can you see me? ☆ bts

「 1.0 」

\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \

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Sentei no meu lugar na aula de inglês, perguntando quanto faltava para acabar aquela tortura, mesmo que ela nem tivesse começado ainda.

Do outro lado da sala, muitas mesas longe de mim, estava ele. Jungkook. Ele conversava alegremente com alguns amigos, fazendo bem o seu papel de garoto popular e despreocupado. Ignorei, focando na música nos meus fones, e olhando através da janela da sala de aula o pátio escolar.

Inglês era a única matéria que Taehyung e eu não fazíamos juntos. Então, eu passava grande parte do meu tempo naquele lugar ou tentando prestar atenção, ou acabar focando em alguma outra coisa, já que inglês nunca foi verdadeiramente meu forte.

Na verdade, eu nem sabia porquê tínhamos aquela matéria na escola. Ah, o inglês é um idioma internacional. Facilitará muito suas vidas no cotidiano lá fora. Nunca ouvi tanta baboseira.

Mesmo assim, eu ainda era apenas um estudante, correto? Não tinha muita escolha, se não apenas fazer bem meu papel.

E aquilo era um saco.

Quando o professor chegou, retirei meus fones e comecei a prestar atenção. Ou o mais próximo de atenção que o inglês merecia de mim.

— Bom dia, classe – saudou, deixando em cima de sua mesa alguns dicionários antigos. — Hoje teremos um teste diferente. Espero que tenham estudado – a maioria da sala suspirou. Permaneci quieto. — Desta vez, faremos duplas! Podem começar a se organizar.

O burburinho que se seguiu depois do que o professor disse foi imenso. Todos começaram a se juntar com algum amigo ou colega que fosse razoavelmente bom em inglês. Até agora, ninguém tinha chegado perto de mim.

Já estava acostumado com isso. Era quase um costume que todos os alunos tivessem receio de chegar perto de mim, como se a minha doença fosse contaminá-los, ou algo do tipo. E a minha aparência também não colaborava em nada. Por isso, usava sempre algo que me tapasse por completo, como mangas compridas ou moletons.

Aquilo ajudava um pouco. Ter roupas escondendo minhas imperfeições, fazia eu parecer quase como um adolescente normal para eles.

E, de algum jeito, ver minha pele coberta por algo, impedindo de ver suas manchas e marcas, me ajudava também.

Quando a maioria das duplas já estavam prontas, e eu pensava que alguém acabaria perguntando se poderia fazer "dupla de três", senti alguém juntar sua mesa com a minha.

Olhei para a pessoa. Era Jungkook.

Abri a boca, realmente surpreso. Estava prestes a dizer alguma coisa, mas ele me interrompeu, levantando a mão.

— Não precisa dizer nada. – E sorriu de lado, se sentando confortavelmente ao meu lado em sua cadeira. — Temos um trabalho à fazer, meu caro Yoongi. Caso você não se lembre.

Engoli a seco, assustado com sua atitude. Quer dizer, não era comum as pessoas agirem tão normalmente comigo, a ponto de quererem mesmo se sentar do meu lado e fazer uma dupla.

E ali estava Jungkook, sendo gentil comigo, falando meu nome da mesma forma íntima que usa com as outras pessoas.

Como não se sentir surpreso?

Assenti, procurando focar no trabalho que o professor passava, usando meu cérebro para alguma coisa. Jungkook não falou mais nada.

Mas depois de algum tempo, ele olhou para mim, e apontou para minha camiseta.

— Não sabia que você gostava de Kanye West.

O encarei, para depois observar minha camiseta. Tinha até esquecido que roupa havia posto naquele dia.

Era uma blusa de manga comprida, preta, de tecido leve, e na região do peito, em letras itálicas, dizia-se: Nada na vida é prometido, exceto a morte.

Corei, ainda em silêncio.

— Um pouco mórbida essa frase, devo acrescentar.

Levemente dei de ombros, e rebati:

— Não sabia que você conhecia Kanye West.

Jungkook sorriu, e percebi que seus dentes da frente lembravam um coelhinho. Achei aquilo adorável.

— Eu quem diga. Você quebra todos os estereótipos de pacientes adolescentes que eu tinha, Yoongi.

A forma como ele disse "pacientes" realmente me surpreendeu. Porque, normalmente, as pessoas tomavam cuidado quando se referiam à doenças – mais precisamente, ao câncer –, mas Jungkook tratou aquilo como algo normal. Assim como ele me tratava normalmente.

— Como assim, estereótipos?

— Bem, como posso explicar? Hm... – enquanto escolhia suas palavras, o professor passava algo no quadro. Mas não estávamos mais nos importando tanto. — Você com certeza já viu, ou até mesmo leu, sobre histórias de adolescentes portadores de câncer. Correto? – Assenti, e Jungkook prosseguiu. — Então, já percebeu como esses adolescentes, que estão sempre esperando pela morte, são no quesito intelectualidade? Parecem verdadeiros filósofos, ou até mesmo, poéticos.

— Entendo – o interrompi. — Parece que querem transmitir o que tem de belo na doença. Mas não existe nada de belo nisso. – Suspirei, cruzando os braços em cima da mesa. — A beleza está na vida, e não na morte.

— Por isso que eu quis fazer dupla com você. – Disse, lançando um sorrisinho para mim. — Afinal, nem todo dia a gente tem a oportunidade de conhecer alguém que gosta de Kanye West, e usa a camiseta mais bad do universo. – E se virou totalmente aos estudos.

De algum jeito, aquilo me deixou feliz. Deixei escapar um sorrisinho de canto.