🏆 VENCEDOR "THE WATTYS AWARDS 2019" NA CATEGORIA FANTASIA 🏆
🏆 1º Lugar no Concurso Wattpad Brasil - Fantasia 🏆
✨🌻
Sinopse: Há algo errado com o mundo de Haga, por todos os quatro Vales crianças estão desaparecendo sem deixar qualquer vestígio...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
A estrada prateada se mostrava tenebrosa naquela manhã. O vento estava furioso como sempre esteve e lá, muito distante, as folhas das árvores caíam para nunca se renovar.
Descalço, pensativo e indeciso, Corteo observava tudo o que podia alcançar com seus olhos apreensivos. Os tons de vermelho e marrom das árvores atrás de si, davam um toque melancólico ao seu rosto pálido e cheio de sardas alaranjadas. Seu nariz irritado e avermelhado, seus pés que estavam embaixo daquelas folhas secas. Ele não podia mais voltar para o Vale. Precisava sair dali, pois não era um esconderijo. Estava exposto e a qualquer momento, alguém chegaria até ele.
— Corteo? Meu filho!
Aquela voz era familiar, embora, com os primeiros tons que ouviu, Corteo pensou em fugir, atravessar a cerca e desaparecer naquela estrada cheia de uma brisa inquietante. Era a sua mãe.
— Por que fez aquilo? — perguntou ela. Os cabelos ruivos caindo sobre a face enrugada e marcada pelo tempo.
— Mãe, você sabe que eu não podia deixar seguirem adiante.
— Eles são maiores que nós! Você os desafiou. Sabe que agora a ira de todos eles vai cair sobre... Você.
— Eles estavam nos explorando. Tudo porque achavam que não seríamos capazes de fazer algo para mudar. Eu vou atrás do...
— Não! — ela interrompeu. — eu já falei para você esquecer esse maldito Inventor! Ele não tem a solução para nós, Corteo! Entenda de uma vez!
Corteo começou a chorar, deixando suas lágrimas escorrerem por sua face, como um rio até seus lábios finos.
— Eu vou tentar! Mãe — ele se virou para ver a face dela, com uma mancha roxa perto do olho. — Veja, olhe o que eles fizeram! Te machucaram de novo! Tem sido assim desde que o papai se foi!
— Sim, tem sido assim desde aquele dia. E é por isso que devemos nos conformar. Estamos sozinhos, eu só tenho você e você tem a mim. Você não pode partir — implorou ela esfregando as mãos com ansiedade e dor no coração. — Os anciões são perigosos para nós, você sabe. Eles controlam tudo aqui. O que você fez? Meu filho?
— Eu peguei o que era nosso, por direito! Eles são os ladrões! Todas aquelas moedas eram nossas, foram deixadas para nós pelo papai!
— Eles estão te procurando por toda parte. Eu posso te esconder, venha!
— Não!
Ao longe, os ventos traziam os gritos de revolta e ódio. E na mente de Corteo, uma cantiga começou.
A ideia de entrar na casa do Ancião Margor para pegar algo que não pertencia a ele talvez deveria ter sido repensada. Mas, Corteo não estava disposto a perder tempo repensando seus planos. Aquelas moedas eram da sua família, e estavam fazendo falta. Desde que seu pai morreu, com uma doença do coração incurável, os anciões não pouparam esforços para tornar a vida de Corteo e sua mãe um inferno. Cobranças e trabalhos forçados, mais cobranças e mais trabalho, pois eles diziam que as terras em que moravam não os pertencia e por isso, tinham que pagar. Era uma injustiça sem precedentes. Foi por esse motivo, que na noite anterior, Corteo invadiu a luxuosa casa em tons de escarlate do Ancião Margor para pegar aquilo que era da sua família. O plano foi executado com maestria: entrou na casa pelo telhado alto, abrindo uma brecha com apenas o seu tamanho entre as telhas pesadas de barro. Antes disso, passou dias observando a casa de longe, calculando o local exato em que deveria entrar. E naquela noite, abriu a brecha no lugar correto. A sala era grande e cheia de móveis adornados com folhas secas esculpidas em marfim, cortinas pesadas nas janelas e potes de argila vermelha com moedas.
