CAPÍTULO 43

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As coisas já estavam fora do controle dentro desse quarto; era tantos minutos depois que o hospital inteiro podia ouvir

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As coisas já estavam fora do controle dentro desse quarto; era tantos minutos depois que o hospital inteiro podia ouvir. Depois que o Karlos chegou, vinte minutos depois meu pai entrou e atrás vieram os meus outros irmãos. Não sei se meu pai estava tendo um infarto, uma emoção ou um ataque de raiva; acho que tudo de uma vez.

Acho que não seria tanta emoção, já que ele olhou para Talles como se já o tivesse visto, o que ele mesmo confirmou para nós há poucos minutos. Mas a raiva, a que brilhava em seus olhos, essa estava sendo direcionada à mulher à sua frente.

Brayan estava ao lado de nosso pai, tentando o acalmar, já que estava com a sensação de que iria pular no pescoço da mulher. Breno estava sentado, olhando para o nada, como se estivesse processando tudo assim que viu o homem deitado na maca. Bernardo? Ele o olhava como se fosse um fantasma.

Tudo isso estava me deixando nervosa, e ao meu lado, as crianças também já choravam assustadas, o que eu tentava acalmá-los.

-- SUA VADIA DO INFERNO! VOCÊ ESCONDEU ELE ESSE TEMPO TODO? – Tenta se aproximar mais, mas Brayan o segura.

-- Ele é o meu filho. — Diz com soberba.

-- Claro! Fez com o dedo. – Zomba se irritando.

-- Senhor Martin? Eu não sei o que está acontecendo... Por parte eu sei, mas peço que merca suas palavras ao chamar a minha mãe, por favor. – O encara.

-- Um caralho que eu vou! O meu papo ainda não é com você, é com essa vadia na minha frente. – Ela sorri de lado.

-- Não superou, amorzinho? – Questiona.

-- Superar o que? Que você me deu chifre com o meu melhor amigo? Que o diabo o tenha. Ou, que, você tentou matar a minha filha? Que sequestrou, escondeu que o meu filho estava vivo, esses anos todo pensando que estava morto. – Diz entre dente.

-- Essa garota matou o meu filho, nosso filho, você deveria estar do meu lado, mas não, apoiou essa coisa. – Me olha de cima a baixo com nojo.

-- Continua olhando para a minha mãe assim, e a senhora vai conhecer o diabo mais cedo. – Tomo um susto e me arrepio com o modo que Karlos diz.

Nunca vi ele falando de um jeito frio com ninguém, nem mesmo quando ficava sério. Seus olhos estavam profundos e mais escuros, mostrando que não estava brincando com o que disse.

Coloco minha mão em sua coxa e aperto de leve, atraindo sua atenção para mim, que ao me encarar, sorri e suaviza, relaxando.

-- Estou com fome. – Diz resmungando. – Ah, podem continuar a drama familiar, somente vou pegar algo para comer enquanto irei assistir. – Beija a minha mão e sai do quarto mexendo no celular.

Karlos?

-- Mãe? – Ouço Talles a chama. – Do que a senhora está falando? O que aconteceu? Eu não me lembro da metade da minha infância; de duas semanas para cá, estou sentindo cada vez mais dor onde eu tenho a cicatriz e lembranças que nunca vivi, ou pelo menos não lembro, ficam martelando minha cabeça. –

-- Filho...— Ele a corta.

-- Não, mãe! Me conta a verdade. – Dessa vez manda com rigidez.

-- ..... Eles são seus irmãos e ele é seu pai. – Conta com desgosto.

-- Pai? – O chamo e o mesmo não me olha, encarando o nada. – Está na hora do senhor me contar a verdade, não acha? – Pergunto. – Sempre que questiono o senhor sobre isso, o senhor fica nervoso ou desvia do assunto. – Me encara.

-- ..... Sim.... Sim, eu menti e escondi a verdade de algumas coisas sobre você e para você. – Suspira, se virando todo para mim. – Sua mãe não morreu no seu parto... Paula não é a sua mãe. – Mordo os lábios. – Ela é somente dos meninos e morreu no parto do Brayan... Uns meses depois, eu acabei dormindo com uma garota. Estava bêbado, me afundei na bebida, estava perdendo o meu emprego e, quando a garota apareceu, disse que estava grávida de mim. –

Noto ele olhando de relance para aquela mulher que olhava para o chão, mas não demonstrava nada. Sabia que ele estava falando dela.

-- O menino nasceu e escolhemos o nome Talles, o nome do pai dela. Ela veio morar com a gente, acabei me acostumando e fomos construindo uma relação. Mas não era como se chegasse a nós amar ou algo do tipo. Depois de uns anos, ela engravidou de novo. Fiquei feliz; sempre quis uma família grande. – Me olha e vejo seus olhos lagrimejarem. – Descobrimos que era gêmeos... – Sorri de lado como se tivesse relembrando de algo. – Um casal, mas o menino não estava se alimentando direito, não estava ganhando as vitaminas que precisava e sempre estava escondido atrás da menina. –

Sinto que meus olhos borram ao ligar os pontos do que ele estava dizendo. Minha respiração já estava ficando alta e não tinha controle das lágrimas. Noto de canto Karlos entrando com batata fritas, mas ao me encarar, para de comer e se aproxima.

