Capítulo 07 - Parte I

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Olhou a imagem refletida no espelho, respirou fundo recordando-se do dia do acidente, minutos antes quando admirava o belo vestido para o baile. Nem de longe hoje se parecia com aquela menina dos olhos azuis brilhantes, sorridente, com cabelos sedosos e pele de pêssego. Hoje, duas longas tranças e pequenas sardas visíveis sobre o nariz – que antes eram disfarçados com maquiagem – compunham o visual com o uniforme do Brockwood Park School.

Raiva, revolta, angústia. Era isso o que ela sentia em ter de voltar a escola. Seria muito mais agradável se o tio pagasse por aulas particulares. Talvez agora que a relação com ele teve uma grande mudança, poderia conversar e pedir para que tivesse aulas em casa. Porém, se isso ocorresse nunca mais o veria. E seu coração doía só de imaginar ficar longe do moreno de olhos verdes e sorriso encantador.

Alfonso caminhou junto com os amigos até o fundo da sala, puxou a cadeira e sentou na mesa ao lado de Anahí.

- Oi estranha. – ele sussurrou.

- Oi – ela disse tímida e sorriu.

Tinha a mais absoluta certeza de que não sobreviveria a mais uma perda. Não só Alfonso, mas os novos amigos também ocupavam um espaço em seu coração. Puxou o ar, ajeitou as tranças sobre os ombros e girou a cadeira e seguiu em direção a sala onde Júlio a aguardava. O motorista, sempre atencioso e carinhoso sorriu ao vê-la, foi ao seu encontro e beijou-a ternamente na testa. Auxiliou a loira na ida até o carro, colocando-a no banco do carona e guardou a cadeira no porta malas. Júlio, assim como os demais empregados do tio eram gratos pelo simples fato de Anahí ter dado mais cor e alegria a casa em que moravam. E muito mais por ela ter conseguido algo que muitos consideravam impossível: derreter o coração de gelo de Guilherme.

Uma batida no vidro do lado do carona chamou a atenção de Anahí que sorriu ao ver o tio.

- Boa sorte no covil de cobras. – ele desejou assim que a sobrinha baixou o vidro.

- Não precisaria de boa sorte se pudesse ficar em casa e ter aulas particulares. - resmungou.

- Sei que não está sendo fácil, mas tem de ser forte. – encorajou-a, escorou-se na janela do carro - O advogado me ligou avisando que receberão as intimações hoje.

- Já posso dizer minhas últimas palavras? - ela brincou.

- Não permita que a intimidem, você é muito melhor do que eles. – afirmou Guilherme e a loira assentiu - Eu preciso que seja forte, hoje e sempre, independente da situação.

- Quando voltar teremos uma conversa senhor Guilherme Portilla.

- Sinto muito, mas terá de esperar até o fim da semana. – ele deu uma piscada para a sobrinha, desescorou-se da janela - Estou indo viajar daqui a pouco.

Anahí bufou e fechou o vidro. Olhou para Júlio, ordenou que ele partisse, ignorando o tio. Guilherme riu alto meneando a cabeça. Anahí era tão teimosa e geniosa quanto a irmã, porém era necessário que viajasse, já havia adiado demais a tal viagem.

- Você sabe o que tanto ele viaja? – a loira perguntou fitando Júlio quando estavam um pouco longe.

- Eu sei, porém é algo que seu tio tem que te contar.

- Ele está doente?

- Sem questionamentos sobre isso Any. – falou rapidamente - Me diga, como se sente volta do a escola?

- Idiota. – murmurou.

- Não diga isso menina! – bronqueou Júlio - Essa escola terá uma mudança radical nos próximos dias. Quem sabe hoje não seja diferente?

- Algo completamente difícil de acreditar. – ela falou rolando os olhos - Naquela escola eu não recebo sorrisos, apenas pedradas e insultos.

- Sei que nem todos fazem isso, há algumas exceções.

- Mínimas, mas fazem a diferença no meu dia. 

Love, AnahíOnde histórias criam vida. Descubra agora