Capítulo 35 - O segredo. Parte I

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O calor era incômodo

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O calor era incômodo. Havia ainda a sensação de estar preso numa grande caixa. Até mesmo um pássaro preso em uma caixa precisa de furos para que possa respirar. Não havia furos ali. Onde estava? Por que sua cabeça doía tanto? Seus olhos estavam inchados e isso era perceptível graças ao peso de suas pálpebras. Respirar exigia um esforço comandado com fúria pelo seu cérebro. Aliás, o que havia de errado com sua cabeça? Sentia algo apertando em volta do crânio como se estivesse sugando seu couro capilar. Estava dolorido e ao tentar girar a cabeça para um lado, sentiu uma fisgada maligna. A dor era lancinante e parecia deixá-lo surdo. Não ouvia nada.

Demorou alguns minutos até que sua visão tornou-se menos turva. Ainda parecia manchada, mas Corteo já podia ver um teto escuro e pequenas brechas — nada de buracos para respirar. — por onde entrava uma luz fraca. Era dia? Sim, e estava tremendamente quente. Onde estava afinal?

Quando tentou mover a cabeça para um lado, sentiu uma dor excruciante descer por sua nuca até os ombros, era como se houvesse uma rachadura ali. Tateou com uma das mãos o próprio rosto e sentiu que havia pano enrolado no topo da cabeça, estava úmido e bastava tocar com um dedo para sentir pontadas. Adormeceu novamente quando viu em seus dedos, sangue. O seu sangue.

Do lado de fora estava Halva, sentada sob a sombra da carruagem com as mãos ainda presas. Estava cansada, sentia dor nas costas pela noite dormida por cima do chão de pedrinhas. Vez ou outra um bobo-cuia aparecia como um felino curioso apenas para observá-la e sumia novamente. Na maior parte das vezes era o mesmo, usando máscara de coruja com nariz que parecia uma cenoura e olhos dourados como sóis. Halva estava até achando que ele era simpático demais para raptar alguém e era aí que uma teoria fervilhava em sua cabeça: ela vira uma pedra nas mãos do Sr. Soluá. Ele erguia o objeto na direção das criaturas e elas pareciam perder as forças. Enquanto pensava nessas coisas, não podia deixar de se preocupar com Corteo. Engatinhou pelo chão e olhou para a frente onde estava a outra carruagem e os outros bobo-cuias. O cocheiro também estava ali, martelando. Sempre martelando! A menina se questionou por quanto tempo ele iria continuar fazendo aquele conserto, sabendo que o homem era tão bom em curativos e aparentava ser tão sábio. Como poderia demorar tanto para consertar somente um eixo de carruagem quebrado? O que não poderia negar era que esse tempo em que estavam parados, estava servindo-lhe para organizar as ideias. Buscar referências, tentar planejar uma rota de fuga para executá-la assim que Corteo despertasse. Foi sua promessa não foi? Ainda que ele não pudesse ouvir, era acima  de tudo, uma promessa para ela mesma.

Nas três vezes em que importunou o velho rabugento dizendo que precisava fazer suas necessidades, seguiu por caminhos diferentes da floresta que os cercava. Era um bom plano! O último caminho que adentrou era mais denso e havia rochas por toda parte. Era ali a melhor rota de fuga e já sabia disso. Bastava apenas escapar daquelas algemas, correr com Corteo para a floresta e ali se esconderiam até estarem distantes e salvos. Ele só precisava despertar.

— Ele só precisa despertar! — ela disse em alta voz, tirando a frase de seu pensamento e levou um grande susto ao ver o cocheiro bem à sua frente. Será que ela havia falado mais alguma coisa? Teria dito em voz alta alguma parte de seu plano?

O Inventor de EstaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora