Heloísa Sanches é uma mulher de 30 anos que se vê sem chão após uma grande decepção em seu casamento com Ricardo. Logo após a separação ela decide que vai tomar outros rumos na sua vida. Desiste de seu emprego, de sua vida no Brasil e decide se aven...
Um filme rodava minha mente. Já imaginava Joana e João juntos, Joana gravida, João escondendo toda essa sujeira da Fabi, João cuidando e bancando Joana e Marcos, João dando o pé na bunda da coitada, Joana indo embora, Joana voltando para cobrar o que é deles de direito.
Meu Deus! Que confusão!
- Mais ou menos. – Joana disse me tirando de devaneio.
- Como assim, "mais ou menos"? Ou a pessoa é ou não filho de alguém. – disse mais ríspida do que eu pretendia. E assim que eu tomei ciência disso me desculpei. – Desculpa, é que isso tudo é um baque muito grande pra mim.
Ela assentiu e olhou para fora, no parquinho, onde seu filho brincava.
O menino era saudável e parecia feliz. Totalmente alheio as merdas que circulavam ele.
- Marcos tem três anos. Quando conheci e comecei a me envolver com João, ele tinha meses. – ela voltou a me olhar e começou a chorar novamente. – O João não é o pai biológico de Marcos, mas é mais pai do que o verdadeiro.
Ainda confusa, tomei um gole de agua esperando ela continuar.
- Olha Heloisa, eu só vou te contar tudo porque sei que agora plantei a semente da duvida em você. – tomou folego e continuou. – Quando eu vim para NY, não conhecia ninguém e então fui procurar ajuda e trabalho em uma comunidade de modelos. Já havia modelado alguns meses no Brasil então sabia como funcionava. O fato é que depois de uns meses conheci um homem, que por ironia do destino também era fotografo, e nós namoramos um tempinho. – ela parou e suspirou. – Quer dizer, eu pensava que namorava ele, mas certamente ele não pensava o mesmo. Quando fui contar a ele que estava gravida, o canalha sumiu. Ficou uns tempos sem dar as caras. Com isso, consegui com meu antigo agente, que fizesse pelo menos trabalhos com fotos, já que não poderia desfilar com uma barriga imensa.
Olhei para mim mesma e imaginei que se ela tinha uma barriga imensa, a minha devia caber a via láctea inteira. Eu ri de mim mesma e Joana parou de falar.
- Desculpa, é que eu me imaginei desfilando com a minha barriga imensa.
Ela sorriu e continuou.
- Bom... durante a gestação e uns dois meses depois, me virei dessa forma. Fiz fotos até o sétimo mês de gestação e depois as minhas amigas e agente me auxiliaram quando precisei de ajuda. Quando voltei a fotografar, conheci João e o resto você já sabe.
Fiquei esperando mais, mas não veio.
- E o tal fotografo de quem você engravidou? Nunca mais teve contato com ele?
- Eu o encontrei algumas vezes, mas todas as vezes que eu dizia a ele que Marcos era filho dele, o desgraçado dava um jeito de rir da minha cara e me deixar falando.
- Se isso fosse no Brasil, você já teria colocado ele na cadeia. – eu disse e ela concordou. – Quem é ele Joana? Eu estou no meio fotográfico agora, quem sabe eu não trombo com ele por ai e quebro a cara dele por você.
Ela riu da minha indignação, mas a verdade era que eu encontrasse esse filho de uma puta eu realmente partiria a cara dele em dois.
- Pelo que eu vi nas noticias sobre você, - ela me olhou como se pedisse desculpa por ter procurado por noticias minhas e deu de ombros. – Você já o conhece.
Franzi a testa e olhei sem entender nada. Mas então, como se uma chave virasse no meu cérebro, eu soube.
- Theodoro Lynds. – foi uma afirmação. – É claro que foi aquele calhorda.
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Ela assentiu.
Então eu ri internamente lembrando da ironia quando Peter, Gabriel e eu supomos que Joana era uma Vampira e gostava de sangue de fotógrafos. Na verdade, quem tinha sugado a vitalidade da pobre moça, foi o desgraçado do Theodoro.
Engraçado como os papéis se invertem, não é?!
- Vocês...? – Joana me tirou dos pensamentos horrendos e ela nem precisou terminar.
- Não! Pelo amor de Deus, não! – disse rápido demais. – Ele até tentou, mas não cai nas garras dele, até por que tenho Peter.
- Sorte sua. – ela respondeu voltando a olhar para fora.
E eu fiquei sem saber se a sorte era não ter caído nas garras de Theodoro ou se era por Peter.
Deixei pra lá.
- Ok Joana, mas eu ainda estou confusa. – disse chamando a atenção dela pra mim de novo. – Se o João não é o pai verdadeiro do Marcos e vocês não tinham mais nada um com o outro, e eu espero que isso seja verdade, caso contrario ou vou até o Brasil, desenterro ele e o mato de novo, - Joana riu e eu sorri. – Por que você foi procurar por ele no prédio onde ele morava com a mulher?
Ela deixou a risada morrer mas preservou o sorriso carinhoso nos lábios. Era obvio que ela nutria esse carinho pelo homem que amou e cuidou de seu filho como se fosse dele.
- João era um homem e tanto Heloisa. – eu tinha minhas duvidas mas não ia descordar dela. – Quando nos conhecemos e ele soube de Marcos, ficou encantado. Mantivemos nosso "caso" mais por conta do meu filho, do que atração física propriamente dita. Marcos era o filho que João tanto queria ter já que a mulher se negava a engravidar, como você já devia saber.
Não, eu não sabia que a Fabiana tinha essa aversão por engravidar, mas eu não ia admitir que minha melhor amiga, irmã de coração, me escondeu esse detalhe. Se é que é verdade.
Agora não teríamos mais como saber.
Apenas assenti.
- Nós montamos nosso cantinho, um apartamento pequeno. Eu continuei fotografando e ele me ajudando no que eu precisava. – ela suspirou. – A Fabiana estava desconfiando que tinha alguma coisa errada e então João abriu o jogo comigo e disse que não teríamos mais nada mas que ele queria continuar ajudando e vendo o Marcos. Não me impus, mas eu precisei voltar ao Brasil á alguns meses e ele perdeu o contato visual com meu filho. – ela fez uma pausa e tomou um gole da sua agua que agora com certeza já devia ter esquentado. – Eu liguei para ele um pouco antes deles morrerem, disse que estava voltando e precisava da ajuda dele.
- Por que você voltou, Joana?
- Eu estou muito doente. Meu coração está cada vez mais fraco. Tenho problemas no Miocárdio. Sofri um infarto no Brasil, assim que cheguei lá, depois que me fortaleci um pouquinho, voltei para tentar um tratamento mais avançado aqui.
- Meu Deus! – peguei suas mãos por cima da mesa e apertei.
- Não tenho pais vivos, só um irmão que não deu muita importância para o caso. – ela deu de ombros. – Então quando eu liguei para João contando tudo e dizendo que eu voltaria, ele pediu um tempinho para contar toda a historia para Fabiana e então eles, os dois, dariam um jeito de me ajudar aqui.
Joana voltou a se emocionar, e agora eu sabendo de sua fragilidade no coração, fiquei preocupada com essas emoções todas.
Levantei de onde estava e me sentei ao seu lado e abracei Joana de lado, alisando seu cabelo e tentando passar um pouco de conforto.
- Você entende meu desespero agora, Helo? – ela disse ainda em meio as lagrimas. – Eu vim procurar ajuda e minha ajuda já não existe mais.
Não pude me conter e comecei a chorar junto com ela.
- Shiiii.... se acalma, nós vamos dar um jeito. Eu prometo.
*** Ainnnn... palmas para Heloisa que tem um coração tão grande quanto ela.