⚜ Capítulo 4 ⚜

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"Quando o seu mundo se desmoronar, você vai entender como é difícil fazer certas escolhas".
Anabella Campbell,
A plebeia coroada.

Acordei bem cedo depois da minha noite turbulenta na casa dos Duarte. A primeira coisa que fiz, foi ir ao aposento da Lucia para ver como estava. A febre já havia passado e ela parecia estar bem. Dormia como um anjo. Deixei ela descansar e fui para o aposento de tia Stela. Ela dormia profundamente, aparentando estar cansada. Deixei ela dormir também, não a acordando como de costume. Saí do seu aposento e caminhei direto para a cozinha para preparar o nosso café da manhã. Se é que "chocolate quente e torrada" pode ser comparado com um delicioso café da manhã da realeza de Coralia.

Nada é como parece ser. Meu pai sempre dizia isso. Eu nunca entendi o significado desta frase em seu vocabulário escasso. Até carregar ela em todos os meus dias. Quando eu digo chocolate quente com torrada, eu estou querendo dizer sobre alguns pães duros de duas semanas atrás e um bule com café, que mais parece com água suja. Nada é como parece ser definitivamente.

Ainda bem que os plebeus são sonhadores e por sermos sonhadores podemos imaginar qualquer coisa que queremos de verdade. Nesta manhã eu queria um simples chocolate quente para aquecer o meu corpo deste frio intenso dessa manhã e um belo pão com manteiga derretida.

Esquentei o café, pois, já estava pronto e eu não precisei fazer outro. O bule ainda estava cheio, o que é estranho. Acredito que nem Lucia e nem tia Stela comeram antes de se deitar.

Pois é, acho que você vai começar a entender sobre o Dia do rei. Nossas únicas refeições são o café da manhã e o almoço. Não temos café da tarde ou jantar. Não porque não queremos. Mas porque não temos o que comer.

Já é muito termos duas refeições, o que é uma raridade para os plebeus. A maioria chega a ter apenas uma refeição por dia. Não incluindo as famílias de plebeus que são donos dos comércios da província, pois, conseguem fazer as quatros refeições do dia normalmente.

Peguei os dez pães de dentro do nosso armazém e coloquei sobre a mesa. Ajeitei os pães dentro de uma travessa, coloquei o bule em cima da mesa, assim como fiz com os copos.

Todos plebeus da província trabalham. Não há nenhum plebeu que não trabalhe por aqui.

Lei trabalhista de número 100: todos os nobres devem dar trabalho aos plebeus e aqueles que se recusarem, sofrerá as consequências. Esta lei é irrevogável e a sua quebra resultará em morte.

Lei trabalhista de número 110: em Coralia não existirá plebeus sem trabalho. Esta lei é irrevogável e a sua quebra resultará em morte.

Isto seria maravilhoso, se todo este teatro fosse de verdade. Trabalhamos muito, ganhamos pouco e este pouco damos para o rei no Dia do Rei. Ou seja, mesmo trabalhando vivemos em uma miséria eterna.

O Dia do Rei ocorrerá na semana que vem. Então, eu e a minha tia decidimos mais uma vez tentar economizar o máximo para pagar os impostos. Não compramos nenhuma comida faz duas semanas para juntarmos todos os williams que temos. Até agora só conseguimos juntar a metade do valor dado aos recolhedores de impostos. Tudo o que conseguimos com as minhas encomendas de costura para os nobres, as costuras nas roupas dos nobres que eu faço no fim de semana. O restante eu terei assim que receber dos Duarte. Faço isso sempre e nunca deixo de pagar os impostos ao rei. O que é muito injusto, contando com o fato de que não teremos o que comer no dia seguinte!

Mesmo com as economias de minha tia, passamos por necessidades, pois, eu não utilizo nenhum williams dela. Ela acha que eu não sei. Mas eu vi ela conversando com a senhora Sarah faz um mês atrás. Elas conversavam sobre as economias deixadas pelo o tio Marcus. Eu sei que ela tem muito pouco williams. Por isso eu não peço e nunca pedi nada para ela. Toda sua economia é gasta com seus remédios. Com nossa saúde precária, pagamos caro por eles.

A Plebeia CoroadaOnde histórias criam vida. Descubra agora