Capítulo 02 - Parte I

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Três meses depois...

Três meses. Exatos três meses haviam se passado desde que tudo aconteceu. Nenhuma visita, muito menos uma ligação ou mensagem. Nada. Ele parecia ter evaporado, esquecido completamente dela. E onde estariam as pessoas que se diziam seus amigos naquela hora em que mais precisou deles?

Deveriam, de fato, serem chamados de amigos?

Estariam com vergonha pela atual situação dela?

Apertou as mãos com força no encosto do braço da cadeira, fazendo com que as veias saltassem. Comprimiu os lábios, não queria voltar a chorar, algo que fazia diariamente por horas. Estava esvaindo-se em lágrimas. Estava magra, não se maquiava mais e pouco se importava com as roupas da moda.

Ficara por quarenta e cinco dias em coma, por um milagre acordara. Mas para ela melhor seria se tivesse partido junto com seus pais.

- O que há comigo? Porque não posso movimentar minhas pernas? – indagou a enfermeira, enquanto tentava mover-se, poucas horas após acordar.

- Não sei senhorita. – a enfermeira respondeu timidamente - Muitas pessoas costumam ficar com sequelas após o acidente, não há nada em suas pernas. – ela negou - Pode ser apenas algum trauma temporário.

E cá estava ela presa há uma cadeira de rodas, todo o prazer de viver tinha morrido junto com Thalia e Fernando.

- Porque vocês me abandonaram? – questionou com a voz um tanto embargada, encarou o porta-retratos com a foto da ultima viagem de férias com os pais – Venham me buscar, por favor. Eu não aguento mais isso. – bateu com os punhos cerrados no apoio do braço de sua cadeira.

Lágrimas brotaram com força em seus olhos, ela as secou enquanto observava pela janela o grande jardim, onde Chico, um senhor de mais ou menos 55 anos varria as folhas secas das árvores. Outro senhor, um tanto mais velho aproximou-se e parecia reclamar de algo, a loira rolou os olhos. O velho resmungão era seu tio Guilherme, solitário e mal humorado.

Assim como o humor do tio, a casa onde morava era pouco iluminada com móveis em tons escuros que davam um ar sombrio ao local.

- Seu quarto fica ao lado da biblioteca, espero que esteja de seu agrado senhorita Anahí. – a empregada falou séria.

Ela também usava um uniforme escuro e Anahí franziu a testa. Aquele local lhe causava arrepios e parecia ser carregado de tristeza, não havia cores alegres ali.

- Qual o seu nome? – ela pediu fitando a senhora que aparentava ter uns cinquenta anos.

- Antônia, me agradaria muito se me chamasse de Nana.

- Me diga uma coisa Antônia, perdão, Nana – disse tímida - Você trabalha para o conde drácula ou algo parecido? – gesticulou com as mãos mostrando ao redor, enquanto fazia uma careta.

- O senhor gosta assim. – Nana explicou segurando a vontade de rir, talvez a sobrinha do patrão trouxesse um pouco de alegria aquela casa.

Balançou a cabeça negativamente. Olhou a sua volta e o seu quarto também era todo cinza e negro. Lembrou-se do seu quarto da antiga casa, todo rosa e branco, decorado por uma das melhores designers de interiores da cidade. Parecia mais um quarto de princesas, aquelas dos contos de fadas. Fechou os olhos, buscando relembrar de cada detalhe da casa que morava com os pais, já que agora seriam apenas boas lembranças.


Love, AnahíOnde histórias criam vida. Descubra agora