「 0.1 」

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\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \

﹏﹏﹏

Sessões durante a tarde são verdadeiramente uma tortura. Lembro de tudo o que poderia estar fazendo agora, deitado em minha cama, talvez bebericando um chocolate quente enquanto fazia uma maratona de séries. Penso em todos os episódios que poderia estar assistindo agora, mas então lembro do dever de casa que ficou para eu entregar na quarta.

É, prefiro uma sessão durante a tarde do que dever de casa.

— Suga, quer alguma coisa da lanchonete? – Minha mãe pergunta, usando o apelido que quase todos usavam ao se referir à mim. Apesar de gostar dele, sempre achei estranho o porquê de sua existência. "Suga combina com você porque você é pálido e tem o sorriso mais doce do mundo".

E o mais estranho, era em relação ao sorriso. Eu raramente sorria.

Encarei-a, ignorando meus pensamentos e focando no presente.

— Um refrigerante, por favor.

— Você não pode beber refrigerante – me lembra.

— Então um chocolate quente, – falo, suspirando enquanto encarava meus tênis pretos em contraste com o chão branco do hospital — por favor.

Ela assente, saindo de perto da fileira de cadeiras onde estamos sentados, bem em frente à porta do consultório do ‌Dr. Kim, me deixando sozinho no meio daquele silêncio obscuro.

Suspiro, inclinando-me para a frente e fechando os olhos. Posso ouvir o barulho das teclas do computador da secretária aqui. "Ele está no intervalo neste momento", ela havia dito. Balancei a cabeça com a lembrança. Claro que estava.

Minha doença havia piorado drasticamente mas, por alguma razão, eu ainda estava de pé. Mesmo com as manchas vermelhas e os pontos escuros e brancos, eu continuava ali. Era estranho, assim como meu apelido. E ainda mais estranho era como me olhavam.

Parecia que eu era um fantasma assombrando aquele hospital.

— Oh, desculpe.

Ergo o olhar, e o mesmo garoto esquisito que invadiu meu quarto estava bem ali na minha frente. Seu olhar era vago, indecifrável, parecia que não olhava nada. E não olhava mesmo.

Notei a mesma vara em uma de suas mãos, e elas encostavam fortemente em um dos meus sapatos.

Não sei como não senti dor alguma.

— Sinto muito ter te pisado – desculpou-se. — Eu realmente sou muito atrapalhado.

Não sei por qual razão, mas aquilo me fez soltar um riso. Um riso que de tanto tempo em que eu não o soltava, saiu como um palavrão pela minha boca. Rápido, nada disfarçado, e com uma surpreendente vontade.

Senti que o garoto estava perdido quanto aquilo, então o respondi:

— Tudo bem, não tem problema. Às vezes eu também sou um completo atrapalhado.

Parecia que o garoto de cabelos loiros tinha tirado um peso enorme de seus ombros.

— Aqui é o consultório do Dr. Kim? Preciso conversar com ele, urgentemente.

— Vai ter que esperar, o Dr. Kim está no seu tempo de folga e só volta daqui alguns minutos.

O garoto loiro suspirou, derrotado. O que quer que fosse seu motivo para falar com o Dr. Kim, parecia realmente importante.

Então, surpreendendo-me, ele sentou-se ao meu lado nas cadeiras de espera.

— Eu posso esperar. Não será nenhum incômodo para você, não é? – seu olhar estava direcionado para frente, e se não fosse pela vara, podia jurar que estava tentando me ignorar.

Engoli a seco, sentindo a proximidade do garoto rápida demais. Espere, para que sentir medo?  Ele não pode te ver, então não saberá da mancha escura em sua testa ou perceber que está falando com um garoto quase-morto. Fique tranquilo, Yoongi, era o que a minha mente dizia.

Mas nada parecia tranquilo.

— Não, não será nenhum incômodo.

— Sua voz me lembra alguém. Qual o seu nome mesmo?

Aquilo me pegara de surpresa.

Eu não sabia o que responder. Não sabia se falava a verdade, ou ficava paralisado naquele lugar. Quer dizer, olhe para este garoto, sentado ao meu lado, falando comigo. Minha vontade é de respondê-lo na hora, mas a lembrança daquele momento tão constrangedor vem à minha mente a cada segundo. E imaginar que ele não podia enxergar... E se pudesse? Me veria sem uma roupa acima da cintura, e pior, se chegasse mais cedo, me veria pelado. Isto me deixa ruborizado, e as palavras escapam tão rapidamente quanto o riso que soltei antes.

— Suga. Meu nome é Suga. E o seu?

— Jimin. Park Jimin. Prazer, Suga – e estende a mão para o lado de forma fofa e desengonçada. Aceito seu cumprimento.

— Ah, filho! Trouxe seu chocolate... Quem é este garoto? – minha mãe me entrega o chocolate em um copo fechado e sem estampa, totalmente branco como tudo no hospital. Ela está olhando de uma forma estranha para Jimin. Talvez um misto de curiosidade e apreensão.

Não. Seu olhar é de pena.

— Mãe, conheça Park Jimin. Park Jimin, conheça minha mãe. – Apresento-os sem nenhuma animação, apesar de Jimin estar sorrindo e minha mãe me olhando furiosamente pela falta de educação.

— É um prazer, senhora.

Uma moça surge abrindo a porta do consultório. A secretária diz para nós que o Dr. Kim saiu da folga, e já estava voltando ao consultório. Beberico um gole do meu chocolate, me levantando.

— Te vejo depois, Suga? – pergunta Jimin, antes de eu entrar no consultório.

— Com toda certeza, Jimin.

can you see me? ☆ btsOnde histórias criam vida. Descubra agora