Capítulo 04 - Parte V

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Alfonso buscou por Anahí pelos corredores, abrindo todas as portas que encontrava. Tinha de a encontrar logo, estar com ela. Seu coração batia acelerado a cada porta aberta, ela não deveria ter ido longe. Em algum lugar a encontraria e diria a ela o quanto era linda e especial para ele.

- E como é linda! - esboçou um sorriso enquanto pensava alto.

Acabara de conhecê-la e aquela loira de olhos azuis o tinha deixado encantado, apaixonado. Ele que nunca acreditara em amor a primeira vista e fazia piada quando os amigos brincavam dizendo que ele se apaixonaria loucamente assim, agora provava daquele doce sabor.

- O que você fez comigo garota? – pediu suspirando, riu dele mesmo e abriu um grande sorriso assim que abriu a última porta do corredor e olhou a sua frente.

Através da janela pode visualizar a silhueta loira próxima ao jardim. Instintivamente deu dois passos para trás e correu até chegar próximo a ela, travou ao ouvir um soluço alto. Com o corpo curvado para a frente, cotovelos apoiados nas pernas e o rosto entre as mãos, Anahí chorava. Alfonso pensou em abordá-la, mas talvez precisasse ficar um pouco sozinha. Sentou-se no banco ali próximo e ficou a observando: os cabelos loiros em cachos nas costas e uma quantidade caiam para frente devido a sua posição. Ele quis naquele momento tocá-los, tinha certeza de que eram tão macios e cheirosos que o deixariam totalmente dependente, como um viciado.

Mesmo estando de costas para ele, Anahí poderia de olhos fechados dizer quem estava ali. Seu coração acelerou, e pela primeira vez desde que os pais faleceram, sentiu-se segura.

Anahí recostou-se na cadeira, deixando o tronco ereto e respirou fundo. Enxugou as lágrimas nas mangas da camisa, pousou as mãos no apoio da cadeira e fitou um ponto a sua frente, mantendo o olhar fixo ali.

- Posso falar com você? – a voz dele soou terna, calma.

- Deixe-me sozinha, por favor. – Anahí sussurrou.

Alfonso levantou-se e parou atrás dela apoiando as mãos na cadeira.

- Ficar sozinha é muito ruim, sou seu amigo e vou ficar aqui.

- Eu não tenho amigos! – lamentou, soltou o ar pelo nariz - Desconheço essa palavra e ela esta excluída de meu dicionário.

- Não ligue para eles, não permita que a tratem assim, é injusto.

- Você sabe o que é injusto? – ela virou a cadeira e o encarou – É eu estar presa a essa droga de cadeira de rodas - bateu com os punhos fechados no encosto do braço da cadeira - Ter visto meus pais morrerem em um acidente onde fui a única sobrevivente – sua voz saiu embargada, respirou fundo, tragou saliva - Ter um tio ogro me humilhando diariamente e ter de estar nesse inferno que chamam de escola. - ergueu as mãos para cima como se mostrasse o local - Parece justo para você? – perguntou ironicamente, negou balançando a cabeça.

- Olha eu...

- Não diga nada, fica longe de mim. – Anahí advertiu deixando-o sozinho.

Alfonso apressou-se e correu atrás dela, parando em sua frente no corredor de modo que barrasse sua passagem.

- Anahí espere!

- Saia da minha frente, desaparece!

Alfonso negou, cruzou os braços sobre o peito. Ela praguejou algo inaudível a ele, deu ré e entrou em outra bifurcação do corredor. Ele apenas a observou sumir.

- Linda, petulante, orgulhosa e rancorosa. - disse a si mesmo enquanto sorria.

Ele não sabe por quanto tempo ficou ali, olhando por onde a loira sumiu, mas o suficiente pra aula acabar e os amigos o encontrarem.

O sinal tocou anunciando o inicio de uma nova aula. Anahí chegou a sala e ali havia cadeiras caídas no chão, mesas unidas as outras a sua frente e ela suspirou. Aquilo de propósito para dificultar a sua passagem, fitou um a um dos colegas e a grande maioria a observava de braços cruzados. Ela tentou tirar uma das mesas a sua frente, uns colegas olhavam rindo para ela, zombavam, mas não se moviam para ajudá-la.

- Alguém pode fazer a gentileza de me ajudar? – pediu sem olhar para ninguém.

- Não fazemos obra de caridade Anahí!


Love, AnahíOnde histórias criam vida. Descubra agora