Capítulo 08 - Parte III

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- Então porque o espanto? - questionou desconfiada.

Um olhou para o outro aguardando que respondesse. Camila fez menção de falar algo e foi interrompida pelo sinal.

- Salvos pelo gongo! – Luciana murmurou aliviada.

 Porque tinha a impressão de que falavam em códigos? O que escondiam?

E o medo de ficar sozinha, sem amigos, tomou conta de si, porém nada falou a eles. Seguiu-os até a sala em silêncio, e assim foi até sua carteira. Ao ser questionada por Alfonso sobre a tarefa de matemática, a loira fingiu não ouvir. Retirou o estojo escolar de sua mochila e o colocou sobre a carteira, em seguida retirou o caderno e o livro de matemática. O professor Enrico adentrou na sala, clareou a garganta chamando atenção de todos.

- Estão lhe aguardando na direção senhorita Portilla. – disse alto enquanto largava o material sobre a mesa.

Anahí praticamente congelou. Quem a aguardava? Seria o diretor com mais uma de suas ameaças? Ou teria algo haver com o que os amigos escondiam?

- Quer que eu te acompanhe? - Alfonso pediu em um sussurro e ela meneou negativamente a cabeça.

O instinto protetor do moreno fez com que seu coração batesse mais acelerado.

- Está esperando o que Anahí? – o professor gritou impaciente e ela trincou os dentes - Mexa-se! – ordenou estalando os dedos e soltou um riso debochado - Oh, você não pode! – falou com uma das mãos sobre a boca, a loira a olhou com cara de poucos amigos, ele apenas estendeu a mão direita em direção a porta.

A loira bufou, largou a mochila sobre a carteira e retirou-se da sala. Sua vontade era de pular no pescoço daquele homem, lhe falar muitas coisas que estavam presas na garganta, porem tinha que segurar e deixar que a justiça fosse feita ou poderia de alguma forma prejudicar-se.

- Enquanto a inválida, digo Anahí, resolve os problemas dela, nos resolvemos os que passarei na lousa. – avisou dando as costas para a turma.

Alfonso cerrou as mãos em punho, Luciana lhe tocou um dos braços e sussurrou um "calma". O moreno puxou o ar profundamente. Sabia que assim como ele os amigos reprovavam tais comportamentos.

Anahí chegou a direção e uma mulher de cabelos loiríssimos corte chanel, que estava sentada em um dos sofás ao lado do diretor, lhe chamou atenção. Quem seria aquela estranha sorridente? Sem falar nada o diretor retirou-se da sala, o que a deixou mais intrigada. O que estava acontecendo naquela escola? Porque tanto mistério?

- Você deve ser a Anahí, certo? – indagou e a loira assentiu - Estava ansiosa para conhecê-la. – falou sorrindo, Anahí a fitou minunciosamente - Deve estar se perguntando quem eu sou, de onde vim, o que vim fazer não é? – perguntou e Anahí novamente assentiu, a mulher levantou-se e estendeu a mão para a loira - Sou Mariane, sua nova amiga e psicóloga.

- Estou perfeitamente bem, não preciso de seus cuidados. – falou fechando a cara, apenas fitando aquela mão estendida.

- Infelizmente não condiz com o que seus olhos dizem. – Mariane rebateu.

- Não sabia que psicólogos tinham bola de cristal. – Anahí disse ironicamente.

Mariane estreitou os olhos, talvez não fosse fácil arrancar algo daquela menina. Típico de adolescentes: receosos, cheios de medos e inseguranças. Voltou a sentar-se e curvou o copo para frente, apoiando os braços sobre as pernas.

- O nosso corpo fala, nossa forma de olhar expressa muita coisa e eu vejo tristeza em seu olhar. – explicou a mulher e Anahí deu de ombros.

- Pouco importa, já me acostumei com isso. – falou e puxou o ar - Às vezes dói mais, outras menos. E sei que conforme o tempo passar estarei anestesiada e não sentirei mais nada.

- Eu apenas vejo uma menina linda, cheia de vida com um futuro brilhante a sua frente.

- Eu não quero que ele deixe de viver por minha causa. – Anahí murmurou cabisbaixa.

Mariane sorriu. A garota fechada e osso duro de roer que Guilherme referiu-se quando a procurou parecia estar começando a amolecer.

- Porque ele deixaria de viver? – Mariane perguntou, procurando saber mais sobre "ele" - Até onde sei, sua paralisia pode ser apenas temporária. Muitas pessoas, devido a um trauma demonstram sintomas que a ciência desconhece. – explicou - Vi no seu ultimo exame que não há nada de errado com sua coluna, não há causa nenhuma que te impeça de andar.

- Eu apenas não quero me iludir com algo que não tem volta. – falou cerrando os punhos, irritada.

- Todos têm suas dificuldades, o que não podemos é desistir de viver. – falou calmamente - E o que vejo que estás fazendo. Você é jovem, tem pessoas que te amam e querem estar ao seu lado.

- Eu tenho medo.

- É normal termos medo Anahí, mas precisamos tentar. – disse carinhosamente - Não pode permitir que esse medo te impeça de amar, viver, ser feliz. Não generalize as pessoas, nem todas são como um ex-namorado cafajeste ou aqueles que sum dia te deram as costas. – comentou e pode perceber a loira encolher os ombros - Se algo der errado erga a cabeça e siga em frente. – encorajou-a - Pense nisso ok? – disse e retirou um cartão da bolsa, entregou a loira e deu uma piscadela - Me ligue para marcarmos uma hora.

Anahí observou a mulher sair deixando-a sozinha. Como ela ia embora no meio de uma conversa? Era assim? Deixaria ela com gostinho de quero mais e ia embora?

Ao ver que a mulher saiu, Jaime parou na porta e cruzou os braços impaciente. Anahí rolou os olhos e retirou-se. Pensativa ela foi para a sala, estava em absoluto silencio. Abriu um sorriso ao ver o moreno sorrindo para ela. Como o amava! Como era lindo!

A caneta entre as folhas de caderno lhe chamou atenção, ela não havia deixado daquela forma. Ao abriu seu coração bateu mais forte. Um bilhete na folha de caderno!

Hei! Se eu te olhar cem vezes, acredite, em cada uma delas vou estar me apaixonando mais.

Olhou para Alfonso e ele sorria. Será que alguém teria visto quem escreveu aquele recado? Recordou-se do que Mariane lhe havia dito. Aguardaria até o fim de semana para decidir o que fazer. Tinha mais dois dias para pensar. 

Love, AnahíOnde histórias criam vida. Descubra agora