Capítulo 05 - Parte VI

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Mordeu o lábio inferior, retirou o pedaço de papel amassado, estreitou os olhos tentando recordar-se da caligrafia de Derrick. Talvez fosse ele, juntamente com Fabíola, para mais uma vez brincar com seus sentimentos. Porém nem de longe aquela era a caligrafia dele. 

De quem seria? 

Olhou em seu relógio de pulso, teria cinco minutos para tentar descobrir de quem se tratava, mas em seu atual estado demoraria quase uma hora para percorrer a sala toda em busca do dono daquela caligrafia meio termo, ou seja, nem bonita, nem feia. A porta se abriu de repente e ela assustou-se, escondendo o bilhete dentro de seu caderno. Camila e Luciana entraram sorrindo abraçadas, entreolharam-se ao perceber que a loira estava escondendo algo, visível em sua expressão de "fui pega no flagra". E claro que não deixariam aquilo passar em branco.

- O que escondeu aí? – Camila perguntou curiosa.

Luciana foi um pouco mais audaciosa e atreveu-se a lhe roubar o caderno, mais curiosa do que Camila. Chacoalhou as folhas e o pequeno pedaço de papel caiu ao chão. Agindo mais rápido que a amiga, Camila abaixou-se, leu o que havia escrito e sorriu maliciosamente.

- Admirador secreto? – levou uma das mãos ao queixo, buscando lembrar de quem era aquela caligrafia que lhe parecia conhecida e teve o papel arrancado das mãos por Luciana.

- Talvez ele não seja tão secreto assim. – comentou reconhecendo a letra e sorriu, olhou fixamente para Anahí.

- Não dei permissão para que mexam em minhas coisas. – resmungou fechando a cara e cruzando os braços sobre o peito como uma criança birrenta - Se tem algo que me irrita profundamente é que se intrometam onde não foram chamadas. – murmurou, estendeu uma das mãos – Devolvam o meu caderno, por favor.

- Sai pra lá com esse mau humor gata! – Camila estalou os dedos - O cara foi todo romântico, deveria estar feliz.

- Ninguém fica feliz quando brincam contigo. – rebateu secamente, rolou os olhos - Acha mesmo que alguém iria olhar pra mim dessa forma?

- Eu acredito que existam pessoas que pouco ligam para a aparência ou inacessibilidades. – Luciana disse se aproximando dela, colocou o caderno sobre a mesa, apoiou uma das mãos ali e novamente encarou a loira, olhos nos olhos - Você tem preconceito contra si mesma, sente-se inferior pelo simples fato de estar em uma cadeira de rodas. Deveria ver o mundo com outros olhos e agradecer por estar viva e ter pessoas que te amam de verdade.

Anahí novamente rolou os olhos, estava pronta para dar uma resposta a altura quando o sinal tocou e alunos entraram na sala, seguidos pelo professor de história, Orlando Lopez. Luciana girou o corpo e foi sentar-se em seu lugar, chateada com a atitude de Anahí. Camila lhe devolveu o pedaço de papel que ela tratou de recolocar entre as folhas do caderno.

Orlando mal entrou na sala e já começou dando ordens de que formassem duplas para um trabalho avaliativo. Anahí retirou o livro de sua mochila, não dando a mínima para ir em busca de uma dupla. Sem perguntar nada, Alfonso encostou sua mesa na dela. Ela soltou o ar pela boca e deixou os ombros caírem, buscou pela matéria do professor em seu caderno, ergueu-o um pouco e aquele pedaço de papel caiu sobre a mesa, ficando a vista do moreno.

- O que é isso? – indagou puxando o papel e ela bateu em sua mão rapidamente.

- Nada que seja de seu interesse. – respondeu friamente, pegou o pedaço de papel e o apertou em sua mão, amassando-o - Apenas um otário querendo brincar comigo e com meus sentimentos, mas não caio nessa não.

- Eu gosto de você Anahí.

- Por favor, Alfonso. – riu pelo nariz e negou com a cabeça - Não me venha com esse papinho patético outra vez, eu não acredito em você. – o olhou friamente - Primeiro porque acabou de me conhecer e amor a primeira vista só existem em contos de fadas. – tragou saliva, puxou o ar - Segundo, estamos no meio da aula de história com um trabalho chatíssimo para fazer. – lhe sorriu cinicamente - Então foco no trabalho, na aula e o que diz respeito a outros assuntos não devem ser pronunciados nesse momento.

- Eu só queria entender porque não pode acreditar em mim se já lhe provei o contrário. – insistiu, demonstrando toda a paciência do mundo com ela.

- Acha mesmo que com um beijo vai conseguir me provar o que sente? – balançou a cabeça negativamente - Por favor! – virou os olhos, soltou o ar vagarosamente pela boca mais uma vez, pegou o livro e praticamente o jogou sobre a mesa dele – Aqui está o livro, enquanto vou copiando o questionário tente encontrar as respostas.

Porque Anahí era tão rude com ela mesma? Porque busca afastar as pessoas que a querem bem? 

Perguntas sem respostas borbulhavam em sua cabeça, volta e meia ele a olhava pelo canto de olho pensando em jogar-lhe todas elas, mas sabia que a possibilidade de obter essas respostas de forma agradável eram mínimas. Anahí estava arredia demais, desacreditada no amor e nas pessoas. E como todas as aulas, a de história demorou a passar. 

O sinal tocou, o alvoroço dos alunos foi enorme, alguns correram em direção a porta, já outros se juntaram em pequenos grupinhos para conversar. Alfonso afastou sua mesa para dar acesso livre a loira, e seguiu afastando as outras mesas. Um sorriso involuntário brotou nos lábios dela. Estaria sonhando em ter alguém tão perfeito a fim dela? Ou era apenas mais uma brincadeira. Respirou fundo, lançou um olhar frio a ele e saiu da sala sem nada dizer. Alfonso apenas negou com a cabeça, teria que ter muita paciência com ela. 

Ao chegar em casa, Anahí foi recebida por Nana que lhe avisou que o tio teve de fazer uma viagem as pressas devido a problemas em uma filial de suas empresas no exterior. Aquilo lhe deixou feliz, teria alguns dias de sossego sem ter de ouvir as broncas do tio, sua amargura e mal humor. Como nos outros dias recusou-se da ajuda de Nana para tomar banho e vestir-se. 

Apesar de toda a dificuldade que tinha em fazer tudo sozinha, jamais daria o braço a torcer e pedir ajuda de alguém. Retirou seu caderno da bolsa e o colocou sobre a escrivaninha. Um pedaço de papel caiu ao chão e ela logo o reconheceu. Sorriu involuntariamente ao reler aquelas belas palavras.

"Linda, incrível e doce menina, dona de um sorriso encantador! E basta um sorriso seu para que tudo ao redor se transforme".

No dia seguinte ela tentaria descobrir de todas as formas quem era o tal admirador secreto.

Love, AnahíOnde histórias criam vida. Descubra agora