O Inventor de Estações

Capítulo 39 - O Rastro no céu

E a estrela riscou o universo. Ela vinha do infinito pontilhado, atravessara o tempo. Todos conseguiram ver seu pequeno rastro.
E houve o impacto. Poeira. 

Mais uma vez haveria despedida. Tonto não queria deixar Maga Terrosa para trás, como fizera com seus pais e com Covárdia. Mas ela explicou o motivo pelo qual não deveria ir com eles.

— Menino, eu já andei muito por aquelas bandas. A missão que aquele lado do mundo oferece já não é para essa velha aqui. Tenho outros rumos a seguir, mas sei que ainda nos veremos — ela falou acariciando-lhe o rosto.

Durante a maior parte da manhã, Goque e Maga Terrosa conversaram longe de Tonto. Ele não ouvia o que estavam dizendo, mas sabia pelas expressões corporais do papa-cristal, que era algo muito sério.

— Você não tem ideia de como aquela região mudou, querido — falou Maga Terrosa tentando manter a voz baixa. — Não é como antes, Goque. A última vez que estive lá, precisei usar de todas as minhas artimanhas para escapar. E é só o começo.

— Por isso mesmo não posso deixá-lo atravessar sozinho — ele retrucou. — Se tem tantos perigos assim, preciso estar com o menino, nem que seja a última coisa que eu faça.

— Não será a última coisa que você irá fazer — Maga Terrosa o repreendeu. Por um instante olhou para Tonto que estava embaixo da figueira. Sentiu que poderia usar o máximo de suas palavras, não conseguiria impedir Goque de seguir. — Darei as últimas instruções. É o que eu posso fazer. Vocês precisam atravessar o Jardim dos Mil Corpos, é assim que a região passou a ser chamada. Já expliquei a você o motivo disso. Está ciente? Bom... A travessia não será nada fácil, principalmente para você, meu querido.

— Eu entendo a sua preocupação, mas eu não estou com medo. Tudo vai dar certo — ele ergueu sua mão de cristal e a pós por cima do ombro da mulher, era um toque frio para ela, mas ele sentia seu calor.

— O Jardim fica logo após a montanha negra,  como você já sabe. Não há outro modo de chegar até a Oficina. Mas vocês poderiam dar a volta no jardim, não seria melhor?

— Isso levaria mais alguns dias, não podemos perder tanto tempo.

— Vejo que é inevitável — admitiu Maga Terrosa baixado a cabeça. — Sendo assim, é melhor que vocês sigam a partir de agora. Ainda é cedo e isso ajudará a chegarem na montanha negra antes do anoitecer, como ele é um menino, precisarão acampar e seguir na manhã do outro dia.

Ficando de pé para vê-los se aproximar, Tonto tentou ler as expressões na face enrugada de Maga Terrosa, mas era totalmente impossível entender tais expressões. Ele gostaria de ter participado da conversa, entretanto, fora mantido longe do assunto. Goque parecia confiante, a luz do sol atravessava seu corpo e adquiria mais intensidade em seus raios. Se ao menos o papa-cristal tivesse um rosto, Tonto poderia lê-lo também, mesmo que não conseguisse encontrar resposta alguma.