𝟗𝟎 ⌁ 𓈒 ֹ ANGELINA CORVETTI ˳ׄ ⬞

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Angelina ainda sentia o calor do abraço de Lorenzo a envolvê-la como um eco distante enquanto caminhava em direção à entrada da casa. Fez força para manter os olhos fixos na porta, como se ignorar o passado recente fosse suficiente para sustentar as rachaduras em sua fragilidade. Girou a maçaneta com uma delicadeza quase reverente e entrou, como quem espera encontrar alguém à sua espera. Mas a porta se fechou às suas costas, e o silêncio a acolheu com sua inevitável solidão.

Por alguns instantes, permaneceu imóvel, hesitando em acender a luz. Esqueceu-se, ou preferiu esquecer, que aquela luz não se acende sozinha. Poucas coisas na vida se resolvem sozinhas. Tudo exige um toque, um esforço, uma força que Angelina não conseguia reunir. Até mesmo apertar o interruptor parecia exigir mais do que ela podia oferecer naquele momento. Porém, esticou o dedo e apertou o botão que iluminou o ambiente.

Deu alguns passos para frente, deixando os olhos vagarem pela sala. Tudo estava quieto, como sempre ali. Mas aquele silêncio, tão familiar, agora parecia desolador. Havia tempos em que ela fazia do silêncio um refúgio: pintar em silêncio para que suas mãos encontrassem a verdade sem distrações; chorar em silêncio para evitar explicações que não queria ou não sabia dar; amar em silêncio porque o silêncio era seguro, incapaz de rejeitar. Mas até o silêncio, agora, parecia rejeitá-la.

O peso em seu peito tornou-se insuportável, e ela finalmente se permitiu desabar. Se liquidou em sua liquidez. As lágrimas vieram como um rio represado que encontra uma brecha, fluindo em sua solidão. Ficar parada na entrada do apartamento de Giorgia havia sido inútil; nenhuma pausa, nenhum instante de imobilidade poderia acalmar o turbilhão que rugia dentro dela. Era como um tornado, girando sem piedade, rasgando tudo por dentro. Sentiu-se nauseada, com a mão sobre o peito, como se quisesse segurar as peças que ainda restavam de si mesma.

O ar parecia escapar de seu alcance. Inspirar era um esforço infrutífero; seus pulmões não se preenchiam, seu nariz ardia, e o pouco ar que conseguia captar era quente demais, como fogo devorando por dentro. Seu corpo oscilava entre chamas e gelo, uma batalha interna de sobrevivência que a fazia tremer. Os olhos lacrimejavam sem controle, resposta de uma dor que era tanto da mente quanto da carne.

Era uma crise, e a ansiedade se instalava como um peso insuportável, transformando-se em mais um obstáculo no caminho que parecia não ter fim.

E ali, Angelina era só uma menina.

O sofrimento vem sozinho, com passos próprios e um destino certeiro. Não precisa ser chamado, não pede licença. Tem pernas firmes e sabe andar, encontrando o caminho até nós mais cedo ou mais tarde. É uma visita inevitável, que se instala sem aviso, trazendo consigo um peso que nem os mais fortes conseguem segurar.

Angelina olhou ao redor, buscando algo, qualquer coisa, que pudesse ajudá-la a se recompor. Mas a vastidão da sala parecia encolher, como se os próprios objetos ao seu redor sufocassem junto com ela. Os olhos, turvados pelas lágrimas, impediam-na de ver além da sua dor, de encontrar algo que oferecesse alívio. O ar, já escasso em sua mente, parecia evaporar completamente dentro daquela casa. Perdida e sufocada, arrastou os passos em direção ao jardim nos fundos, em busca de um refúgio.

A brisa que dançava entre as árvores veio ao seu encontro, tocando seu rosto como dedos invisíveis que a confortavam. Era fria, mas havia um acolhimento naquela frieza, uma calma que se mesclava ao calor das lágrimas que ainda escorriam pela sua pele. Por um instante, o vento parecia sussurrar uma promessa de alívio, mesmo que pequena, em meio ao caos que a consumia.

Ainda assim, Angelina lutava para respirar. Não apenas naquele momento, mas desde sempre. Respirar era sua batalha constante: sobreviver ao mundo rude da máfia, suportar a convivência áspera com seu pai, resistir ao egoísmo cruel de sua irmã, carregar o peso da saudade e da dor pela perda de sua mãe. Sobreviver a si mesma. Ela era uma guerreira de batalhas silenciosas, mas naquela noite, sentiu-se cansada demais para lutar com bravura. Pois Angelina, naquele momento, precisava apenas de um colo.

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⏰ Última atualização: 21 hours ago ⏰

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