e respiro fundo, me sentindo cansado.

A porta do quarto à minha frente é aberta; não dou importância e fecho os olhos, encostando minha cabeça na parede, mas ao sentir um cheiro conhecido, abro e olho na direção de onde vinha, vendo Bruna sorrindo e escrevendo algo na prancheta.

-- Tá bom, senhor Paulo. Só não beba mais cândida achando que é 51, cheire antes. – Sorri se virando para nós de fora.

Quando ela olha na minha direção, seu sorriso se desfaz e ficamos nos encarando sem dizer nada um para o outro. Olho para ela de cima a baixo sentindo saudades, mas paro ao ver que algo estava diferente nela.

Os seios estão um pouco maiores e mesmo não tocando, poderia ver que estavam inchados e rígidos, seu corpo um pouco inchado, principalmente na região da cintura para a barriga.

-- Bom, senhores. – Se vira para o pelo que dá para ver, os familiares e sorri, me ignorando. – Ele está bem, o organismo dele foi limpo, somente de coisas leves para ele e não o deixe ficar comendo coisas muito pesadas. –

-- Obrigada, enfermeira Bruna. ¿Podemos entrar? – Ela confirma e dá passagem para eles poderem entrar.

-- Até mais. – Sorri para eles e fecha a porta quando os mesmos entram.

Anotando algo na prancheta novamente, Bruna começa a andar para ir embora, mas por reflexo, segurando o braço dela, ela para e suspira baixo.

-- Preciso trabalhar, Montenegro. – Diz olhando para frente.

-- ..... Podemos conversar? – Pergunto receoso.

Sei que se não tomar a iniciativa para podermos conversar, ela nunca irá dar o braço a torcer e vir por si própria, claro, ela não tem obrigação nenhuma, já que quem fez merda fui eu, ou pelo menos, em parte.

-- Eu preciso trabalhar, Montenegro. — Repete. – Tenho os pacientes para .... – Luzes vermelhar começam a acionar e médicos com enfermeiros correm por todo lugar, uns indo na direção que o neném foi, enquanto outros para a entrada onde uma ambulância para na frente e sai com um homem na maca.

-- PRECISAMOS DE AJUDA AQUI. ELE ESTÁ ENTRANDO EM CHOQUE! PERDENDO MUCHO SANGRE. – Um médico entra gritando por ajuda.

Na sala, onde o neném estava, entravam muitos enfermeiros, cada um com algo diferente na mão. A cada minuto, o hospital estava ficando um caos, e quando vou na sala que estava o neném, noto de relance o homem na maca e algo em sua mão que estava largada ao lado, quase largando.

Sinto o meu peito apertar e corro até lá, vendo Bruna vindo logo atrás, largando a prancheta no chão. Ao me aproximar, acabo dando dois passos para trás ao notar quem era.

Karlos?

Ele estava de terno preto, mas naquele momento estava manchado com um líquido escuro e um buraco no peito e o outro no abdômen. Suas mãos estavam manchadas de sangue, assim pingando no chão enquanto segurava a correntinha que dei a ele quando tinha somente cinco anos.

Me aproximo dele, mas o médico tenta me tirar. Seus olhos se abrem minimamente, mostrando a imensidão azulada dele.

-- Tra…idor... Ma... – Seu corpo se treme, mais sangue sai de sua ferida...

Ali já parecia morto, seu tórax nem se quer mais se levantava, seus lábios estavam pálidos e quando o médico colocou os dois dedos em seu pescoço...

-- Sem pulsação. – Meus olhos estavam marejados; não conseguia mais me mover.

Mas vi quando Bruna subiu na maca e começou a fazer o procedimento cardíaco para voltar, enquanto os outros empurravam a maca para o corredor que vim correndo.

Não me movia, meu corpo não estava mais me obedecendo. Tudo estava calmo e tranquilo de certa forma há algumas horas atrás. O que deu de errado?

Ouço o rádio no meu peito apitar, mas não estava dando para entender e também naquele momento não estava ligando. Estava chiando muito, mas conseguia ouvir pequenos tiros no fundo.

Ele tentou dizer algo, mas o quê?

Sei que ele quis dizer traidor...

Ma... Ma, o que?

O rádio apita novamente, me tirando do transe que estava, e ouço a voz do Max me chamando.

-- Chefe? Na escuta? Tentamos sair do morro, mas estão atirando e não é o grupo Paraisópolis; parece que estão cercando. – Inform. – Estão à procura de alguém. – Sua respiração ofegante diz que estava correndo.

Ma...

As informações que Samuel me mostrou sobre Max e Fabiano vêm à tona, ainda mais com o que acabou de ocorrer.

Por qual motivo eles parariam de atirar e depois retornariam? Não tem sentido isso. Tem algo de errado.

-- Eles estão com armamentos de polícia. – Fabiano se pronuncia dessa vez.

-- Senhor? Mataram o segundo no comando do morro. O chefe deles está fugindo para o lado esquerdo, estou com ele na mira, posso atirar? – Outro policial diz e a imagem do moreno aparece.

-- ...... Não. Quero ele vivo. – Finalmente digo.

Ainda parado, fico olhando na direção que Karlos foi, me sentindo um filho da puta. Se algo acontecer com ele, se ele não voltar daquela sala, nunca irei me perdoar por falar e fazer aquelas coisas com ele, por levantar a mão para ele, por dizer que não era o pai dele.

Não sei há quanto tempo estava encarando aquele lugar, mas eu pisco algumas vezes quando sinto tocarem no meu braço e pelo perfume, sei quem era. A olho, mas a mesma se afasta fazendo careta e coloca a mão na frente da boca, como se impedisse de vomitar.

-- Ele entrou na sala de cirurgia agora. Seu estado é bem grave e delicado, sendo que o médico disse que seria um milagre ele acordar e não ter nenhuma sequela... Se sobreviver. – Me encara depois de respirar fundo.


-- Ele não pode ir, Bruna. Tenho que falar com ele ainda, tenho que pedir desculpa pelo que falei e fiz... Meu filho não pode morrer, pequena. – Já não segurava mais as lágrimas, deixava escorrer à vontade.

-- Ele vai ficar bem. Acredite em mim. – Me encara e abraça, me deixando mais relaxado, mas ainda sentia o peso em meus ombros. – Eles estão precisando de você. – Toca no meu peitoral onde estava o rádio.

-- Eu não posso deixá-lo. – Acabo fungando.

-- Vou cuidar deles para você; não irei sair de perto. Eu prometo. – Sorrir, e é quando me lembro do neném. – Ele saiu e está incubado, mas está bem. – Sorrio de lado e confirmo. – Vão o alimentar agora. – Passa a mão no meu rosto, onde minha barba já estava um pouco grande. – Mas agora, eles precisam de você. – Mesmo relutante, confirmo, sabendo que ela tem razão.

-- Volto assim que tudo estiver resolvido sobre Paraisópolis. – Ela me encara por um tempo, parecendo pensar, e estava confusa, mas confirma dando um sorriso de lado.

-- Boa sorte e tome cuidado, Murilo. – Se aproxima mais e fica nas pontas dos pés, beijando a minha bochecha, e vai embora pelo corredor que veio.

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