A Plebeia Coroada

⚜ Capítulo 2 ⚜

"Alguns acontecimentos deixam marcas no nosso coração para sempre".

Anabella Campbell,
A plebeia coroada.

Não me lembro quando foi a última ou a primeira vez em que realmente fui uma criança, correndo para todos os lados com a ingenuidade no coração. Me recordo somente dos momentos tensos com minha irmã na minha infância. Tive que me amadurecer de forma rápida, pois, eu precisava cuidar dela. Ser como os pais dela. Isso era o que o meu pai sempre me dizia. Acho que foi por isso que criei uma forte conexão com a Lucia.

Ver o coração dela parar pela primeira vez aos meus dez anos foi a pior sensação do mundo. Eu não quero perdê-la de novo.

- Ah, finalmente apareceu à rata! Esqueceu-se do seu trabalho, plebeia? Acha que eu devo ficar esperando você aparecer? Acha que eu vou retirar as minhas roupas do armário sozinha? - Assim que abri a porta do aposento dela, sou pega de surpresa por sua arrogância de sempre.

- Senhorita Duarte... - Ela me interrompe.

- Silêncio! Eu digo quando você pode falar rata! Eu pensei que não viria! Tive que procurar minha toalha sozinha por sua culpa! Eu tive até que preparar o meu banho! - Com as mãos cheias de vestidos, me mantive parada na frente do aposento. Eu só desejava que ela parasse de me ofender para poder me mexer e tirar aquele peso dos meus braços.

- Desculpe-me pela demora. Eu estava com alguns problemas. Minha irmã está doente e eu estou muito... - Ela interrompe-me novamente.

- Ora, por favor Anabella. De onde tirou a ideia de que eu me importo com a sua vida? - Diz enquanto caminha para o espelho, admira-se e vira-se para mim. Eu aproveito para entrar no aposento e descarregar aqueles vestidos dos meus braços na poltrona.

A senhorita Duarte sequer ama alguém. É uma fútil de coração de ferro. Penso, encarando-a com tristeza até dizer:

- A dona Antonieta pediu para que eu trouxesse todos os vestidos que ela comprou para a senhorita hoje cedo. - Murmuro.

- Mostre-me! - Disparou, ao sair do espelho e sentou-se com toda sua etiqueta. Heloísa é a única filha dos Duarte. Um ano mais velha que eu. Crescemos juntas, até que ela decidiu me ignorar e tratar como todos os nobres tratam os plebeus. Como porcos miseráveis.

- Pegue! - Ela aponta para seu chá, localizado em cima da cômoda.

- Largo os seus vestidos no sofá e corro para pegar o seu chá. - Aqui está, senhorita.

- Não consegue fazer nada direito, não é mesmo rata? - Ela dispara em dizer, quando a xícara cai no chão.

- A senhorita tirou a mão, quando eu dei-lhe a xícara. - Murmurei.

- Você está me questionando, rata? Foi isto mesmo que eu ouvi? - Seu olhar me amedronta e ao mesmo tempo deixa-me com muita raiva.

- Desculpe-me, eu vou pegar o esfregão para limpar o seu tapete. - Murmuro.

- É claro que vai. Este é seu trabalho. Não é para isso que está aqui? Na minha casa? Servindo aos nobres? - Eu estava lá por necessidade e nada mais.

- Sim, senhorita Heloísa. - Disse, retirando-me do seu aposento.

- A onde vai? - Vociferou.

- Pegar um pano e o sabão para limpar o seu tapete. - Digo.

- Limpe com sua roupa, plebeia. - Ordena-me.

Heloísa Duarte, apesar de ser mandona já foi a minha amiga. Conheci Heloísa quando ainda estudava na escola para plebeus. Depois da escola eu sempre ia à casa da dona Antonieta para que ela me desse alguma comida e conheci Heloísa sentada no jardim da sua casa. Ela não tinha amigos, apesar de ser uma nobre. Acredito que fosse por causa do seu gênio difícil de lidar. Viramos amigas rápido. Eu gostava da maneira que ela me tratava. De igual para igual. Não tinha esta coisa de classe quando estávamos juntas. Heloísa tem vinte e um anos, é magra e seus olhos são da cor do mar. Seus cabelos são escuros, cacheados e montanhosos. Ela adora maquiar-se e não resiste a um batom vermelho marcante. Gosta de chamar a atenção por onde passa. Heloísa é muito inteligente e sabe persuadir as pessoas. Eu admirava-a. Mas depois que ela foi estudar fora de Coralia, virou outra pessoa. Não era mais a minha amiga e deixou bem claro onde era o meu lugar. Embaixo dos pés dela.