can you see me? ☆ bts

「 4.7 」

\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \

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Você nunca vai saber o que pode acontecer.

Em um mundo aonde os inocentes são os culpados, a sociedade segue regras estúpidas e os anjos morrem cedo, a previsão do que pode acontecer é praticamente impossível.

Tudo pode se esperar. Mas não se pode adivinhar.

Foi o que eu senti ao receber aquela chamada, estranhando que viesse justamente, da pessoa que eu menos esperava receber alguma ligação em toda a minha vida.

— Alô, Dr. Kim? — Atendi, desviando o olhar da janela, cruzando os braços sobre a mesa de estudos.

— Olá, Yoongi. — Sua voz estava inaudível, idêntica quando ele me atendia e eu ficava sabendo através de sua secretária, que o paciente anterior tinha batido as botas.

Dizem que médicos tem habilidade de esconder frustrações, mas o Dr. Kim, era a própria melancolia.

— Está tudo bem? — Perguntei, torcendo para que fosse o contrário, que era apenas a recomendação de um remédio novo.

Ouvi o suspiro do Dr. Kim, e a preocupação aumentou.

— Você pode vir até minha casa, por favor? É importante.

— Ir na sua casa? Tipo, agora? — Questionei, coçando a cabeça e mordendo os lábios ao passar acidentalmente por uma mancha que havia nela.

— É urgente, Yoongi. Só você pode ajudar. — Falou, e suas últimas palavras foram igual um baque em mim. — Tem haver com o Taehyung.

Pronto. Foram menos de dez minutos. Dez minutos para eu tomar meu remédio do horário, sentar em frente à minha janela, pegar o livro de química e receber a ligação. Adicione a conversa com esses dez minutos. Agora, a notícia.

Está vendo? É tudo aleatório. Nunca se sabe no que o processo dará, ou aonde ele vai chegar.

Apenas mais uma das diversas graças de se viver, que vale igualmente à todos. Você sabe que vai morrer, mas nunca sabe quando.

— É tão urgente assim? — Perguntou mamãe, ligando a chave do carro.

— Tem haver com o Taehyung, mãe. — Respondi, olhando para meus dedos no banco. Eu não parava de pressionar as unhas contra o tecido.

— Como assim? Não tem falado com ele? — O carro finalmente ligou, mas aquilo estava indo tão lento que a vontade de ir a pé me parecia melhor.

— Taehyung está estranho, mãe. Eu sei disso. — Suspirei, abaixando a cabeça. — Hoje na escola, ele me disse uma coisa horrível e...

— Coisa horrível? Ele falou mal de você? Corte a amizade agora! — Exclamou, mas a interrompi.

— Não é nada disso. Aliás, nem vou precisar. — Observei a rua passando, mordendo os lábios de nervoso. — Ele próprio já cortou nossa amizade.

Silêncio. Olhei de soslaio para mamãe, mas a mesma permanecia sem nada para dizer. É, mãe, o imprevisível realmente pode ser... bem, imprevisível.

Paramos em frente à casa do Dr. Kim, que não era muito bem uma casa. Felizmente, os apartamentos tinham cara de aconchegantes.

— Me ligue quando acabar, que eu venho te buscar. — Alertou, e eu assenti.

Perguntei ao porteiro qual era o apartamento do Dr. Kim, agradeci e comecei a subir. Por sorte, tinha elevador naquele prédio.

Parei em frente ao apartamento 175, podendo ouvir um barulho de choro vindo dali. Respirei fundo, procurando alguma calma no meio do turbilhão de pensamentos e emoções que me encontravam. E bati na porta, o som da madeira aumentando gradativamente.

E o inesperado acontecia de novo; quem me atendia agora, era Jungkook.

Ficamos nos encarando, ambos se perguntando o porquê do outro estar ali. Espiei mais adentro, vendo o Dr. Kim se virar para me ver na porta.

— Pode entrar, Yoongi. — Falou, e Jungkook me deu espaço para passar, mesmo em choque.

— Yoongi, o que está fazendo aqui? — Perguntou.

— Faço o mesmo com você. O que anda fazendo aqui no apartamento do Dr. Kim, Jungkook?

O Dr. Kim ficou observando, arqueando a sombrancelha, confuso.

— Vocês já se conhecem? — Assenti. O Dr. Kim abaixou a cabeça, perplexo. — Então, até de você ele escondia...

— Escondia o quê? Tem alguma relação com Jungkook? — Deduzi.

— Wow, de relação tem muito. — Respondeu Jungkook pelo médico, sorrindo de leve. — É o que namorados devem ter, não é mesmo?

E a segunda parede caía dentro de mim naquela dia.

— Namorados?

— Tenho uma solução para suas dúvidas. — Apontou para uma parte do cômodo, onde ficava algo que lembrava muito uma sala. Nela, uma cabeça abaixada mostrava uma pessoa, e o barulho de choro ainda era audível. — Vá conversar com ele, só você pode ajudar.

Olhei para as duas pessoas ali, fazendo cara de "fala sério" para eles, até suspirar e finalmente ir até Taehyung. Agora, todas as respostas seriam reveladas.

— Taehyung...? — O chamei, e a cena com a qual me deparei, foi deprimente.

Taehyung tinha os olhos inchados de tanto chorar, e não parava mais. O rosto vermelho, alguns arranhões leves nos braços, e o olhar de alguém completamente arrasado. Kim Taehyung acabara de virar a pessoa mais frágil do planeta, e estava bem diante de meus olhos o que somente eu poderia estender a mão, e não ser negado.

— Y-Yoongi... — Soluçou, limpando as lágrimas com o pulso nu. — E-eu... — abaixou a cabeça, negando — M-me desculpe, de verdade. Eu sou um inútil...

Aproximei-me, dando-lhe algo que jamais imaginei que seria possível. Segurei Taehyung entre meus braços, igual um bebê, dando meu melhor e mais confortante abraço.

Taehyung bufou, ainda algumas lágrimas escorrendo, mas senti tudo começar a diminuir. Sua dor, sua queda, a carga que carregava, sendo jogava pouco a pouco, e não tudo de uma vez.

— Me conte. O que aconteceu, de verdade? — Pedi, ainda segurando-o no abraço.

Taehyung respirou fundo, tremendo, e contou:

— Eu fui expulso de casa, Yoongi. Meus pais me expulsaram, só com a roupa do corpo e sem piedade. Tem noção disso? — Fungou, e fiz um cafuné em sua nuca. — E pior, que eles tem motivos. É tudo culpa minha, eu nunca deveria... Eu...

— Calma, Tae. Você não está sozinho. — Segurei em seu rosto, forçando-o a me encarar no fundo dos olhos. — Eu estou do seu lado. Todos nós estamos. Vai ficar tudo bem, okay?

Taehyung assentiu, encostando sua cabeça em meu ombro, e ficamos assim por determinado tempo. Duas mentes com problemas, que se encontravam perdidas nesta vaga adivinhação inútil que é a vida.