Capítulo 45 - Os vultos do abismo sem fim

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“E a jornada não poderia chegar ao fim quando estava apenas no começo

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“E a jornada não poderia chegar ao fim quando estava apenas no começo.”

— Anônimo lastimoso.

Sua caminhada durou muito mais tempo do que imaginou e durante todo o percurso, a cada passo que dava, sentia seu coração se apertar. Mas estava determinado a seguir. Precisava alimentar aquela centelha antes que se apagasse e toda a sua energia se voltasse para a sensação de medo e desistência. Desta vez não buscava apenas solução para todos os outros problemas que o levou até ali, mas queria fazer a morte de Goque não ser jamais em vão; buscaria a resposta para tanta maldade em um mundo tão rico que só teve a oportunidade de conhecer diante de tantas provações. Estava pensando também em seus pais. Tonto chorou ao lembrar do calor dos braços de sua mãe e não ter certeza se ela estava bem o torturava. A sensação dos dedos quentes de seu pai sobre sua cabeça e seu sorriso. Já não aguentava mais tanta distância obscura. Sua jornada precisava chegar ao fim após aqueles passos. 

A chuva violenta havia se dissipado quase por completo deixando apenas uma garoa muito fina e fria. Tonto sentia frio e tremia com a roupa molhada colada ao corpo. Sua mente começava a viajar para lugares distantes na tentativa de deixar de lado tudo o que presenciara no jardim. Pensou em Halva, Corteo, Flora e Olati torcendo para que eles estivessem seguros. Quando finalmente saiu daquele solo espelhado nem percebeu. Agora a terra era normal e com pouca vegetação. O clima não mudara nem um pouco; o céu ainda estava escurecido e havia tons diferentes de azul e cinza por toda parte. Em pouco tempo a estrada que nem parecia estrada foi se estreitando e começaram a surgir algumas pedrinhas reluzentes e prateadas.

Aquilo começou a animá-lo. As pedras prateadas apareciam mais e mais numerosas a cada passo que dava e aos pouco aquilo sob seus pés passou a ter a forma de uma estrada de verdade. De um lado havia paisagem de montanhas muito distantes e do outro era apenas o vazio horizonte de areia e rochas perder de vista. A estrada serpenteava com longas curvas e de repente Tonto precisou parar.

Sua atenção foi capturada por pombos que rodeavam um buraco no meio da estrada como uma armadilha aberta para capturar uma fera. Ele caminhou com cautela até se aproximar do local e sentiu uma forte náusea quando ouviu a voz de um garoto em súplica.

— Ei! Por favor, se aproxime! Oh, como estou feliz que você apareceu — dizia a voz em um choro muito triste e ao mesmo tempo animada. — Por favor, deixe-me ver sua face.

E vagarosamente Tonto chegou a beira do buraco e olhou para o fundo. Havia de fato um menino ali e estava sentado abraçando os joelhos. Quando o garoto o viu levantou num salto. Tinha roupas com listras pretas e era muito magro. Os olhos tão negros quanto a negritude daquele buraco e sua pele era demasiado branca com manchas roxas aqui e ali.

— Oh, como sou feliz em te ver. Há quanto tempo devo estar aqui? — indagou o menino para si mesmo. — Como você se chama? Quem é você? É um fantasma?

O Inventor de EstaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora