O Inventor de Estações

Capítulo 06 - Sob um novo céu

Estava sendo um dia cheio de acontecimentos surpreendentes e parecia que a cada passo que dava entre as árvores de mármore, mais coisas surgiriam. Ao seu lado, estava uma criatura tão bela e fantástica, que Tonto não podia evitar olhar para o papa-cristal de vez em quando e se perguntar quais outras criaturas poderiam existir nesse seu mundo.

— Conte-me mais sobre o lugar de onde você veio, parece fantástico! — falou Goque após passarem por uma sequência de árvores altas, por onde os raios do sol da quase tarde faziam sombras fantasmagóricas no chão.

— Não é nada fantástico — corrigiu Tonto. — Digo... Eu gosto do meu Vale, me sinto bem entre os girassóis e também o calor do sol me dá mais energia, mas não é fantástico quando se tem pessoas passando fome ou que são obrigadas a brigar por água.

— As pessoas brigam por água? — Goque perguntou com certo espanto em sua voz rouca.

— Sim! Algumas famílias esquecem suas necessidades e acabam entrando em conflitos por ego. Foi o que o meu pai me disse. Em todo o vale, só existe um poço que fornece água e ao meio-dia toda a água desaparece. Então, se quer abastecer sua casa, precisa ser mais rápido e mais esperto.

— De fato, menino Tonto, isso não é fantástico. Então, por esse motivo estás empenhando em procurar o Inventor?

Tonto fez uma pausa na caminhada. Refletiu e falou:

— Pode ser que haja outras coisas para serem solucionadas. Talvez, outros Vales também estejam passando por momentos difíceis. E tem as crianças que estão sendo raptadas.

— Crianças raptadas... Você também foi uma delas?

— Não! Graças aos meus pais — disse Tonto querendo chorar ao lembrar deles. — Os Bobo-cuias estavam me perseguindo, mas consegui escapar.

— Ah, os Bobo-cuias! — Goque falou como se conhecesse bem aquelas criaturas. Mas se chocou no mesmo instante. — Espere, menino! Você disse que os Bobo-cuias estavam te perseguindo?

— Sim, pois é o que está acontecendo por toda parte. Eles estão raptando as crianças e levando-as para ninguém sabe onde.

— Há algo errado! Eles não são disso — afirmou Goque com seriedade. — Não mesmo! Claro, eu não os conheço profundamente para saber de seus interesses em criancinhas, mas meu povo já conviveu com eles.

Tonto franziu o cenho, pois a ideia de que poderia haver mais daquelas criaturas que tanto temia era algo a se preocupar.

— Você tem um povo?

— Obviamente! Somos os papa-cristais. Mas, já não sou digno de dizer que faço parte deles — admitiu ele com tristeza.

— Por que não? Onde estão os outros?

Goque parou sua caminhada, permitindo que Tonto seguisse alguns passos a frente.

— Eles estão espalhados por todo esse mundo, fazendo o que nasceram para fazer da melhor forma — explicou ele baixando a cabeça que brilhava sob a luz do sol.