「 6.6 」

740 112 12
                                    

\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \

﹏﹏﹏

Obviamente, como nada na minha vida estava do meu lado nas horas que eu mais precisava ficar sozinho, meu telefone não parava de apitar a ligação de uma mesma pessoa.

O que foi, Taehyung?

— Bom dia pra você também, seu grosso. – Me cumprimentou. Bufei, me atirando na cama novamente.

— Fala o que você quer. Eu não estou em um bom dia hoje.

Taehyung permaneceu em silêncio por alguns poucos segundos na linha, provavelmente raciocinando a mensagem que eu transmitira.

E como nunca me decepciona, Taehyung berrou:

— ELE NÃO ACEITOU?

— Pediu um tempo, Tae. – Expliquei, suspirando. — Ele quer pensar primeiro, depois, me dá uma resposta. Achei que já tivesse adivinhado.

— Desculpe, mas eu achei que essa sua sumida fosse alguma coisa sobre "ah, ele vai conversar com a mãe e etc, depois a gente se pega à vontade." – Explicou, e neguei com a cabeça.

— Não. Essa minha sumida foi por causa do tempo dele mesmo.

— Eu não acredito em uma coisa dessas. – Taehyung falou, incrédulo. — Mas... Como? Vocês tinham tudo para dar certo...

— Às vezes o mundo nos surpreende, não é mesmo?

Antes de Taehyung me responder, desliguei o celular na hora, jogando o aparelho na cama e ficando de barriga para baixo nela. Enfiei meu rosto no travesseiro, sentindo as lágrimas me consumirem pouco a pouco.

Como eu pude me iludir tão facilmente? Será que eu fui rápido demais? Ou Jimin que não queria algo a mais? Perguntas e mais perguntas. E eu, parado, observando-as uma por uma, sem antes jamais imaginar onde eu acabaria parando.

Sofrendo por macho.

— Suga! Visita para você! – Gritou mamãe do primeiro piso. E bufei, pegando outro travesseiro e tapando minha cabeça completamente.

Meus pais tinham me deixado ficar em casa dessa vez, no dia seguinte à competição de patinação. Foi uma forma de eles me parabenizarem pelo acontecido, já que eu precisava "repor" as energias, e eles infelizmente não puderam ir me ver nas apresentações.

Eu via essa falta como um alívio na situação na qual eu me encontrava. Um escape da dura realidade do lado de fora, enquanto meu coração sentia cada pedacinho dele ser despedaçado com a lembrança de ontem, e aquelas malditas palavras.

"Eu preciso de um tempo."

Tempo, e mais tempo. Tanto tempo para quê? Para, quando for tarde demais, você se arrepender logo após sentir sua respiração falhar e a morte se aproximar?

É a lei de todo paciente terminal. Não existe tempo para nós, existe o agora. O agora pode durar quanto tempo quiser até a sua morte. E tudo começa com o maldito diagnóstico. Porque antes, era nosso devaneio entre o universo. Após o triste fim ser escrito, tudo começa a fazer sentido. E o "agora" que você gastou comendo uma maçã, se torna um momento maravilhoso – isso, porque você conseguiu ver beleza no mal.

O mal de morrer. O mal de comer uma maçã e perceber que ela não estará mais ali. Ver beleza no que consideram "mal" é uma qualidade que surge com o momento "agora". E tudo o que eu mais desejava, era poder saber quando essa parte cruel do meu "agora" desapareceria da minha vida, para que a resposta final saísse e eu pudesse respirar.

— SUGA! – Mamãe gritou mais alto, e pude ouvir seus passos subindo as escadas em direção ao meu quarto.

Rapidamente, limpei as lágrimas e virei o lado do travesseiro. Ninguém precisa saber que eu choro desse jeito, tão desesperado.

— Tem visita na sala, Yoongi. E é pra você. – Falou, sacudindo meus ombros e "tentando" me despertar para a realidade que eu encarava desde ontem.

Respirei fundo, levantando da cama. Me espreguicei, indo finalmente para o andar de baixo da casa.

Ao ver quem eram as visitas, meu coração pulou rápido no peito.

— Espero que você tenha alguns biscoitos de glacê para me dar. – Hoseok falou, sorrindo de lado. — Estou com vontade de comer um desses há tempos, e Dawon esqueceu completamente que seu irmãozinho debilitado tem vontades idênticas aos de uma grávida.

Me sentei no sofá próximo a ele, pedindo para mamãe trazer biscoitos com glacê e café somente para Hoseok – de acordo com as restrições do Dr. Kim, nenhuma bebida que não fosse água era uma boa escolha para adicionar ao meu paladar durante os próximos dias.

— Pela sua cara, você tem coisas que te incomodam. – Concluiu Hoseok, e sem resistir, acabei concordando com o mesmo. — Me conte, o que seriam elas?

— Uma é boa, e a outra é ruim. – Explico minha situação para Hoseok, enquanto o mesmo se servia de biscoito e café recém trazidos da cozinha.

Contei da competição de patinação do shopping, contei da minha grande vitória e dos treinos, afirmando essa ser a parte boa. A parte ruim, falei sobre meu relacionamento que andava meio torto desde o aniversário dele, e sobre meu – nem tão meu – plano para nos reunir novamente.

— E ele não aceitou. – Falei. — Pediu um tempo. Não sei por quê.

Hoseok levou a mão ao queixo, pensando sobre toda a história em si.

Dava para perceber pelos seus ares como ele andava menos "tóxico" do que antes. Desde que resolvera seu problema com Dawon e desabafara sobre sua antiga vida comigo, Hoseok tem andado mais aberto ao mundo ao seu redor. Como se tudo o que ele precisasse parar de carregar fizesse sua coluna mais leve – e menos sobrecarregada de tanto peso, conseguindo carregar sem deixar cair.

— Ele pode estar precisando se recuperar, Yoongi. Não é todo dia que se ganha um pedido de namoro. – Constatou, dando de ombros. — Pelo o que eu conheço Jimin, ele não só ficaria contigo. Ele tem jeito de ser bem fiel...

— Ele é fiel.

— ... E você não deveria se preocupar. – Continuou. — Tudo o que é para ser, será. Pode doer esperar pelo melhor ou pior, sempre dói. Acredite, os exames de "possível volta da coluna" já iludiram bastante a minha irmã e... a minha ex-namorada. – Esta última parte, ele falou arrastado e quase rangendo os dentes. — Oh, desculpe. Mas de Park Sooyoung, eu quero é distância. – E elaborou uma falsa cuspida no chão, demonstrando aonde ele despojaria sua raiva caso a visse novamente.

Pela primeira vez naquele dia, sorri. Sorri no agora. E o agora, sorria para mim novamente.

can you see me? ☆ btsOnde histórias criam vida. Descubra agora