can you see me? ☆ bts

「 0.0 」

\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \

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Durante grande parte da minha infância eu convivi ouvindo o perdão. Perdão de eu ter nascido, de minha doença, de como ela era extremamente horrível. Não compreendia como meus pais reagiam a tudo isso de forma tão calma. "Está tudo bem, obrigada", "ah, ele vai melhorar", "a doença não é tão grave assim, Yoongi viverá por muito tempo ainda".

A verdade era que nunca sabiam até quando eu sobreviveria.

Não compreendia esta calma que meu pais carregavam em si. Sempre fui um garoto ansioso, sentimental, do tipo que gostava de sentir e sentia intensamente, por mais que não parecesse. Minha personalidade era linda, nas palavras de mamãe. E era linda sim, porém ela nunca teve a oportunidade de ser revelada.

Levanto da cama do hospital, o cano interligando meu braço ao soro, e arrastando lentamente para fora daquele objeto macio e azul que era a minha cama. Era azul da cor do céu no meio da tarde, e seus lençóis eram cheirosos e macios. Confortáveis e fluentes em deixar pacientes em seus cômodos. Mas eu estava cansado.

Fui ao banheiro, abri a torneira, a água pingando e se transformando rapidamente em jato. Molhei o rosto, esperando ter algum sucesso em espantar as tão odiosas olheiras. Eram olheiras profundas, parecidas demais com olheiras do sono. Localizadas bem abaixo de meus olhos, carregando todo o peso de noites passadas e dias retrasados, a história de um garoto que convivia no meio da sociedade aguardando sinais de alguma esperança.

Uma esperança que vale a pena, mesmo sendo sufocante.

Levantei o rosto. Eu estava horrível.

Toquei na pequena manchinha escura acima da testa, verificando se ela não estava crescendo mais. Uma mancha em alguma parte do corpo era fácil de esconder, mas no rosto não. E ver aquilo todos os dias era um tapa na cara: o sinal de que a esperança não havia em minha vida.

Mas eu continuava acreditando.

Não parecia estar crescendo. Deve ser uma pinta.

Saio do banheiro e troco de roupa. Tomando cuidado com o soro, retirei-o do braço para vestir meu moletom. Vermelho vivo, com algumas listras azuis escuras. Eu parecia um elfo preparado para o natal.

Ouço o barulho da porta abrindo, e levo um susto.

Um jovem bonito e cabelos loiros bagunçados me olha, sem mexer um músculo da cabeça, e levanta os lábios para um sorriso doce.

— Tem alguém aí?

Ergo uma sobrancelha, estranhando tudo aquilo. Será que ele estava brincando ou apenas se fazia de desentendido sobre quase ter me visto pelado?

Resolvo responder.

— Min Yoongi, para você.

O rosto do rapaz deu uma leve ruborizada, olhando rapidamente para baixo, o sorriso doce vacilando o mais rápido possível.

— Ah, desculpe. Achei que fosse meu quarto, me enganei. Bem, até mais, Min Yoongi.

E caminhou lentamente para fora do cômodo, deixando a porta aberta.

Respiro profundamente, conferindo se ele havia saído mesmo e fechando a porta. O que será que ele quis dizer com isso?

A memória do garoto volta a minha mente. Sua aparência, seu olhar, sua maneira de sorrir e sua pequena estatura. Ele deveria ser mais novo que eu. Suas palavras, seu humor, algo nele me prendeu atenção, mas eu não sabia o que era.

Estremeço com a lembrança.

Ele carregava consigo uma vara de guia para cegos.