⚜ Capítulo 1 ⚜

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PARTE UM

Anabella Campbell, narrando.

"E se eu ficasse doente no lugar dela? Será que o meu coração iria doer menos?"
Anabella Campbell,
A plebeia coroada.

Eu diria que ainda não conheci o amor que desejamos sentir a cada segundo das nossas vidas. Os meus únicos momentos amorosos e cheios de carinho não foram sequer com um homem.

Todos esses momentos são com a minha tia e irmã. Os meus únicos motivos para continuar com a esperança de viver em Coralia. Minha tia se tornou uma segunda mãe e pai para mim. Já minha irmã é a única memória viva que eu tenho deles. - Invadindo meus devaneios, está à voz de tia Stela me chamando.

Acabo de me arrumar para servir mais uma vez a nobreza de Coralia. Estou vestindo uma saia violeta longa e rodada, uma blusa branca e meu único par de sapatilhas pretas. Esta é a melhor roupa do meu armário. Me olhando no espelho, me pareço com uma dama da nobreza. Apesar de estar transparente em meu olhar o lugar de onde sou.

A nobreza coraliana vive dizendo que os plebeus de Coralia são reconhecidos pelo seu olhar triste com olheiras roxas. Ainda que eu não tenha essa aparência, sempre me imagino com ela.

É difícil estar com roupas que não pertencem a nossa classe social, mesmo que seja simples como as minhas. Porque sempre vai ter algum nobre te encarando, mais do que nunca, com desprezo e raiva. Como se nós estivéssemos quebrando alguma regra. A maior delas, talvez.

Isto só vai piorar, contando com o fato de que logo o Seja Real começará e todas as plebeias estarão vestidas com suas melhores roupas para parecerem como as damas daqui. Tudo para serem convocadas e mudarem de vida. Ainda mais porque as regras do Seja Real deste ano mudaram. Ao que parece ficará mais difícil ser convocada ao Seja Real, segundo os jornais e os murmúrios da nossa população. Mas nada é exato até que o rei prove o contrário.

Não vejo porquê querer entrar no Seja Real para concorrer a qualquer coisa fútil, enquanto nós da província continuaremos a passar fome. O Seja Real nunca curou esta praga! - Outra vez está a voz de minha tia invadindo meus devaneios. Antes que ela se esforce mais uma vez, eu me olho no espelho e tento manter o meu cabelo penteado antes de sair do meu aposento.

- Eu estou aqui, meu coração. - Caminhei até a nossa sala, a abracei e dei um beijo em seu rosto.

- Eu sou a sua única tia. Seria um pecado, eu não estar no seu coração. - Sorriu, encarando-me com o seu olhar azulado. Adorava os seus olhos. Lembrava-me muito da minha mãe. Era como se eu estivesse com ela ainda.

- Como eu te amo. - Eu me sento no sofá observando seus cabelos. Como podiam ser tão loiros, longos e lisos? Tia Stela sempre prefere usá-los com um coque no alto da cabeça. Ela ainda sente muita falta do tio Marcus, por isso perdeu as forças para arrumar-se com o passar dos anos.

- Eu preparei seu jantar. Não fique sem comer, Ana. - Ela entrega-me o jantar.

- Te agradeço titia. Não poderia me alimentar se não fosse pela senhora. Mas quantas vezes eu vou ter que pedir para não ficar se esforçando? - Coloco meu jantar dentro da bolsa.

Lei coraliana 102: nenhum plebeu deve comer ou roubar qualquer alimento da nobreza ou realeza. Esta lei é irrevogável e a sua quebra resultará em morte.

- Algumas coisas me distraem. Assim não sinto falta do seu tio. - Seu suspiro cortou o meu coração. Ela nunca superou a morte do seu amado. - Não deveria ir trabalhar a essa hora. Olhe, já está quase anoitecendo. - Aponta para a janela.

A Plebeia CoroadaOnde histórias criam vida. Descubra agora