Capítulo 07 - Parte II

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Ao avistar a fachada da escola a loira puxou o ar e o soltou vagarosamente. Júlio a olhou e lhe deu um sorriso, Anahí retribuiu com um pequeno mover de lábios. Havia chegado a hora de enfrentar onças e leões. Muitos alunos já haviam chegado, alguns a olhavam boquiabertos, outros com um sorriso debochado nos lábios. Ergueu a cabeça ignorando todos e adentrou a escola, ouvindo alguns burburinhos e risos. Assustou-se um pouco com a quantidade de colegas na sala, não esperava que já estivessem ali, e assim que a viram um silêncio pairou no ar. Alfonso ao vê-la deu o seu mais belo sorriso e foi ao seu encontro rapidamente.

- Seja bem vinda de volta Any. – disse meio encabulado.

- Eu não acredito que teve a coragem de voltar quando atentaram contra a sua vida! – a voz de Fabiola soou alto, por trás do moreno.

- Quando você tentou queimá-la viva não é? - Camila falou pondo-se em pé, e cruzou os braços sobre o peito.

Olhares curiosos estavam focados na conversa que com certeza sairia faíscas. Fabíola girou o corpo e encarou a colega que sorria triunfante.

- Acusar sem provas é crime. – Fabiola falou e abriu um sorriso cínico, Camila não deixou se intimidar.

- Devo lembrá-la que temos câmeras de segurança em alguns corredores. - Frederico comentou e Fabiola empalideceu.

Sem saber o que falar, a garota engoliu em seco. E agora? Seria considerada culpada por algo que envolvia mais pessoas? Com certeza não ficaria sozinha nessa e a policia ou quem quer que fosse saberia do nome de todos envolvidos.

- O que foi Fabiola? Perdeu a voz? - Luciana zombou rindo.

- Emoção em saber que foi pega com a boca na botija. - Camila zombou.

- Quero todos sentados em seus lugares. – a professora de português, Lúcia Espinoza falou entrando na sala, jogou os livros sobre a mesa e mirou a turma com um olhar feral - Abram o livro na pagina 202 e leiam o texto em silêncio. - disse apressada, olhou fixamente para Anahí, pensou em dizer algo porém optou por manter-se calada uma vez que sua situação poderia piorar.

Em silêncio, sem delongas os alunos voltaram a seus lugares e optaram por seguir as orientações da professora. Os olhares dela não eram nada agradáveis e Anahí tinha certeza de que Lúcia já deveria ter recebido a intimação, assim como os outros professores. As duas primeiras aulas demoraram a passar, parecia um dia sem fim.

Durante o pequeno intervalo ela recebeu mais olhares desaprovadores. Decididamente o dia estava se tornando nebuloso, e a qualquer momento uma bomba poderia vir a explodir. Estava ciente do que enfrentaria daquele dia em diante e decidida a fazer a diferença naquela escola. Após o intervalo, Anahí vasculhou seu estojo e mochila e nada encontrou. Suspirou decepcionada, onde estaria?

- Procurando por algo? – perguntou a observando.

- Não. – ela respondeu rapidamente sentindo as bochechas queimarem – Estava procurando pelo meu lápis da sorte.

- E não está no seu estojo? – perguntou alheio a voz do professor de matemática que acabara de entrar na sala.

- Infelizmente não. – fingiu estar triste – Devo o ter perdido.

- E como ele é?

- Rosa com estrelas amarelas. – disse a primeira coisa que lhe veio a cabeça, sem cogitar a hipótese de existir um lápis assim.

O garoto fez uma carinha pensativa e deu um meio sorriso.

- Quando você menos esperar aparece.

Ela sorriu assentindo. A porta da sala se abriu e por ela entrou o inspetor, com um semblante tenebroso. O olhar dele foi direcionado a loira. Caminhou pisando forte e parou em frente a loira, jogando um papel sobre a mesa.

- Está satisfeita? Por sua culpa nossa escola está sendo processada!

Anahí gargalhou alto e o olhou seriamente.

- Tem certeza disso senhor inspetor? Minha culpa ou das pessoas mesquinhas e hipócritas que estudam e trabalham aqui? – indagou sarcasticamente – Obvio que temos cinco exceções.

- Se eu perder meu emprego...

- Se o senhor perder seu emprego não fará nada a ninguém. – o garoto disse levantando-se e parou ao lado de Anahí, cruzou os braços sobre o peito – Fui eu quem fez a denúncia, se tiver algo a tratar é comigo.

- Você é quem? – o inspetor estalou os dedos e franziu o cenho tentando recordar-se o nome dele - Ah, lembrei! Um dos bolsistas. – rolou os olhos e o fitou - A conversa não é contigo defensor dos pobres e oprimidos, é com a inválida aqui. – voltou a olhar para Anahí, apoiou-se sobre a mesa a encarando - Diga a seu tio que isso não ficará assim.

- Isso me soa como uma ameaça. – Anahí falou o encarando também.

- Entenda como quiser. Aproveite os seus últimos dias nessa escola.

Virou as costas e retirou-se. A professora sentiu-se corajosa. Se o inspetor podia castigar a loira, porque ela não?

- Anahí retire-se da sala! – Enrico falou assim que o inspetor saiu, a loira o olhou sem entender. – Imediatamente! – ordenou apontando para a porta.

- Mas ela nem fez nada! – Axel defendeu-a e o professor o fuzilou.

- Quer ir fazer companhia a ela Aguillar?

- Cadê a liberdade de expressão dessa escola?

- Aqui há regras senhor Aguillar onde quem está em um nível hierárquico mais alto comanda.

- Voltamos a era da escravidão e não fomos avisados. – Camila comentou arrancando uns risos.

- Guarde suas piadinhas para outra hora senhorita Lautner.

- O senhor diretor quer todos no pátio imediatamente. – a secretária falou abrindo a porta sem bater.

Anahí encolheu os ombros. Boa coisa não seria com certeza. Teria de buscar forças dentro de si, no amor que tinha pelos pais falecidos, e talvez nem assim seria suficiente para enfrentar o que estava por vir. Alfonso tocou em seu ombro acalmando-a e ela o olhou sorrindo. Ali estava a sua força maior: um amor sem medidas, inexplicável, forte e único. 

Love, AnahíOnde histórias criam vida. Descubra agora