-- A menina estava pegando todo o alimento e vitamina para si... No parto, teve complicações e a primeira a sair foi a menina... Você. – Engole em seco. – Quando o menino nasceu, estava com o seu cordão umbilical envolto no pescoço. Os médicos tentaram reanimá-lo, mas estava muito fraco. – Já fungava. – Todos estavam felizes pela chegada de vocês, mas quando isso aconteceu, tudo mudou. – Limpa o rosto. – Sua mãe começou a ficar distante, não queria te amamentar e você também não pegava outros seios de outras mulheres. –

-- Devia ter morrido com ele! – Olho para ela e sinto o Karlos ficar rígido. – Ela o matou, por culpa dela! – Despeja seu ódio.

-- Cala a sua boca! – Bernardo manda ainda olhando para Talles. Mas olha para ela. – A culpa é sua! Que não se controlava com as merdas de cocaína que cheirava, bebia a torta à direita! Comia quando meu pai estava presente e quer falar alguma merda! –

-- O que? Quer vim bancar de irmão protetor?—Zomba.

-- Você começou a emagrecer demais, ficava doente com facilidade, por isso que até hoje é fácil de ficar. Tive que ficar forçando você a beber leite de vaca e, por um tempo, até ficar maiorzinha; funcionou. – Mordo os lábios. – Quando completou um ano, comecei a ver que estava adquirindo comportamentos estranhos, como chorar ao ficar no escuro e medo de ficar em qualquer tipo de água. – Suspira para continuar. – Com 3 anos caiu da escada e quebrou o braço, Talles, que sempre estava próximo de você, já que sempre estava atrás dele, começou a dizer que estava achando o comportamento da mãe dele estranho com maiorzinha; –

-- Mas você não acreditou... – Olho para Talles que olhava para suas mãos.

-- .... Não. – Vejo culpa em seus olhos. – Deveria, já que você é quem ficava com ela, cuidava dela. Eu estava mais ocupado com os seus irmãos que estavam entrando na adolescência e se metendo em encrenca... Mas aí um dia, eu cheguei em casa com o Talles e Bernardo da escola, e vi você na cozinha se esticando no fogão que estava ligado e a sua mãe ao seu lado, olhando... Dali, eu comecei a perceber. Brigávamos muito e daí mandei ela embora, mas como ainda tinha o Talles, que é o seu filho, vinha visitá-lo só que em uma noite... Todos estavam dormindo, você estava no quarto do Talles como sempre, mas ele levantou para beber água... – Se cala.

-- O pai, alguns minutos depois, também se levantou para descer e viu que a porta do quarto do Talles estava aberta e, quando foi para entrar, viu a velhota ali sufocando você com um travesseiro. – Ben dies.

-- Tirei ela de cima de você, mas estava muito fraca, já estava começando a ficar pálida e respirava com dificuldade. – Sua voz era baixa e sofrida. – Quando fui me virar para te levar no hospital, ela me acertou com algo pesado e acabei caindo atordoado. Isso deu tempo para ela sair com você e entrar no carro, só que não contou que o Talles estava no carro também. –

Olho para ele e o mesmo já me encarava, minhas fungadas podiam ser ouvidas do outro lado do corredor. Sentia as mãos do Karlos na minha nuca, fazendo carinho e beijando minha cabeça.

-- Quando consegui me manter em pé, saí correndo atrás de vocês. Tive que pegar o carro do vizinho; foi quando ouvi uma explosão... – Eu encaro, vendo suas mãos trêmulas. – Ao chegar no local, o carro estava em chamas e nada dos dois ...... Você estava jogada no asfalto, como se tivesse sido empurrada para fora antes de ele bater em um poste. –

-- Você quase morreu... – Bernardo conta, olhando para o chão. – Teve três paradas cardíacas, teve que ficar entubada e, por fim, a colocaram em coma. – Seus olhos brilhavam.

-- Os dois foram dados como mortos. Não consegui ver o corpo por conta de que estava em uma situação ruim. O policial, o que achei ser o meu amigo, me ajudou com tudo ... Fomos ao enterro, ficamos de luto e nada de você acordar... Passaram-se alguns meses e mesmo assim nada; os médicos já queriam desligar os aparelhos, você não estava reagindo com os remédios, não respondia a nada que faziam. Eles informaram que poderia ter algumas sequelas por conta disso. Por conta que ficavam te reanimando. – Se aproxima de mim.

-- Pai...—Tento dizer, mas nada saía.

O que iria dizer? Não conseguia nem lembrar disso. De nada, minha mente estava em branco, somente sua voz contando tudo o que passei quando ainda era criança.

