⚜ Capitulo 8 ⚜

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"E se uma decisão mudasse você? Mudasse sua vida e todos os seus princípios?"

Anabella Campbell,
A plebeia coroada.

Eu não tenho bons sonhos quando estou triste, então já pode imaginar como foi minha longa noite de sustos.

Eu tentei dormir. Mas rolava de um lado para outro e meus cochilos repentinos eram destruídos por pesadelos. Não conseguia pensar em carneirinhos subindo e descendo a montanha como meus pais me ensinaram a fazer em uma noite assim. Porque os meus pensamentos continuavam presos nos últimos acontecimentos.

Depois da décima vez que acordei chamando pela minha irmã, eu parei de contar. Comecei mesmo a pegar no sono, quando já era de manhã. Até que minha tia me acordou.

- Ana, acorda. Você precisa se levantar. Eu já deixei você dormir demais. - Titia me balançava rápido.

- Eu já vou levantar, tia Stela. Não consegui dormir a noite toda. Preciso desses minutos para aguentar ficar acordada o dia inteiro. - Murmuro com os olhos pesados e o corpo exausto. Um caminhão cheio de ouro real havia passado por cima de mim com certeza.

- A Lucia quer te mostrar uma coisa. Disse que só mostrará para você. Ela não me deixou ver. Deve ser importante. Ande, se levante. - Ela abre as janelas do meu aposento e o reflexo do sol dá luz a escuridão.

- Lucia! - No mesmo instante saltei da cama e fiquei de pé. - Ela está bem, tia Stela? Não olhe para mim com esta cara e me responda. - Pergunto, assustada.

- Você realmente não conseguiu dormir. Está péssima. - Ela me encara, incrédula.

- Não me torture dessa maneira, tia Stela. - Disse, batendo os pés no chão de ansiedade.

- Ela está melhor. Se arrume pelo menos para falar com ela. - Disse, ao abrir a porta do meu aposento.

- Eu já estou indo. - Eu me sento na cama, respiro fundo, me estico lentamente, caminho para o banho, penteio meu cabelo, me visto e saiu do meu aposento.

- Lucia está aqui na sala, Ana! - Tia Stela gritou da cozinha. - Parece que você recebeu uma carta. - Disse sorrindo. Eu sabia que pelo o olhar de titia, havia alguma coisa de errado com a tal carta.

- Quem é o remetente dessa carta, tia Stela? - Perguntei ao entrar na sala.

- Pergunte a sua irmã. - Tia Stela me dá um beijo e caminha para a cozinha de novo.

- Dormiu bem? - Eu avisto Lucia e depois de um beijo em sua testa, a analiso para ver com ela estava de saúde e me sento no sofá em seguida.

- Lucia tosse. - Eu estou bem melhor. - Sorriu e tossiu novamente.

- Pelo menos não está mais com febre. Mas ainda precisa de cuidados especiais. Você não deveria estar assim. A culpa é minha. Se eu tivesse pago os impostos ao recolhedor, eles não teriam te levado para a prisão real. Hoje você não estaria com este rosto doentio. - Eu coloco minhas mãos na testa dela.

- Quantas vezes eu vou ter que repetir, Ana? A culpa não foi sua. Minha saúde que é muito frágil e pare de me tratar assim. Eu já tenho quinze anos. Não precisa dar sua vida por mim, Ana. Só porque nossos pais fizeram você prometer. Eles não estão mais aqui. - Ela disse entre tosses e se ajeitando no sofá.

- Eu não quero que repita mais isto, Lucia Campbell. Eu amo você e vai ser sempre assim que vou te tratar. - Digo irritada.

- Você não tem jeito mesmo. - Ela sorriu. Seu rosto ainda estava pálido, do mesmo jeito que ela voltou da prisão, acompanhada pelo Piter. - Eu recebi algo muito importante hoje cedo, Ana. - Lucia escondia algo em suas mãos.

- O que recebeu de tão importante que te deixou com este sorriso? - Eu puxo delicadamente seu nariz.

- Uma carta. - Ela abre as mãos e me mostra.

- Quem é o remetente? - Perguntei ao tentar pegar a carta da mão dela.

- O remetente é o rei Ferdinand. - Seus olhos brilhavam.

