O Inventor de Estações

Capítulo 04 - A Floresta de Mármore

Seus pulmões ardiam a cada tentativa de buscar ar para respirar melhor. Tonto havia corrido como nunca e a sensação que sentia com a cantiga em sua mente não havia passado. Em todas as direções que olhava, via apenas muralha de girassóis. O sol da manhã já estava quente e dourado.

A cada instante, sua mente gritava para que ele voltasse para casa, para que fosse correndo aos braços de seus pais. Mas, ele não poderia voltar.

Ele não poderia voltar e essa sensação estava fazendo seu coração palpitar forte. Os girassóis estavam agitados, se contorciam e se moviam com violência para mantê-lo escondido, mas a cantiga dos Bobo-cuias estava ficando mais intensa e cada vez mais próxima. A náusea era quase palpável naquele momento. Tonto parou e lutou para recuperar o fôlego, suas bochechas estavam em chamas e sua garganta ardia.

Os Bobo-cuias poderiam estar bem ali, ao seu lado, lutando para atravessar a barreira de girassóis. Tonto podia até sentir as mãos das criaturas puxando-o com violência e o arrastando para um mundo obscuro. Mas então, ele deu mais alguns passos, e a cerca de arame se revelou. Do outro lado, a estrada de pedras prateadas estava silenciosa, não havia sinal de nada por ali, e Tonto viu o exato trecho para onde aquela menina em tons de gelo desapareceu entrando na floresta de mármore.

Ele deveria seguir por ali?

Pela última vez, Tonto olhou para trás, imaginando como estariam seus pais após todo aquele escarcéu. Enxugou suas lágrimas, apertou o estômago, pois este, doía e revirava. Se agachou e cavou por baixo da cerca; minutos depois, com as pontas dos dedos quase em sangue, ele tentou se arrastar pelo buraco, mas ainda não era o suficiente. Cavou mais e mais, com o desespero se instalando em suas costas, pois a cantiga estava se aproximando.

Os tambores, as palmas, a estranha linguagem.

Os tambores, as palmas, a estranha linguagem.

Os girassóis sendo pisoteados.

Se Tonto não fizesse algo o quanto antes, sentiria toda a ira das estranhas criaturas que estavam perseguindo-o.

Num ato inconsciente, ele cavou o buraco com mais rapidez, se lançando por baixo da cerca sem se importar com a sua camisa que ficou enganchada e rasgou na manga direita. E em seguida, ele sentiu uma mão pesada puxar seu tornozelo e uma sequência de gritos:

— Cru Prululu! Bulu blupru!

Tonto olhou para trás e viu os olhos amarelos, a máscara assustadora e bizarramente cômica de um dos Bobo-cuias. A criatura segurava seu tornozelo com tanta força, que Tonto precisou jogar terra e tudo que estava ao seu alcance na face do seu perseguidor, que abobalhado, largou o menino passou limpar a terra da sua capa, enquanto mais dois deles saíam apressados da barreira viva de girassóis.

Apenas uma cerca de arame separava o menino daquele terror. Enfurecidos, os Bobo-cuias começaram a gritar uns com os outros e aquela era a oportunidade para Tonto fugir sem ser visto.