Preço de um recomeço #Wattys2016

Capítulo 10

Assim que Peter se afasta digo furiosa.

- Puta que pariu, Marcello. Você tinha que se abrir todo pra esse cara?

- Calma, Gata. – ele retruca. – Qual o seu problema com o cara? Ele está sendo super atencioso com você desde ontem. Até flores ele te mandou.

- Você sabia que ele tem uma namorada?

- Uma? – ele faz uma cara de desdém. – Meu bem, ele pode ter uma dezenas de namoradas. Ele é Peter Louis. E está vindo atrás de você. Pelo amor de Deus. – ele se irrita comigo.- E da onde você tirou essa história de namorada? Eu não vi nada nas colunas sociais sobre isso.

Fiquei uns segundos em silencio e depois respondi secamente.

- Eu vi ontem na festa. Ele estava muito "próximo" de uma mulher. Intimo demais para meu gosto.

- Ah tá! – diz ele em tom seco também. – Agora está explicado o por que desse desdém todo com ele. Você está com ciúmes.

Faço uma cara muito feia pra ele e sei que entendeu o recado pra encerrar o papo.

Percebendo que eu não estava confortável com essa situação, ele baixou a guarda e me encorajou.

- Vamos fazer assim. – ele trama. – Se você não estiver confortável e quiser ir embora, você me dá um chute por baixo da mesa e eu dou uma desculpa e te carrego comigo.

Dou uma risada irônica e digo.

- Um chute? – dou um solavanco com meu pé direito e acerto sua canela. – Assim tá bom pra você?

- Ai! – ele solta um gritinho que mais parece uma criança. – Ok, eu já vi que você entendeu.

Nós rimos e paramos no momento em que vimos que Peter estava voltando.

- O garçom já vai trazer nossas bebidas. – diz Peter querendo ser simpático demais. E eu vou contar um segredo. ODEIO simpatia demais.

Que saco! E é nesse momento, que pela primeira vez, eu quase chuto a canela do Marcello para irmos embora. Mas me contenho.

O garçom chega com novas bebidas para nós. Ainda bem, porque minha caneca de chopp já estava vazia.

Eu não me controlo e pergunto ao Peter.

- Então, você costuma frequentar bares de rua? Nunca vi você por aqui antes.

Ele me avalia por um instante e responde.

- Realmente, Heloisa. Eu nunca estive neste bar e nem costumo frequentar bares de rua. – ele faz uma pausa e olha pra mim, dentro dos meus olhos. – A menos que a mulher que me interessa, esteja sentada em uma das mesas tomando uma bebida com seu empresário em plena sexta-feira á noite. – ele pisca pra mim e eu cuspo o chopp todo que estava na minha boca em cima do coitado do Marcello que estava na minha frente. É muita sinceridade pra uma pessoa só.

Marcello demorou pra perceber que eu havia molhado ele todo com meu gesto nada feminino. Ele também ficou embasbacado com a resposta tão inesperada de Peter.

- Oh meu Deus, Marcello. – digo pegando papeis na mesa para tentar limpa-lo. – Me desculpe. Acho que me engasguei com alguma coisa.

Marcello dá um riso frouxo.

- Não tem problema, Gata. – ele diz se levantando. – Vou até o banheiro e dou um jeito nisso. Já volto.

Ele se afasta e abaixo minha cabeça. Merda! Vou ficar sozinha com ele. Agora ferrou.

- Eu sou uma desastrada mesmo. – digo em um sussurro para mim mesma.

- Você está falando comigo? – pergunta Peter tentando disfarçar uma risada.

- Não, estou dizendo a mim mesma o quanto eu sou desastrada. – me viro pra ele. – Olha Peter, eu não sei qual é o tipo de jogo que você está fazendo. Mas não vai funcionar comigo.

- Eu sei. – ele dispara. - E é isso que me encanta em você.

Solto um suspiro de frustração e continuo.

- As flores são lindas, obrigada. Adorei dançar com você ontem a noite. Mas é só o que vai acontecer, entendeu? – faço uma pausa e olho pra ele. Ele está me encarando. – E ainda por cima você tem namorada, mulher, seja lá o que for. E eu preso demais a fidelidade, tenho problemas graves com traição. Em todos os relacionamentos.

- Eu não esperava outra coisa de você minha linda. – ele pega um papel e enxuga os cantos da minha boca, que com certeza estava molhados ainda do chopp. – Mas eu não sei do que você está falando. Que namorada, mulher, ou seja lá o que for, eu tenho? – ele aguarda minha resposta.

Neste momento Marcello volta para mesa.

- Pronto. Tudo resolvido. – ele diz.

Um som de celular tocando invade o ambiente. É o telefone do Peter. Ele faz um gesto com a mão pedindo licença para atender, e quando eu acho que vai se levantar, ele atende na mesa mesmo. Em um muito tom seco por sinal.

- Alô!

Alguns segundos se passam e ele responde.

- Eu sei dos meus compromissos. Peça para Andréia desmarcar e verificar qual será a data mais próxima da minha agenda e remarque. – mais uma pausa para escutar a outra pessoa. - Eu estou ocupado agora, um compromisso de última hora. – ele olha pra mim de relance. – Não, não precisa me avisar. Segunda-feira eu pego no escritório. – pausa novamente. – Ok, obrigada e bom final de semana.

Neste momento, pela segunda vez, eu quase chutei a canela de Marcello para podermos ir embora, mas pensei, o coitado já está todo molhado de chopp e saliva minha, não vou deixar ele manco com um chute meu. Esse pensamento, e as duas canecas vazias de Chopp, me fazem rir.

Eles olham para mim tentando entender do que eu estou rindo. Mas, como são cavalheiros, deixam esse devaneio passar em branco.

Peter tenta se explicar.

- Tinha uma reunião daqui a pouco, minha secretária estava louca atrás de mim. – ele dá de ombros. – As vezes ela me enche. – dá um sorriso fraco.

Reunião? Á essa hora? Em uma sexta-feira? E a secretária está no escritório dele tentando contato? – Rá rá rá... reunião com uma secretina dele, com certeza. – penso comigo mesma, já ficando furiosa. Preciso parar de beber.

- Ossos do oficio, não é? – diz Marcello sorrindo.

Peter devolve o sorriso mas sem responder a Marcello.

- Você estava dizendo que tratavam de negócios. – pergunta Peter para mim. – Alguma coisa boa?

Marcello já ia abrindo todo jogo pra ele. Não quero pessoas sabendo da minha vida por ai, nem mesmo a profissional. Mais rápido que eu consigo, eu interrompo.

- Sim. – digo vagamente. – Algumas propostas muito boas para mim.

Ele assenti e não estica a conversa.