「 3.0 」

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\ can you see me? /
/ pov. kim taehyung \

﹏﹏﹏

É uma grande verdade que, se criarmos muitas espectativas de algo, esse "algo" terá a possibilidade de ser exatamente o oposto do que esperávamos. Existem várias provas que comprovam isso, de fato.

E eu sou uma delas.

Não gostava de ficar perto deles. Mas naquele instante, as escolhas que eu tinha, foram ignoradas e esquecidas. Agora, preso no mesmo espaço particular que minha família, tudo era claramente o sinal mais óbvio de minha vida: eu não pertencia àquele lugar.

Não era novidade que eu era a decepção da família. Um filho adolescente rebelde, com notas na média, que jamais recebeu algum prêmio por sua extrema inteligência, ou nunca foi o "reconhecido" da sua escola e turma. E eu estava muito bem, obrigado, naquele meu pequeno mundo criado por mim mesmo.

Um mundo aonde havia somente as pessoas com quem eu me importava. E isso, não incluía meus pais.

Nós éramos quites: eu ficava fora do caminho deles, e eles ficavam fora do meu. Se eles acabassem brigando no andar de baixo, com direito à quebra de pratos e os gritos de minha mãe, escandalosos o suficiente para os vizinhos escutarem, eu apenas ficava no meu quarto. Me importando somente em olhar os cartazes de meus artistas favoritos pendurados no lado de dentro da porta, e o som de puro jazz rondando minha cabeça através dos fones de ouvido. Simplesmente isso.

Porém, ao longo dos últimos anos, meus pais enlouqueceram. E resolveram me incluir nesta loucura que eles eram.

Quem é esse garoto que você fez amizade, Taehyung? Podemos conversar com ele? Nos apresente, não confio que ele seja uma pessoa boa para você, e várias outras desculpas. Tudo para ofuscar a verdade de que, eles estavam mesmo, era preocupados em saber se o caso perdido da família era gay.

E eu não podia fazer nada, nem reclamar sobre suas verdades disfarçadas. Porque, a minha pior sina em ser filho de meus pais, era que eu também gostava de ofuscar a verdade.

E como aquilo era doloroso.

— Taehyung, seu amigo vem ou não? – Questionou meu irmão, Jeonggyu, de braços cruzados se encostando no sofá. Era o único relaxado do local.

— Ele vem, sim. Yoongi não é de furar compromissos. – Respondi, fitando o chão da sala, a fim de não olhar nos olhos dos dois homens presentes ali comigo.

Meu pai bufou, rindo de deboche.

— Será mesmo? Com essa gente, nunca se sabe...

— Essa gente, quem você se refere, pai, são apenas pessoas normais como todas as outras. – O repreendo rapidamente, de uma forma que não demonstrasse minha tamanha vontade de esmurrar ele urgentemente.

Meu pai deu de ombros, arqueando uma sobrancelha.

— Desde que fiquem no seu verdadeiro lugar, pouco me importa.

Como eu tinha vontade...

Mas, bem na hora, a campainha tocou.

Rapidamente me levantei, indo até a porta e a abrindo. E bem na minha frente, pude ver o mesmo Yoongi de sempre. Porém, em seus olhos, ele carregava algo diferente.

Só não sabia diferenciar se era medo, ou algo misturado com determinação.

Fiz sinal para que ele entrasse, não pronunciando nada mais. Yoongi assentiu, e os dois homens na sala se levantaram para cumprimentá-lo.

— Olá. – Saudou Yoongi, tímido.

— Cadê seu cilindro? – Perguntou Jeonggyu, fitando cada parte de Yoongi, procurando por algo.

Eu não era Yoongi, mas aquilo havia doído como uma facada.

— Er... Não uso cilindro. Eu tenho câncer de pele, não de pulmão. – Explicou Yoongi, engolindo a seco.

Me senti péssimo. Ainda mais, que a conversa mal havia começado, e eu só desejava fugir dali para poder chorar em paz.

— Podemos nos sentar, certo? – Falou meu pai, abrindo a boca pela primeira vez desde que Yoongi aparecera.

Sentamos todos nos dois sofás da sala. Eu e Yoongi no menor, e meu pai e meu irmão no maior. Jeonggyu começou as perguntas básicas para Yoongi; sobre como era a vida de um portador de câncer, se ele sentia muitas dores frequentemente, se os exames eram todos os dias, etc. Coisas sobre como era viver com câncer, tudo apenas para perfurar mais ainda a ferida que havia dentro de Yoongi.

— E você sente muitas coceiras? Tem alguma verruga? As manchas ardem? Você... – Jeonggyu não parava, e o interrompi.

— Jeong, acho que você não precisa ficar perguntando... Sobre isso. – Falei para ele, mas como o bom e velho irmão mais velho que eu tinha, ele me ignorou completamente.

— Quanto tempo de vida você ainda tem?

— Chega! – Gritei, e todos se calaram. Pude ver que Yoongi aguentava firme, mas já havia sido pesado demais.

Porque a questão não era por quanto tempo Yoongi viveria. A questão era saber qual o destino de Yoongi. E todos sabíamos que não era o mais feliz do planeta Terra.

E este destino estava próximo. Indeterminado, mas próximo.

— Já posso trazer os lanches? – Perguntou minha mãe, aparecendo enquanto limpava suas mãos no pano.

Jamais imaginei ficar tão agradecido assim por sua existência.

Minha mãe não era de cozinhar. Mas quando cozinhava, sua comida era o oposto de sua personalidade. Era a única coisa pura que aquela mulher conseguia fazer no mundo.

Pois sua comida era o que, de alguma forma, conseguia me fazer lembrar que ela, apesar de tudo, ainda era a minha mãe.

— Pode sim, mãe! Deixo ajudá-la. – E lá ia o filho prodígio ajudar a pobre mãezinha com os lanches. O mesmo puxa-saco de sempre.

— Vamos para a sala de jantar, lá é melhor. – Aconselhou meu pai, e senti medo no que aquilo poderia significar.

— Vamos. – Yoongi concordou, e os segui por último.

Que seja o que Deus quiser.

can you see me? ☆ btsOnde histórias criam vida. Descubra agora