-- Quando deu um ano e três meses, você finalmente acordou... Mas não lembrava de nada, não lembrava nem quem eu era. Com o tempo que ficou desacordada, fiquei com tanta raiva, me afundei mais nas bebidas, comecei a usar entorpecentes, seus irmãos não sabiam o que fazer... Me culpei por tudo aquilo, ainda me culpo... Joguei tudo fora e o que sobrou coloquei naquele quarto. Quando você fez doze anos, aquele papel que assinou era para mudar o seu nome. Tirei o sobrenome dela e somente ficou o meu. –

-- Mesmo você não lembrando do que aconteceu, acordava gritando e chorando... Chamando pelo Talles, mesmo nem sabendo quem era ele, papai proibiu a gente de falar qualquer coisa sobre ele perto de você. Quando você perguntou cadê a sua mãe, o pai não sabia o que dizer e falamos que a minha mãe era a sua e que morreu no seu parto. – Brayan diz baixo.

-- ..... Me desculpe, meu amor. Me perdoa, filha. Eu não queria esconder essas coisas de você, só não queria que você sofresse mais por algo que eu sou o culpado. Não aguentei ver e ouvir você chorando todas as noites e acordando o chamando. – Pega em minha mão. – Todas as vezes que falava desse assunto, eu me lembrava de tudo e fui covarde de dizer a verdade, me desculpe. –

Não sabia o que falar, não sabia onde olhar, me sentia sufocada e com dor de cabeça tentando lembrar dessas coisas. Beijo as mãos do meu pai e me levanto, saindo da sala, andando pelo corredor rapidamente, sem rumo.

Entro em um quarto qualquer e me sento na cama, olhando para o chão, e começo a chorar, chorar por algo que nem sabia o que era, ou pelo que.

Que patético.

Saber que tudo, pelo menos a metade, foi uma mentira, que meu irmão, que era para estar morto, está vivo, eu que era gêmea e supostamente sou odiada pela minha própria mãe por ter matado o meu irmão.

Ela provavelmente ficou com depressão pós-parto e quis descontar a sua raiva e tristeza em mim, a pessoa que matou o seu filho. Forjou uma morte para o filho e ela, fugindo com ele, e não foi somente eu que perdi a memória com tudo isso.

-- Para de chorar... Fica mais feia ainda fazendo isso. – Levanto a cabeça e vejo o Bernardo.

-- Não estou afim de brigar. – Falo voltando o meu olhar para o mesmo lugar que estava, chão.

-- Não vim para brigar. – Se senta ao meu lado, ficando em silêncio por uns minutos. -- .... Será tão estranho agora. – Suspira e o encaro de relance. – Para mim, ele estava morto e agora... – Suspira e sorri de lado sem humor. – Essa mulher causou um inferno nas nossas vidas. – Resmunga. -- ..... Sei que já pedi muitas vezes, mas como papai ensinou, nunca desistimos... Me desculpa por ser um idiota com você. – Olho para ele e quem estava olhando para o chão dessa vez era ele e tinha um pequeno sorriso. -- Sei que pensa que a culpo por algo, mas não culpo, seria um cretino idiota por culpar uma criança. – Arqueio a sobrancelha. – Tá legal, sou um cretino e idiota, mas não culpo você. Nunca. Somente me lembrava dele toda vez que olhava para você. Mesmo não lembrando dele, ficando pouco com o mesmo, você adquiriu todas as manias dele... Só descontava as minhas mágoas em você. Implico mesmo, você é a minha única irmã, tenho ciúmes, tenho medo de perdê-la também. – Uma lágrima sólida desce por seu rosto, mas limpa.

-- ..... É ciúmes ou inveja que eu gostava mais dele? -- Ele dá risada, se permitindo chorar um pouco em meio à risada. – Aceita, ele é mais gostoso e lindo que você. – Me empurra.

-- Se liga, Bruna. Ele é seu irmão!—Faz careta.

-- Manteemos o DNA da família. – Falo rindo, mas faço careta.

-- Você não presta. – Nega e me empurra novamente. -- ..... O outro não é tão ruim assim. – Fico confusa com o que diz. – O coronel. – Sorrio de lado.

-- Ele é um delícia, um gostoso. – Mordo os lábios.

-- Não quero saber desses detalhes nojentos, cara. – Revira os olhos, mudando de humor.

-- Coitada da mulher que você for se relacionar. Bipolaridade em dia, hein, meu filho. – Bufa se levantando.

-- Não dá para falar algo sério com você. Chata do caralho. – Me levanto rindo e vou indo atrás dele.

-- Calma, bipolar, quer um remédio? A base de paulada ou bucetada? Tem umas enfermeiras e médicas lindas aqui. Amaria telas como cunhadas. A maioria dos homens aqui são casados ou namora; a outra metade são os feios e vagabundos. Está fora de cogitação ter gente feia na nossa família. Vagabundos, bastas os que já estão nela. –

-- Sendo a primeira, você. – Diz virando outro corredor.

-- Está me chamando de vagabunda? Vou contar para o Ben. – Saí andando para o lado oposto, vendo de canto ele vindo correndo, dizendo que não foi o que quis dizer. – Vou falar mesmo assim. – Saí correndo quando o vejo me alcançando.

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