𝟖𝟗 ⌁ 𓈒 ֹ LORENZO MATTIOLI ˳ׄ ⬞

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O som grave dos motores do jato particular reverberava no hangar vazio, um eco metálico que parecia refletir a tempestade de emoções dentro de Lorenzo Mattioli. Ele desceu do sedã preto com passos firmes, o olhar fixo à frente, como se cada pensamento fosse uma lâmina afiada. O vento gelado de Chicago chicoteava seu sobretudo escuro, mas ele mal sentia o frio. A raiva ardia quente em seu peito, alimentada pelo desprezo que Theodoro demonstrava por Angelina. O Don da Outfit tratava a jovem como um peão descartável, algo que Lorenzo simplesmente não podia aceitar.

Subindo a escada de metal que levava ao interior do jato, Lorenzo não dirigiu uma única palavra aos soldados que o acompanhavam. Ele não precisava. Sua presença e a tensão em seu semblante já diziam mais do que qualquer ordem. Assim que entrou na cabine luxuosa, com seus assentos de couro impecáveis e iluminação suave, Lorenzo arrancou o sobretudo dos ombros e o jogou sobre um dos assentos, como se o peso da peça refletisse a carga emocional que carregava.

Ele passou a mão pelo rosto, tentando controlar o tumulto em sua mente. As palavras de Theodoro ecoavam como um veneno: "Angelina é minha peça, não sua." Lorenzo cerrou os punhos ao lembrar, os músculos da mandíbula tensos. Como Theodoro ousava? Como alguém podia olhar para Angelina e não enxergar sua força, sua dignidade, muito além das manipulações egoístas de um homem obcecado por poder?

Ele se sentou, recostando-se na poltrona, mas sua postura rígida denunciava que a raiva estava longe de ceder. Quando Francisco entrou na cabine, Lorenzo apenas ergueu o olhar, sua expressão uma mistura de cansaço e irritação. Francisco era um homem discreto, leal até a última fibra de seu ser, e Lorenzo confiava nele como em poucos. Ainda assim, o Don não estava de humor para interrupções.

─ Don Mattioli ─ Francisco começou, inclinando-se levemente em respeito. Seu tom era sério, carregado de algo que Lorenzo não conseguia ignorar. ─ Há algo que preciso lhe contar.

Lorenzo arqueou uma sobrancelha, seus olhos castanhos fixos no homem como lâminas. Ele conhecia Francisco bem o suficiente para saber que ele jamais exagerava em suas palavras. Ainda assim, Lorenzo estava impaciente.

─ Fale, Francisco. ─ ordenou, sua voz grave e cortante, como se estivesse cortando a tensão no ar. ─ E espero que valha o seu tempo, porque, francamente, Chicago já consumiu mais do que deveria da minha paciência.

Francisco respirou fundo, ajustando a postura como se precisasse preparar-se para o que estava por vir. Com passos calculados, ele se aproximou e tomou o assento à frente de Lorenzo, mantendo a voz baixa, quase um sussurro, como se as paredes do jato pudessem trair sua confiança. Francisco não era homem de falar sem necessidade. Sempre fora leal, discreto, alguém em quem Lorenzo podia confiar tanto no campo de batalha quanto nos momentos mais delicados da vida. Se estava quebrando esse padrão agora, era porque o assunto era de extrema relevância.

─ Eu acredito fielmente que o filho de Donnatela não é do senhor...

As palavras caíram como uma bomba. Lorenzo franziu o cenho, seu corpo instintivamente inclinando-se para frente. Ele ajeitou a postura na poltrona, as mãos repousando sob a pequena mesa que os separava, os dedos entrelaçados com força controlada. Passou a língua pelos lábios antes de falar, o tom de voz medido, como alguém caminhando sobre gelo fino.

─ Por que acha isso, Francisco? ─ perguntou com cautela, mais curioso do que qualquer outra coisa. Não havia intenção de intimidar o soldado, apenas queria compreender a razão daquela afirmação ousada.

Francisco engoliu em seco, o nervosismo evidente em cada gesto. Suas mãos inquietas traíam a segurança que geralmente o definia, e seu olhar, que raramente desviava, vacilava enquanto ele começava a falar.

𝗙𝗜𝗥𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 - @𝗅𝟢𝗌𝗍𝗋𝖾𝗂𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora