Nem bem o dia clareou a loira pulou da cama e desceu as escadas correndo.
- Menina vá com calma! – Antônia falou preocupada – Pode cair e se machucar.
- Estou me sentindo renovada, vou comer algo e vamos até o hospital. – disse sorridente, sentou-se a mesa e bebeu um gole do suco de laranja - Ah! Júlio, por favor, coloque a cadeira no carro, quero fazer uma surpresa para o tio Guilherme.
Anahí nem tomou café da manhã direito, apenas pegou uma fruta e foi até o carro ansiosa para ir ao encontro do tio. Ao ver a sobrinha entrar pela porta, Guilherme abriu um largo sorriso.
- Eu tenho algo para te mostrar. – a garota disse com um sorriso, levantou-se da cadeira e girou o corpo em um ângulo de 360 graus, Guilherme olhou-a boquiaberto – Aconteceu quando você caiu. Eu levantei e fui ao seu encontro.
- Eu sabia que era apenas passageiro. – falou emocionado e abriu os braços para receber um abraço.
- O Carlos explicou que cada pessoa reage de uma forma ao passar por um trauma, uma perda, algo que afete psicologicamente. – ela abaixou o olhar e suspirou.
- Ei, o que houve princesa?
- Acho que o Poncho não me quer mais. – disse manhosa, Guilherme meneou com a cabeça.
- Porque diz isso? Esse menino te ama loucamente.
- Não pareceu quando eu disse a ele que ia continuar usando a cadeira de rodas por um tempo, até tudo acabar. – ela contou enrolando o dedo em uma mecha de cabelo - Ele me chamou de falsa.
- Eu reagiria da mesma forma se não soubesse os reais motivos de você fazer isso.
Anahí soltou o ar pela boca, um pouco irritada. Parecia que nem o tio a compreendia. Porque era tão difícil para eles perceberem que ainda não estava pronta? Que precisava de mais um tempo para conseguir se readaptar aquela nova realidade? Da mesma forma que fora difícil aceitar a cadeira de rodas, estava com problemas de adaptar-se a ausência dela. E também tinha medo, muito medo de que as coisas mudassem por não estar mais presa a cadeira de rodas.
- Enfim, pronto para ir a Nova York? – indagou mudando de assunto.
- Estou velho Anahí, não vou melhorar com esse tratamento. – lamentou.
- Por favor, tio eu preciso do senhor aqui por muito mais tempo. – ela implorou segurando as mãos dele - Quem vai me levar ao altar quando eu casar?
- Usar o emocional é jogo sujo.
- Se isso ajuda a te convencer... – ela deu de ombros – Júlio já comprou nossas passagens. E nem adianta discutir, e vou contigo e estudo com uma professora particular online.
Guilherme não argumentou ou discutiu com a sobrinha. O tratamento não o curaria, mas faria com que aumentasse o seu tempo de vida em no mínimo uns cinco anos. A loira passou a manhã com o tio e ao meio dia foi para casa na esperança de que Alfonso aparecesse por lá. Mas ele não mandou nem sequer uma mensagem. No dia seguinte iria embarcar com o tio, então pegou uma folha de caderno e começou a escrever. Após terminar, entregou para Júlio e pediu que levasse para Alfonso quando já tivesse partido. O motorista assentiu, guardou o bilhete no bolso e a levou até o carro.
- Antes de irmos ao hospital buscar o tio Gui, quero ir até o fórum. – falou e Júlio apenas assentiu.
Anahí estava ansiosa pela sentença. Faltava apenas um dos alunos dar seu depoimento, uma vez que o mesmo estava internado devido a uma forte gripe. Após o seu depoimento seria dado a tão esperada sentença. Jornais locais, diariamente, escreviam sobre a discriminação em uma das melhores escolas do país.
A loira não queria estar presente durante o depoimento tão esperado de Charles, o aluno que também sofria bullying devido a usar óculos e ter muitas sardas sobre o nariz. Ele era o tipo de aluno que passava despercebido, sempre era muito quieto, dificilmente comentava algo. Nenhum de seus colegas notava a sua existência, apenas o professor de química fazia grandes elogios a sua pessoa e a maioria perguntava-se quem era ele. Mas havia uma aluna que o conhecia: Anahí. Como a loira era ótima em português e tinha dificuldades em química, um ajudava o outro. E ninguém sabia, pois Charles fazia questão de continuar a amizade deles no anonimato. Temia ser alvo de mais bullying, e a paixão platônica pela loira poderia vir à tona.
Durante meses ele observou todos a maltratarem e calou-se. Todos os alunos, dias antes da loira voltar à escola haviam recebido ordens de serem indiferentes com a colega e os bolsistas. Caso alguém desobedecesse, seria punido com uma expulsão e jamais entraria em uma faculdade. E aos professores, teriam que ignorá-la, menosprezar ou perderiam o emprego. Tal ato só veio a tona durante o julgamento durante a declaração da professora Cecília.
Anahí puxou o ar e adentrou a sala de audiências, chamando atenção. De posse da cadeira de rodas, pôs-se ao fundo.
- Charles responda a pergunta. – chamou a atenção o juiz.
O menino puxou o ar e encarou o diretor. Sorriu e encarou a advogada de Anahí.
- Ela era sempre foi gentil comigo. Nunca me tratou com indiferença por usar óculos, gostar de química ou ter sardas sobre o nariz como os demais colegas. Anahí é apenas mais uma vítima dessa escola podre. E piora se você é bolsista ou tem alguma deficiência.
- Uma cultura escolar tóxica e uma administração negligente que apoiou o bulliyng. – comentou a advogada de defesa, virou-se para os jurados - Sabemos que a grande maioria dos casos de bullying acaba em suicídio. Porque a Brokwood Park Shool não fez nada para impedir? A justiça deve ser feita pela Anahí, e por todos aqueles que ainda estão sofrendo. – afirmou com um tom de voz mais alto, então virou-se para o juiz - Sem mais perguntas excelência.
- Entraremos em recesso de três horas para a sentença. – o juiz falou dando uma batida com o martelo.
A loira não aguardou a sentença. Voltou para o hospital em busca do tio e juntos iriam à Nova York em busca de tratamento para o tio.
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Love, Anahí
FanfictionQual o valor da verdadeira amizade? A popular loira de olhos azuis, que antes arrancava suspiros dos meninos e chamava atenção devido a sua beleza por onde passava, tem o seu brilho ofuscado devido a uma cadeira de rodas. Até o namorado decide que...