Capítulo 44 - O Cemitério das naves

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Os sons foram os primeiros a serem notados

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Os sons foram os primeiros a serem notados. Liriu Fon despertou com fortes dores na coluna, a respiração estava lenta e sentia náuseas fortes mesmo ainda estando deitada naquela posição tão desconfortável. Uma das mãos estava machucada, mas a dor era suportável. O som que ouvia e que a fez despertar era como um metal sendo torcido e a reverberação era soturna de modo que parecia estar em toda parte. Olhou para esquerda e viu uma menina desacordada e tinha um fio de sangue descendo pelo lábio inferior, ela teria se apavorado com aquilo, mas a menina logo se mexeu e gemeu. Então houveram outros gemidos dentro daquela coisa apertada e sem oxigênio puro. Em pouco tempo as outras sete crianças estavam resmungando de dor. Até que uma delas gritou:

— Que horror! Ele morreu, está morto — dizia uma menina e estava ajoelhada diante do que parecia ser o painel de controle e no chão havia um corpo grotesco. Era o mecanogo.

— Ei, afaste-se dele! Essa coisa ainda pode estar viva e te pegar — recomendou um outro menino que parecia ser o mais velho ou o mais experiente em alguma coisa dentre todos.

Todos estavam de olhos arregalados, tremiam e sentiam medo daquele som pesado e continuo que reverberava mais alto. Podiam jurar que era como estar em uma grande carcaça de ferro velho e esta estava sendo pressionada e torcida para todas as direções. Houve estalos no casco da nave e todos se encolheram. A menina ao lado da criatura saltou quando o viu se mover. O mecanogo estendeu o braço pesado e ruidoso para alcançar a esfera e quando a tocou houve uma irradiação de luz manchada como se fosse ela a iluminação mais podre que houvesse e seu corpo de ferro começou a se desintegrar. As engrenagens e peças mais grotescas se desfizeram em um pó negro que flutuou e envolveu a esfera e logo foi absorvido. Liriu Fon não conseguia parar de olhar; houve uma irradiação mais forte que obrigou a todos fechar os olhos e um estremecer sacudiu a nave. A porta se abriu.

O menino foi o primeiro a perceber que já estavam livres. Caminhou até a abertura e pôs a cabeça para fora. Quando retornou, tossia e estava rouco. Pálido como papel e tremia; se alguém tivesse tocado sua pele, afirmaria que estava frio como neve.

— O que você viu? — Liriu Fon perguntou primeiro.

— Não estamos em Haga!

— Não seja idiota, Damião! — cortou um menino rechonchudo e que parecia antipático demais. — Saía da minha frente... Ora... Como podemos não estar em...

Todos esperaram até que ele voltasse a olhar para dentro e viram em seu rosto a mesma expressão de Damião com ainda mais traços de pavor. Jadar, uma menina de aparecia muito amigável e rosto redondo levantou de onde estava e empurrou o menino para o canto. Usava roupas coloridas com flores bordadas e parecia destemida. Posicionou as mãos na abertura da porta e esgueirou a cabeça devagar para olhar o que os outros dois haviam visto. Do mesmo jeito, estava muda, os lábios entreabertos e foi uma lágrima escorrendo pelo rosto que fez Liriu Fon levantar com violência e olhar de uma vez. Ela não poderia estar mais envolta em medo, frio e desalento. Seus olhos varreram tudo aquilo com tanto horror que sentiu tudo em seu corpo estremecer e seu estômago se apertar. Assim como Damião é Jadar, começou a tossir com a agressão daquele ar. As nuvens eram tão negras, pesadas e horrendas que pareciam grandes tufos de algodão manchados com óleo negro; o céu que se mostrava apenas em brechas, era de um tom de lama amarronzada, que poderia ser tom de café, mas era ainda pior. Quando baixou o olhar, ela viu uma vastidão de puro vazio: sem árvores, sem vegetação rasteira, sem pássaros ou animais, sem lagos ou rios. Nada. Havia ao redor da nave onde estavam outras dezenas de naves iguais e abandonadas há muito.

O Inventor de EstaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora