Epílogo

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Era um belo dia para aquele tipo de jornada, ela pensara

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Era um belo dia para aquele tipo de jornada, ela pensara. Talvez devesse ir mais devagar, pois sua companheira parecia a cada segundo um pouco mais cansada. Seus pés iam levantando a poeira por onde passava, mas estava chegando ao destino.

— Ora, não seja tão reclamona – exclamou Maga Terrosa, como o tempo agira sobre ela. Estava chegando o momento de parar com suas andanças, escolher um lugar para ser morada fixa, embora ela ainda não se achegasse a essa ideia. — Você costumava ser mais cheia de vida!

E logo atrás vinha a sua fiel companheira, a Figueira centenária que movia suas raízes sobre a terra de maneira majestosa, se também não fosse tão exaustiva e lenta. Suas folhas agora eram alaranjadas, era outono em muitas regiões de Haga. As árvores mudavam nessa época. E Maga Terrosa ria de sua amiga por vê-la quase nua e sem folhas. Mas as duas eram inseparáveis, desde que se convenceram. Até ali, enfrentaram grandes jornadas, separações, mas nada as fazia desistir de andanças e aventuras. Como quando lenhadores tentaram cortar a Figueira para usar sua antiquíssima lenha, graças a Maga Terrosa, tudo fora resolvido com muitos dos homens sendo surrados por legumes e verduras defensoras invocadas das profundezas de Haga. Vez ou outra elas sentavam em algum lugar e relembravam essas histórias. Claro, Maga Terrosa falava sem parar enquanto a árvore se agitava concordando com um fato aqui ou discordando de outro ali.

— Estamos no lugar certo – disse por fim, Maga Terrosa. Tirou de suas costas sua fronha de pertences e panelas, colheres e bangalôs raríssimos e esperou até que a árvore fizesse o mesmo, mas ela parecia resistir um pouco ao fitar aquele lugar.

Maga Terrosa podia entender motivo. Havia ali uma estrela caída há muito e muito tempo e a cratera formada por ela era gigante. Mas, o que realmente causava espanto na Figueira, era aquele corpo de cristal que estava recostado sobre a estrela. Um papa-cristal que ela conhecia muito bem e que agora não mais vivia. O corpo de Goque estava intacto como se nada tivesse abalado sua estrutura, mas tanto Maga Terrosa quanto a Figueira sentiram falta de seu bravo coração de pedra vermelha.

— Vamos, finque suas raízes por aí – disse Maga Terrosa, agachou-se perto de Goque e colocou flores silvestres perto de suas mãos de cristal que não mais se moviam. — Eu vou ficar aqui com meu querido filho do coração e nada vai mudar isso.

Ela dizia isso com orgulho na voz. E tão depressa a Figueira começou a fincar suas raízes nas profundezas daquela terra; algumas raízes maiores formariam bancos confortáveis para Maga Terrosa e outras poderiam ser mesinhas; a copa seria o teto para proteger da chuva ou do frio. O tronco antigo e enrugado seria um verdadeiro abrigo acolhedor para a senhora mágica. As duas tinham uma a outra.

Depois de algum tempo de discussão, — as duas eram teimosas demais para chegar a um consenso de primeira. — renderam-se a uma conversa. Era tarde e o sol se deitava nas montanhas tão distantes dando tons alaranjados e róseos às nuvens no céu. Logo surgiria a grande lua de Haga e as infinitas estrelas. Maga Terrosa estava distraída por um instante, mas ouvia tão bem quanto qualquer um e se gabava de ter um senso de dedução muito eficaz.

O Inventor de EstaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora