O Inventor de Estações

Capítulo 26 - Interessados, sumiços e quedas. Parte II

O corpo de cristal se moveu lentamente, erguendo a cabeça e se voltando para o menino. Os segundos se desfizeram em pó. Tonto correu a distância de poucos metros que o separava de Goque e saltou para abraçá-lo sem sequer dar tempo para que o papa-cristal se levantasse. Seus corpos se apertaram em um abraço saudoso e cheio de medo reprimido. Tonto chorava de lágrimas desatadas, seu rosto estava afundado no ombro de cristal de Goque, que por sua vez, envolvia seus longos braços em volta do corpo do garoto; e mesmo que não pudesse sentir a sensação da pele a encostar em seu corpo, Goque se sentia agradecido por ter o abraço de seu amigo naquele momento.

— Menino! Meu menino Tonto! — dizia Goque enquanto sorria e também chorava, embora suas lágrimas não ficassem visíveis, nem seu sorriso fosse tangível. Seu coração explodia dentro de seu peito transparente. — Eu senti tanto por você! Pensei que nunca mais o veria.

— Oh, Goque! O que aconteceu? Você disse que me esperaria ao fim da floresta e...

— Eu precisei ajudar a esse povo — ele explicou. — Eles precisam da luz para sobreviver na escuridão da noite e eu faço isso.

— Mas... Isso quer dizer que... Você vai ficar aqui? — indagou Tonto secando as lágrimas com o dorso da mão olhando-o por fim.

Ambos ficaram em silêncio e então Goque falou:

— Talvez eu não precise ficar aqui. Eu vou falar com eles, pedirei para que me deixem partir e ir em busca do Inventor, afinal, ele pode nos ajudar. Eu acredito que ajudará a esse povo também.

— Então nós precisamos partir, temos que ir embora o quanto antes. Ah, Goque, eu tenho amigos para te apresentar! Eu os amo tanto. Conheci todos na floresta mimosa, enquanto estava atravessando.

Os dois se levantaram e caminharam em direção a porta. Goque olhou para o fragmento de estrela que estava deixando para trás; absorvendo a luz solar para na noite brilhar, a estrela sozinha não seria o suficiente para iluminar toda a cidade, mas Goque pensou que por apenas mais algum tempo, aquele povo poderia esperar até que a solução chegasse, até que ele encontrasse o Inventor e pedisse pelos inquebráveis.

Juntos, começaram a descer as escadas, enquanto cheio de entusiasmo, Tonto falava das outras crianças lá embaixo.

— Ele está demorando muito — disse Corteo emburrado, cada vez mais impaciente.

— Calma, logo estarão aqui, vai dar tempo — disse Halva que tentava disfarçar a impaciência iminente.

Os quatro se viam angustiados não só pela demora de Tonto em voltar, mas também pela incerteza horrenda de não saber quem eram as tais pessoas que estavam interessados em vê-los. As possibilidades eram constantemente ignoradas por Halva, que buscava não pensar no pior.