「 3.1 」

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\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \

﹏﹏﹏

Confesso que não estava nem um pouco preparado para o que aconteceria a partir dali. Não importava quantas perguntas o irmão de Taehyung fizesse para aliviar a tensão – ou, como era perceptível, aumentá-la –, cada mínimo detalhe do que eu aparentasse seria considerado um ponto negativo na lista dos pais de Taehyung.

Eu sabia que eles não eram gente que preste, mas eram os pais de Taehyung. Responsáveis pelas sua guarda na justiça, pelas suas ações, por tudo o que acontecesse em sua vida.

E infelizmente, nós não escolhemos quem será nossa família.

Sentei ao lado de Taehyung na mesa de jantar, procurando ficar o mais longe possível da presença do sr. Kim.

Diferente do filho mais velho, que vivia jogando a dor na sua cara, o sr. Kim fazia algo mais profundo: bastava ele te lançar um olhar rápido, que você podia ver todos os sentimentos de ódio e rancor guardados ali dentro. Sentimentos demais para conseguir encarar, e que te faziam se sentir uma ameaça para a sociedade, um simples lixo que necessita morrer urgentemente.

Só imaginava o que seria quando ele acabava soltando tudo aquilo.

E havia a mãe de Taehyung, que somente abriu a boca para avisar-nos da hora do lanche.

A sra. Kim tinha o mesmo olhar do sr. Kim; o ódio profundo guardado na alma. Mas parecia haver algo a mais. Talvez tristeza? Eu não sabia.

Apenas parecia com o mesmo olhar que o garoto no espelho trazia toda vez que eu olhava para ele.

— Podem se servir à vontade. – Falou o sr. Kim, a voz completamente séria.

Relutei um pouco, mas por fim peguei um prato e o enchi com o que dava para comer, até a sra. Kim estalar os dedos, assustando todos.

— Quase esqueci! A bebida... – Levantou de sua cadeira, foi até a cozinha, e trouxe uma garrafa de refrigerante consigo.

Engoli a seco, Taehyung e eu nos entreolhando.

Eu não podia beber refrigerante.

— Mãe... – Taehyung chamou, se interrompendo ao ver o olhar da mãe sobre si.

— Sim, Taehyung?

— Yoongi não bebe refrigerante. – Contou, constrangido. Entendia perfeitamente o que ele passava.

Até parecia de propósito.

A sra. Kim arregalou os olhos, e sorriu quadrado para mim.

— Perdoe, Yoongi. Realmente, não sabia que tinha um paladar tão refinado...

— É por causa da doença, senhora Kim. – Expliquei, fitando meu prato com sanduíches em formato triangular.

A sra. Kim assentiu, deixando o refrigerante na mesa – próximo de mim, aliás – e correndo para a cozinha, trazendo um pequeno copo com água.

— Está bom assim? Ou quer alguma água específica? – Questionou, largando o copo ao lado do meu prato, alguns respingos saltando dali.

Me encolhi com sua aproximação. Mal dava para olhá-la, que um movimento errado ela já iria para cima me matando com uma faca. E ela já estava atacando, mas com algo mais dolorido.

As palavras.

— Está... Sim, senhora. – Respondi, pegando meu copo e bebendo um pouco. A água estava quente, recém saída da torneira, perfeita para causar ainda mais sede.

Todos se acomodaram, e começaram a encher seus pratos. "Pelo menos, nós temos comida", pensei, enquanto provava os sanduíches.

— Então, Jeonggyu, conte para Yoongi como é a sua faculdade em Seoul... – Incentivou o sr. Kim, lançando um sorrisinho malicioso para Taehyung.

Nem precisava conviver muito com Taehyung para saber do bullying familiar que ele sofria, de ser considerado o "caso perdido". O próprio Taehyung falou que a exclusão dos pais já era o bastante, mas vendo nos olhos do sr. Kim, havia muito mais do que somente ignorância.

— Pois bem. Vou contar sim! – Exclamou Jeonggyu, a maior prova de falsidade existente na face da Terra – nas palavras de Taehyung.

Vários minutos se passaram, de Jeonggyu falando sobre a capital, a faculdade de Direito que frequentava, os estudos e vida social de lá, sobre como tudo era diferente de Suwon. Comentou sobre ter planos de se estabilizar lá, e como queria levar os pais juntos – somente os pais, não falara nada do irmão mais novo.

E entre tantos discursos chatos sobre as áreas de política e leis sociais, o sr. Kim traz a grande direta que precisávamos para esquentar o clima.

— E você, Yoongi, quais são seus planos para a vida?

Silêncio. E todos os olhos saltam em minha direção, tirando Taehyung, que permanecia de cabeça baixa.

— Eu... – Engoli em seco. Totalmente vazio. — Não sei de nada ainda, senhor...

— Você frequenta o grupo de apoio do hospital, correto? – Assenti. O sr. Kim cruzou os braços na mesa, fitando o restante de comida que sobrara no prato. — Me diga: como é esse grupo de apoio? Nele existem outras pessoas assim... como você?

Nem necessitava ser adivinho para saber de que tipo estávamos falando.

— Não sei, senhor Kim.

— Você não sabe sobre um monte de coisas, não é mesmo? – Arqueou uma sobrancelha, seus olhos trazendo toda aquela sensação horrível de novo.

— Depende de que tipo de coisas estamos falando, não é mesmo? – Rebati.

Taehyung fechou os olhos no mesmo momento em que o sr. Kim me encarou com os olhos fuzilantes.

— Escute aqui, mocinho. – Levantou um dedo para mim, a carranca claramente à mostra. — Não concordo que gente como você me responda desse jeito, então saiba de uma coisa: me respeite, assim como estou lhe respeitando agora. Correto?

Concordei, mas permaneci de cabeça levantada.

— Perfeitamente, senhor.

— Assim espero. – Bufou, olhando ao redor, e voltando a me fitar. – Apenas quero o bem de meu filho, e quero que ele conviva com pessoas de qualidade. – Ele pronunciou a última palavra com mais ênfase. — Então, se você quer andar com ele, precisa estar ciente de minhas restrições.

— E quais seriam estas restrições? – Questionei, preparado para toda a lista de injustiças que viriam.

O sr. Kim olhou para a esposa e filho mais velho, e suspirou.

— Quero Taehyung longe do perigo. Somente isso. A segurança vem em primeiro lugar para meu filho. O resto, pode ser por conta dele. – Taehyung segurou um sorrisinho de deboche, e tive de segurar o meu junto.

Tão fácil... Parecia até que ele se preocupava mesmo com o "caso perdido"...

— Conte comigo, senhor Kim. Taehyung estará seguro, garanto. – Afirmei, sentindo mais nada no universo que não fosse alívio, alegria, e o ranço imenso que peguei do restante da família Kim.

can you see me? ☆ btsOnde histórias criam vida. Descubra agora