Capítulo 36 - O segredo. Parte II

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— Eu vou melhorar, com certeza estou melhor

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— Eu vou melhorar, com certeza estou melhor.

— Então poupe energia e descanse mais. Quando a tarde chegar, eu te avisarei e você vai precisar estar pronto, entendeu?

Dessa forma, Corteo deitou novamente, mas não fechou os olhos. Observava as brechas no teto da carruagem e como a luz do sol entrava por elas dançando ao ritmo das copas das árvores lá fora.  O dia avançou rápido. A trabalhada de Bonvair no conserto da carruagem não teve nenhuma pausa, e isso por causa dos gritos irritantes e agudos do Sr. Soluá. A tarde finalmente chegou ao fim, estava anoitecendo. Perceber isso trouxe adrenalina e frio para Halva em proporções que ela não imaginava que podia sentir. Seu estômago parecia pesado, estava com medo, mas não transparecia isso. Corteo estava sentado, pernas cruzadas e cabeça levantada. O curativo na nuca estava incomodando e coçava sem parar, poderia ser a cicatrização do corte, ele se convenceu. Passos pesados se aproximavam, como se fossem provocados por botas de chumbo. Eram propositais. Um aviso. Bonvair apareceu abrindo a porta e sorriu para os dois.

— Ah, como isso me deixa feliz! — ele suspirou. — O plano vai ter mais chances de dar certo com o menino desperto. Mas, ainda não terminei meu trabalho com você, meu jovem.

Ele adentrou a carruagem, estava com mais raízes e ervas em uma bacia com água morna. Corteo o encarou com uma expressão indecifrável. Foi aquele homem que o trouxe de volta de um sono pesado e doloroso? Sim! E Halva confiava nele tanto que estava quase chorando.

— O senhor pode deitar de lado, por favor? — pediu Bonvair. — Caso sinta muita dor, aperte com toda a sua força as próprias mãos. Não grite. Ah, ponha um pedaço dessa raiz na boca, mas não engula, deixe que um caldo escorra pela sua garganta. Sua língua vai pinicar como se milhares de formigas estivessem a devorando, mas vai passar. Senhorita, pode ser minha assistente?

Halva franziu o cenho e se pôs ao lado do homem. Ele estava animado demais, as mãos tremiam, mas havia uma energia forte emanando dele. Ela logo entendeu que o homem estava tentando tornar as coisas menos tensas. Era uma boa ideia. Sua atenção logo foi capturada pelo corte na nuca de Corteo, era horrendo estava encharcado, mas não de sangue. Havia pétalas das flores que foram usadas na noite anterior. Bonvair fez a limpeza e Halva sentia arrepios de agonia quando vez ou outra o menino se encolhia. De repente ele parecia não sentir dor.

— É o efeito anestesiante da raiz, agora pode cuspir. Bom, o ferimento já está cicatrizando, muito rápido, eu confesso. Ainda precisa de curativo por uns dois dias. Não poderá ser muito exposto ao sol. Vou deixar mais algumas pétalas das flores e ervas aromáticas, vai servir como absorvente — ele explicou dando muita atenção ao que fazia. Lavou as mãos e sentou por fim. — Você vai ficar com uma cicatriz horrenda, meu rapaz. O corte foi profundo, mas não atingiu a parte mais delicada da nuca. Felizmente!

Os olhos de Halva estavam petrificados no homem. Ansiosos, tensos. Esperavam pelo sinal. O sinal! Qual vai ser o sinal?

— Eu não posso demorar aqui. Preciso voltar para finalmente encerrar o trabalho naquele maldito eixo — ele estava adiando o momento em que falaria sobre o sinal. Halva percebeu isso. — Ele ainda está dormindo, é estranho. — Bonvair falou em voz alta. Alta demais. Piscou para Halva. — Esse corte foi feio, o menino ainda vai dormir por muito tempo, tenho muita pena dele.
Por um segundo Halva quis catar a gola da camisa do homem e sacodi-lo no ar até que seu cérebro caísse da cabeça, mas entendeu o que estava acontecendo. Estavam sendo vigiados. Ela atentou os ouvidos e conseguiu perceber a respiração do velho, o fungado gripado de seu nariz vermelho e irritado. Por uma destreza de Bonvair, não foram pegos. Ele estava prestes a falar sobre o sinal.

O Inventor de EstaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora