Capítulo 09 (Parte III)

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Alfonso a olhava sem acreditar, sem conseguir mover-se ou dizer algo. Aquilo era um milagre ou tudo não havia passado de uma grande mentira? Focou na hipótese de ter ocorrido um milagre, pois lhe doeria demais descobrir que a namorada mentia sobre sua real condição.

- E o senhor poderia nos explicar? – Frederico pediu gentilmente ao notar a expressão confusa e desconfiada de Alfonso.

Carlos aproximou-se dos adolescentes, fez sinal para que eles sentassem. Anahí sentou-se ao lado de Alfonso e tocou em sua mão. O moreno negou o toque, afastando-se dela, ficando em pé.

- Muitas pessoas, após um trauma emocional e psicológico que é o resultado de eventos extremamente estressantes que quebram a sua sensação de segurança, sentem-se impotentes. O que no caso de Anahí foi o acidente que fatalmente perdeu os pais. – explicou, tragou saliva e olhou rapidamente para Anahí - As pessoas reagem de maneiras diferentes ao trauma, passando por uma ampla gama de reações físicas e emocionais. Não há uma maneira certa ou errada de pensar, sentir ou responder. – ele clareou a garganta - O emocional de Anahí estava tão abalado com a perda, que para vivenciar o luto dos pais ela deixou de andar. Como se, de maneira inconsciente, ela não quisesse seguir em frente.

- Isso tudo era coisa da cabeça dela? – Axel indagou confuso coçando a cabeça.

- Ao psicológico abalado. – Carlos falou sorrindo - Como expliquei cada pessoa reage de uma forma e para que Anahí suportasse viver sem os pais, acabou paralisando metade de seu corpo. Outras pessoas deixam de falar ou comer, cometem suicídio, fazem uso de álcool e drogas, etc. Conseguem compreender?

- É meio complicado esse negócio, mas acredito que todos entenderam. - Axel falou franzindo a testa.

Carlos sorriu, ia falar algo, mas biparam para que ele fosse a uma cirurgia de emergência. Antes de sair, avisou a Anahí para ir com cautela, não exigir muito de seu corpo, pois havia ficado muitos meses sem caminhar. Sugeriu até que a loira fizesse fisioterapia.

- Eu vou continuar usando a cadeira. – Anahí disse de repente.

- COMO? – todos indagaram em um coro.

- Até a sentença sair. Como acha que vão reagir se me verem caminhando?

- Assustados. – Axel respondeu.

- O doutor bonitão acabou de explicar o que aconteceu, a medicina está a seu favor. – Camila falou.

- Nem adianta argumentarem, eu vou continuar na cadeira até tudo acabar.

- Eu não suporto mentiras Anahí! – Alfonso falou alto cerrando os punhos.

- Sinto muito, mas terá que mentir por uma boa causa. – disse dando de ombros.

- Eu não vou participar desse teatrinho. Quando você estiver pronta para encarar a realidade me avise, talvez eu aceite participar.

Alfonso retirou-se e os amigos foram atrás um a um. Anahí se viu sozinha. Deixou o corpo cair sobre o sofá e afundou o rosto nas mãos. Porque ninguém a compreendia?

- Porque eles não entendem?

- Talvez se você abrisse seu coração e explicasse todos os motivos, eles te apoiariam.

- Alfonso é teimoso demais. – falou fazendo careta. – Como é difícil ser Anahí Puente Portilla, por dios!

Júlio riu e a pegou no colo, carregando-a até o carro. Apesar de ter recuperado o movimento das pernas, teria que ir com cautela, sem exageros.

Durante a noite mandou mensagem para Alfonso, mas não obteve resposta. Ele apenas visualizou e optou em não responder. O moreno queria evitar uma discussão que poderia acarretar no fim do namoro. Aguardaria até o dia seguinte para entrar em contato com a namorada e tentar entender os motivos para que mentisse.

"Entendo perfeitamente a sua concepção sobre mentir. Perdoe-me, não tenho uma explicação concreta para justificar a minha decisão, apenas sinto que preciso continuar na cadeira mais alguns dias. Aconteça o que acontecer, jamais esqueça que eu te amo. Desculpe."

Mentira para ele é algo não aceitável, mesmo que seja por uma boa causa. Uma hora a verdade sempre vem à tona. Como diz o velho ditado, ela tem perna curta. 

Love, AnahíOnde histórias criam vida. Descubra agora