「 0.6 」

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\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \

﹏﹏﹏

No final da aula, Taehyung me convidou para ir na pista de patinação logo mais tarde. Neguei, dizendo que tinha consulta naquele dia. O que não era verdade.

A verdade, era que eu estava realmente cansado. E depois do que tinha acontecido naquela manhã, um descanso não faria nada mal.

Só que aquele dia não estava tão a fim assim de me deixar descansar por um minuto.

Me despedi de Taehyung na entrada da escola, indo para a parada de ônibus, como sempre. Fiquei de olho se a mesma gangue apareceria, mas encontrei outra pessoa ali.

Jimin.

Senti meu coração tamborilar. Ele estava usando um moletom de lã com cores de fogo, que de algum jeito combinavam com seu cabelo amarelado. Continuava bagunçado, parecendo que ele não fazia questão de se pentear quando acordava. Estava ali, paciente, esperando algo – ou alguém.

As palavras de Taehyung surgiram na minha mente. O garoto não enxerga, como você fica com medo de que ele te notasse?

Respirei fundo, me sentando alguns centímetros longe do garoto.

Ele continuou ali, parado, e aquilo me aliviou bastante. Por três segundos.

— Não sabe a que horas chega o ônibus? Estou aqui faz um tempão. – Encarei-o, abismado.

Como ele sabe que tem alguém aqui?

— Ei, calma. Eu sei que você está aqui. – Aquilo não me acalmou. — Eu ouvi seus passos. Por favor, pode me dizer a que horas chega o ônibus? Ou também está perdido?

Continuei sem dizer nada, processando tudo. O poder dos sentidos apurados, com certeza.

Anotei mentalmente para falar sobre isso para Taehyung mais tarde.

— Dez minutos – sussurrei, encolhendo-me, a fim de que ele não me perceba mais ainda.

Esse negócio de sentido apurado estava me assustando um pouco.

— É o quê? Por favor, pode repetir? Além de cego, sou um completo surdo. – "Surdo é o cacete", penso, e suspirei.

— Olá, Jimin.

Jimin abre a boca para argumentar, mas o interrompo antes.

— Sou eu, Suga. – Falo, e um sorriso se abre no rosto de Jimin.

— Suga! Quanto tempo! – Exclamou, se virando para mim e abrindo os braços para um abraço.

Acabo não retribuindo.

— Ahn, Jimin... Não sou muito de abraços... – Digo, e Jimin abaixa os braços, assentindo. Ele parece compreender, mesmo que quisesse que ocorresse o contrário.

— Ah, claro. Tudo bem. Mas, e aí? Como vai a vida?

— Levando. – Dou levemente de ombros. — Exames, família, hospital, escola. Nada de diferente sob o sol – conto, mesmo que fosse uma mentira. Pelo menos, só naquele dia. — E você?

— Escola. Quero dizer, assim espero. – E aponta em direção a entrada da escola, um pouco desajeitado. — Talvez eu consiga uma vaga ali, mas não tenho muitas esperanças.

Aquilo me chocou.

Uma vaga naquela escola?  – Questiono, minha voz mostrando um pouco de desespero. Jimin assente, estranhando.

— Sim, por quê? Não me diga que... – Seu rosto se ilumina, e ele se aproxima um pouco mais de mim. — Suga, não me diga que você estuda ali?

— Ahn... – Fiquei calado. Não sabia o que dizer. Pelo visto, minhas tentativas de tentar conversar com Jimin só no hospital seriam falhas. O mundo não gosta de colaborar com algumas pessoas.

— Ah, cara! – Sem querer, sua mão fica em cima da minha, e ele percebe. Acaba segurando-a fortemente. Me encolhi ainda mais com seu toque quente e repentino. — Não acredito! Queria tanto poder ser aceito agora... A gente se veria mais vezes! – Jimin continua a tagarelar, mas de repente para.

Ele se aproxima mais de mim, levando a minha mão para perto dele, e com a outra, começa a explorá-la. Tocando cada pedacinho dela, desde meus dedos compridos até os pulsos esbranquiçados.

Não sabia como reagir. Um arrepio passou por mim, e Jimin pareceu perceber isso. Até que ele parou na pequena manchinha que eu tinha no pulso.

— Suga... – falou, e senti seus olhos sobre mim, mesmo que não pudesse me enxergar. — O que é isto no seu...

Tomando controle dos sentidos, recolhi rapidamente a minha mão. Ainda sentindo o toque de Jimin nela, e onde a manchinha estava, podia sentir uma pequena ardência.

Jimin continuou ali, me esperando respondê-lo, mas não respondi. Cansado, ele se virou para frente novamente, totalmente aborrecido comigo.

— Certo. Já que você não quer me contar, não sou eu que vou obrigá-lo. Mas, – e segurou a sua vara, que permanecia antes intacta ao seu lado, como uma forma de se apoiar enquanto falava – caso queira, algum dia, pode me contar. Estarei aqui.

Abri a boca para dizer algo, mas Jimin foi mais rápido.

— E nem adianta dizer que é uma pinta, porque eu não sou burro, Suga.

Aquilo era óbvio. Jimin não era burro. Era muito esperto, isso eu percebi, e parecia ser impossível esconder alguma coisa dele.

Mas eu contaria. Só não agora.

Permanecemos em silêncio. Um vento frio passou entre nós, alguns carros na rua, mas nada que pudesse acabar com aquele momento. Isto porque eu sentia. E Jimin sentia, dava para saber.

Pressenti que o silêncio seria a nossa melhor forma de relacionamento.

E eu gostava de ficar em silêncio. E, mesmo que não parecesse, percebi que Jimin gostava do silêncio também.

can you see me? ☆ btsOnde histórias criam vida. Descubra agora