「 3.9 」

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\ can you see me? /
/ pov. park jimin \

﹏﹏﹏

Tudo começou quando eu nasci.

Sempre existe um começo para tudo. Cada um com seu próprio ínicio, continuação e fim. Ambas as partes estão todas conectadas.

Meu ínicio aconteceu a partir do dia em que nasci, quando mamãe foi proibida de me ver após o parto, pois fui urgentemente para a área de cirurgia.

Era uma complicação cardíaca, já que meu cérebro maldito não estava ajudando muito meu corpo na distribuição de sangue, e meu coração já havia saído totalmente energético – de um modo ruim.

Os médicos consertaram meu coração, mas meu cérebro, não. Nele, o problema era um pouquinho maior.

Algumas pessoas lamentam por eu nunca poder saber como é o mundo. Mas na verdade, eu lembro de algumas coisas. Como, por exemplo, as árvores que haviam na frente da minha antiga casa, o balanço no quintal, a pintinha na testa de papai e como os olhos de mamãe ficavam igual dois risquinhos quando sorria. Mas eu, do meu próprio rosto, não carrego lembrança alguma.

É um pouco frustante. Porque, mesmo que eu confiasse muito no que minha família diz sobre minha aparência, eu carregava certa curiosidade para ver como era.

Poder ver meus olhos se transformarem em dois risquinhos ao sorrir, minhas bochechas gordinhas, minha certa "beleza" especial.

Queria poder ter me visto mais no espelho quando criança.

Mas, logo a felicidade acabou. Foi exatamente isso: eu desmaiando enquanto brincava no balanço, minha visão escurecendo, meu olhos cheios de lágrimas. Os gritos, os passarinhos cantando, eu sentindo a grama roçar em meu rosto, mas sem poder vê-la.

Escuridão. Somente escuridão. Tudo se resumia apenas isso.

Ao chegar no hospital, podia ainda ver alguns vultos rápidos, mas aquele breu permanecia na maior parte do tempo. Só ouvi um barulho de rodas e passos apressados, eu sendo posto em algo macio, uma picada no braço e minha mãe gritando "eu te amo".

Não demorou muito para o anestésico funcionar, me impossibilitando de sentir qualquer dor. E para uma criança, parar de sentir as coisas, é pior do que sofrer dor o dia inteiro.

Não lembro por quanto tempo fiquei na sala. Meus pais dizem que foram duas horas. Eu diria uma tarde inteira. Meus olhos abertos de uma forma impressionante, eu sem saber o que acontecia, e as vozes de pessoas gritando instruções estranhas. Uma, era para que eu não fechasse os olhos até que fosse permitido.

Naquele momento, eu não sabia nem se estava mesmo de olhos abertos ou fechados. Era como um sonho totalmente real, em que seus olhos parecem estarem mostrando a realidade, mas na verdade, é apenas uma distorção dela própria na sua mente.

Após a cirurgia acabar, senti enrolarem algo ao redor de meu rosto. Depois, apaguei geral.

Aquela foi a minha segunda cirurgia. A segunda cirurgia que salvara minha vida. A segunda que dava certo; porém, me retirava uma habilidade preciosa.

A visão.

Minha adaptação fora considerável "sofrida", já que meus pais não possuíam muito dinheiro, e minha falta de senso de localização só piorava. Uma tática que eu utilizava era prestar atenção nos pequenos detalhes – como os sons ou a quantidade de passos que separava tal lugar do outro –, mas mesmo eles conseguiam me fazer ir em alguma outra parte errada ou bater com a cabeça na parede.

A vara também ajudava. Uma verdadeira companheira, praticamente.

Minha história não começou muito bem. Nela, houve acontecimentos trágicos e vitoriosos, tristes e alegres. De todos os tipos, que somente me faziam seguir em frente, mesmo que doesse muito.

Como agora, em que minha consciência desperta, e a mesma escuridão está lá. Acostumado com sua presença, não me preocupo tanto. Concentro-me mais é em saber aonde diabos eu estou agora.

Passo as mãos ao redor, sentindo um tecido macio e com um leve aroma de lavanda.

Mexo-me mais, e ouço um barulho soar ao meu lado. Passo as minhas mãos em direção ao som, e acabo sentindo a mão de alguém encostar no minha.

— Desculpe. – Pediu, e engoli a seco. "Sinto que já ouvi essa voz em algum lugar", minha mente diz. — Não devia ter te incomodado.

— Onde... Onde estou? – Pergunto, receoso.

Um suspiro ecoa alto. Para isso acontecer, ou a pessoa tem uma respiração de alta potência, ou estamos apenas em um cômodo pequeno.

— Em um lugar muito melhor que aquele beco, talvez? – E riu, mas não achei graça nenhuma.

Afastei minha mão dessa tal pessoa, claramente inseguro com quem poderia ser. E a menção ao beco aonde aquilo aconteceu, só piora mais.

— Quem é você? – Pergunto, ríspido.

Um barulho de rodas sobre o piso, um risinho baixo, e eu continuando perdido.

— Jung Hoseok, mas pode me chamar de salvador da pátria. – E socou levemente meu braço.

Jung Hoseok. Esse nome me é familiar. Só não lembrava da onde.

— Eu sou Park... – Me apresento, mas sou interrompido.

— Sim, eu sei quem você é. Park Jimin, nascido em Busan, cego por causa de uma cirurgia. – Abri a boca, mas Hoseok fora mais rápido. — Os médicos tem essa mania de falar todos os dados do paciente. Desnecessário.

A voz de Hoseok carregava certo sarcasmo e sinceridade que eu jamais imaginei existir. Parecia que tudo o que ele falava era o que ninguém tinha coragem de dizer, como se toda a verdade do mundo dependesse única e exclusivamente dele para ser dita.

Mexi a cabeça, mesmo não concordando nem discordando do assunto.

— Vocês tiveram sorte que a briga foi perto da minha casa. – Contou. — Faltava bem pouco para acabarem sendo considerados defuntos.

— Foi tão horrível assim? – Abro a boca, não aguentando mais.

— Um pouco. Você foi o menos prejudicado.

Prendo a respiração. Menos prejudicado. Isso quer dizer que...

— E o Yoongi? Como ele está? Preciso vê-lo urgentemente! – Levanto um pouco, disposto a sair dali. Mas duas mãos grandes se puseram em meu peito – provavelmente nu –, me impedindo.

Wow, calma aí, Jimin. Yoongi está bem, não se preocupe. – Tranquilizou Hoseok, e suspirei.

— Eu... – Parei, sem saber como explicá-lo. — É que... Eu queria muito poder...

— É, eu sei. – Ouvi Hoseok inspirar fundo, nos deixando em silêncio por alguns minutos.

Imaginei o que Hoseok poderia pensar de mim agora. Sinto minhas bochechas esquentarem levemente. Droga, eu odiava quando isso acontecia.

— Vocês fazem um casal bonito, sabia? – Comentou Hoseok, e o clima pesado se dissipou.

— Acha? – Era bem explícito minha animação diante seu elogio.

— É. Pelo menos, é melhor que o meu último.

Viro o rosto na direção de sua voz, e imagino acabar de ter feito uma expressão confusa.

— Como assim, último? – Pergunto, mas sou ignorado completamente.

— Você precisa descansar. Só vim aqui para ver como estava. Até mais. – Falou, e o mesmo som de rodas ecoou pelo cômodo, com o som de fechadura ao fundo, e um pequeno "clique".

Mesmo curioso, com alguns minutos, sentindo todo peso cair em meus olhos, lentamente voltei a adormecer.

can you see me? ☆ btsOnde histórias criam vida. Descubra agora