- Por que eles trouxeram esta carta para mim? Mais deveres para os plebeus? Ou leis novas para dificultar a nossa vida? - Murmurei.

- A destinatária é você. Pegue a carta, Ana. - Lucia estende a mão, toda empolgada.

- Obrigada. - Eu coloco a carta na mesa e me levanto.

- Espere, Ana. Não vai abrir a carta? - Lucia me olhou com raiva.

- Não. Com certeza deve ser mais algum imposto que eu terei que pagar. A nossa casa está em meu nome. - Disse.

- Posso abrir? Por favor, Ana. Por favor, minha irmã. - Depois de Lucia fechar as mãos e implorar, não tive como negar.

- Pegue a carta e leia alto para que eu possa escutar também. - Eu me sento no sofá de novo.

- Está escrito assim: Quando o sol raiou. De sua majestade, rei Ferdinand Williams, para Plebeia Anabella Campbell da província de Coralia. Cara senhorita Anabella Campbell, é com imenso orgulho que seu rei tem a honra em te informar, que a partir de agora a senhorita está convocada a participar do Seja Real. - Lucia pula de alegria e tenta me abraçar.

- Continue. - Murmurei, tentava raciocinar o que estava acontecendo e quase não a abracei.

- Tudo bem. Depois de analisar muitas plebeias, você foi a escolhida por nós. - Lucia sorriu. - Titia venha escutar, rápido! - Gritou Lucia.

- O quê está acontecendo? - Titia Stela veio voando. Deu até para sentir e ouvir seus passos pesados sob o chão da sala.

- A Ana está no Seja Real! Ela poderá fazer algo para beneficiar os plebeus! Vamos comemorar! - Lucia pega as mãos de tia Stela e começa a dançar pela sala.

- Pare, Lucia. Não tenho mais idade para essas brincadeiras. - Tia Stela tentava buscar o fôlego.

- Por que só eu consigo ficar feliz com esta ideia? - Lucia se joga no sofá.

- Não é verdade. Eu só não estou acreditando que eu fui convocada para o Seja Irreal. - Sorri.

- Real, Ana. Seja Real. Você pode mudar a vida dos plebeus dentro do Seja Real. Não é incrível? - Lucia estava muito empolgada.

- Eu sei. Tudo é mudado quando você enfrenta o Seja Irreal. Dizem até que você se transforma em uma corva da sociedade. - Suspirei.

- Estranho. - Titia murmura.

- O que é estranho, titia? - Pergunto.

- Eu pensei que o Seja real não iria começar tão cedo. Nada foi anunciado nos jornais. Eu cheguei a acreditar que não iriam fazer o Seja Real este ano. Já que todos os plebeus perceberam que isto era mais um golpe do rei contra seus súditos. Uma distração. - Murmurou.

- Esta não, tia Stela. - Eu digo ao lembrar da vinda do senhor Fílipy em minha casa.

- O que aconteceu dessa vez, Anabella. - Titia, agora, sempre fica com os pés para trás comigo.

- No dia seguinte que Lucia foi levada para prisão, o senhor Fílipy apareceu na porta de casa e me vez várias perguntas. Agora eu entendo. Ele me encheu de perguntas e disse que nos veríamos em breve. Eu o ignorei. Eu estava muito preocupada com a Lucia. Ele me escolheu para fazer parte do Seja Irreal. - Suspiro. - Eles fizeram do Seja Real deste ano um mistério. Mas por quê? Algumas semanas atrás corria boatos na província que tudo mudaria. Pelo visto estavam certos. Como será agora, titia? O que será de mim? - Perguntei a ela.

- Esta é uma de suas menores preocupações. Esqueceu do Piter, seu noivo? O que ele achará disso? - Piter estava se aproximando de mim aos poucos.

- Não sei. - Murmuro.

- Acho melhor vocês duas se preocuparem com isto depois. - Disse titia indo para a cozinha. - Piter passou bem cedo e deixou muita coisas boas para o nosso café da manhã. Ele é uma ótima pessoa, Ana. - Titia começa a arrumar a mesa.

Não posso entrar no Seja Irreal. O que eu faria nele? Isto muda tudo. Este convite muda tudo. Se a pena para as plebeias que não querem participar for mesmo a morte, eu não terei escolha.

A Plebeia CoroadaOnde histórias criam vida. Descubra agora