Corteo sabia que em um daqueles potes de argila, estavam as moedas da sua família. Com cuidado, pendurou as pernas para dentro da casa, olhando ao redor, deveria se jogar até a cortina mais próxima, sem fazer barulho. Contou até dez e então, jogou-se para dentro da casa, se agarrando ao pano grosso da cortina no canto direito da sala; escorregou até o chão, com as mãos fervendo pelo atrito com o tecido. Respirou fundo, apertou os olhos com o medo em suas costas. A sala estava bem iluminada com velas em cera vermelha e o piso era forrado com tapetes pesados e bordados, luxo demais para quem explorava demais. Nas paredes, havia quadros emoldurados com bronze e prata, mas Corteo não podia perder tempo observando a luxúria maligna daquele velho. Precisava ser rápido e ele sabia que era uma das suas maiores qualidades. Pegou um saco feito com seus lençóis e começou a contar as moedas, deixando uma cair aqui e ali; porém, ele só queria levar aquilo que lhe pertencia, e sabia a hora certa de parar. A contagem chegou ao fim, e o saco não estava muito cheio, pois, ele lembrava exatamente a quantidade de moedas que lhe fora roubadas. Todo o seu plano estava indo bem, exceto por um pequeno detalhe que fugiu aos olhos do menino.
A porta da sala estava aberta e do outro lado, uma cabeça pequena se apertava e espiava com atenção. Guto! Ah, maldito moleque que até nessas horas não deixava Corteo em paz. Os dois se encararam por alguns segundos mais, até que Corteo fez menção de se mover para a janela e o outro começar a gritar feito louco.
Antes que conseguisse abrir a pesada janela, Guto se agarrou aos tornozelos de Corteo derrubando-o no chão e já era possível ouvir passos pesados se aproximando, gritos e xingamentos. Entre tabefes, arranhões e mordidas, Corteo se livrou das mãos rechonchudas do moleque-peste e a janela se abriu, pouco antes do velho Magor aparecer na sala com um facão em punho.
— Ladrão, maldito! Devolva minhas moedas!!!
Mas, por um azar desgraçado, Corteo havia deixado seu saco com as moedas dentro da casa, ao lado da janela e toda a sua missão havia se perdido.
Ele conseguiu fugir das terras do Ancião Margor o mais rápido que pôde, temendo o que estava por vir. Quando chegou em sua casa, sua mãe estava diante da porta, envolvida em pânico e casacos marrons. Corteo contou tudo o que fez, e ambos esperaram pelo pior, mas tudo demorou em acontecer, o dia raiou, justamente quando o menino decidiu beijar a face de sua mãe que dormia com o rosto preocupado, e partiu em direção ao limite do vale com a estrada prateada.
Agora, os gritos estavam mais próximos.
A cantiga!
Sua mãe ao seu lado tentando convencê-lo a não partir.
— Mãe, você precisa confiar em mim! Eu vou voltar!
— Você não sabe o que te espera lá! Ninguém nunca ousou explorar a Oficina do Inventor! Você não entende?
Os gritos dos capatazes!
A cantiga!
As palmas, os tambores, a linguagem estranha.
— Eu tenho que ir agora! Você vai ficar bem?
Os dois se abraçaram, ele sentia tanta dor em seu peito, sua marca em formato de folha seca estava ardendo e brilhando, mas não tanto quanto sua alma doía.
— Agora já não posso te esconder — ela falou por fim. — Vá! Eu ficarei bem, eles não irão me ferir mais.
As palmas, os tambores, a linguagem estranha.
Os gritos dos homens!
As palmas, os tambores, a linguagem estranha.
E antes que Corteo cruzasse a cerca, uma brisa veio arrastando as folhas secas das árvores até seus pés e ao erguer o olhar, ele sentiu uma náusea e pôde ver três figuras mascaradas, com suas capas e um saco. Tudo se apagou.
Sua mãe ficou para trás, assim como aqueles homens furiosos que ao verem que se tratava dos Bobo-cuias, recuaram deixando a mulher aos gritos pelo filho.
Os Bobo-cuias amarraram o saco e puseram em uma espécie de trenó de madeira grotesco, arrastando-o pela estrada prateada até desaparecem logo ali, num horizonte frio e desconhecido.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.