Capítulo 46 - Verdade nas mãos. Parte I

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Os raios do sol atravessavam as paredes de vidro com muito mais fúria do que jamais pôde sentir

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Os raios do sol atravessavam as paredes de vidro com muito mais fúria do que jamais pôde sentir. Estavam os dois em uma ampla sala com um teto também de vidro sustentado por vigas de ferro e duas pilastras de mármore muito esquálido se erguiam dispostas uma em cada lado da grande porta de mogno. Tudo exagerado demais.

Halva não se lembra de ter trocado de roupas, muito menos ter se banhado e isso estava deixando-a ainda mais irritada pois estava perfumada com lavandas frescas e suas vestes eram azuis novamente e não mais sujas e rasgadas ou suadas. Seu cabelo estava preso em um laço atrás da cabeça e quando percebeu isso tentou desamarrar aquela aberração de enfeite que nunca usara em toda a vida, mas para seu desespero, estava algemada na cadeira onde sentava. Corteo estava ao lado apenas uns passos distante e parecia sonolento; suas roupas também estavam novas e seu curativo fora trocado por um mais decente e limpo, mas ainda assim a imagem do garoto não era nada agradável de se ver. As algemas também prendiam seu braço ao apoio da cadeira e ela começou a se mover com violência para sair dali.

Depois de muitas tentativas, Halva estava suada e odiou a mistura de essências de seu suor com aquele bendito perfume. Os sons metálicos da algema fizeram com que Corteo abrisse os olhos vagarosamente e a encarasse muito exausto, quase desfalecendo novamente.

— Corteo! Ei... Não volte a dormir! – ela gritou, mas ele voltou a curvar-se na cadeira desajeitado e sem reação. – Droga! – esbravejou e então a enorme porta à sua frente se abriu ruidosamente.

Nesse instante, seu coração acelerou e era como se estivesse congelado. Sentia uma raiva crescer desde o seu âmago até as pontas dos seus dedos. Ela não esperava por aquele espetáculo de tons de amarelo e dourado da elegante dama que adentrou na sala; na verdade era o azul e o cinza que esperava ver. Tinha esperança de ver aquele velho de aspecto rabugento e gripado, de face macilenta e o atacaria com todas as suas forças na primeira oportunidade que tivesse e ela queria ter a esperança que chegaria esse momento.

— Que bom que você despertou, minha querida – disse a dama que estava com um longo vestido, longo demais. – Vou me apresentar devidamente, como somos duas pessoas civilizadas. Sou Mércila Dondon, anciã do Vale do Verão, é um prazer te...

— Cale a boca! – retaliou Halva se agitando na cadeira. – Você não tem noção do que vou fazer quando sair daqui!

— Oh, mil perdões! As algemas são apenas... Como posso dizer? Precauções – disse a sra. Dondon se aproximando mais e mais, porém a cada passo que dava era possível sentir seu receio. – Quando eu tiver a certeza de que você não irá arranhar meu rosto como fez a todos que se aproximaram, estará livre das algemas. Bom, saiba que estou muito feliz em poder te conhecer, finalmente.

— Você deveria ter medo!

— Por que? Medo é um sentimento muito vazio e só precisa ser preenchido com a nossa fraqueza. A essa altura, você já tem noção sobre muitas coisas, deve ter ouvido muitos boatos. Mentiras.

O Inventor de EstaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora