「 7.2 」

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\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \

﹏﹏﹏

Fazia exatos vinte e um minutos desde que eu tomara uma das decisões mais loucas da minha vida. Ou, considerando outro lado, a mais sensata.

Não achava que fugir da escola fosse algo tão fácil assim, mas depois dos últimos acontecimentos, tudo parecia possível. Minha cabeça estava quente demais para pensar em cálculos ou assuntos do cotidiano. Precisava urgentemente focar em meu próprio mundo por alguns minutos, e sozinho, onde não haveria nenhuma decepção para me dar um tapa na cara.

Eu me sentia em cima de um fio. De um lado, minha morte. Da outra, minha vida em ruínas.

Não saberia escolher qual era a menos pior.

Por que tudo tem que ser tão difícil? Por que meu coração era tão complicado, ao ponto de se apaixonar por um menino que, muito provavelmente, morreria primeiro que eu?

Eu já tinha uma certa noção de como acabaria sendo a notícia, confesso que esperava pelo pior – ser pessimista quando se está doente realmente é um dom adquirido pelo câncer. Mas, é como dizem: nós nunca recebemos o que esperamos de verdade.

Sentado naquele banco em uma praça aleatória, vazia pela manhã e sem nenhum sinal de vida ao redor para me fazer sentir menos solitário, desatei no choro. O choro que segurava toda hora, que reprimia com todas as forças. Mas é de minha natureza aceitar o que se deve negar. Meu amor é a grande prova.

Lembrando da primeira vez em que recebi meu diagnóstico, senti como se uma nova caneta estivesse dando seu ponto final dentro de mim novamente. As lágrimas são as entrelinhas. Aceitar o mundo foi meu primeiro ato de coragem para estender a jornada deste ponto. O segundo, foi lutar pela vida, mesmo desejando que a página se rasgasse completamente. O terceiro, é o agora. Acreditar que vivo no agora, acompanhado de tantas vírgulas, e sabendo que o ponto final estava bem próximo de mim.

Aceitar que as coisas são o que são. E se elas são, nada deve impedí-las.

O grande caso do "ser, ou não ser, eis a questão".

— Com licença. – Uma vozinha soou perto de mim, e levantei a cabeça, olhando para um garotinho à minha frente.

Seu olhar transpirava inocência, tudo o que uma criança precisa para ser feliz. Porém, nele, enxerguei algo muito maior.

Compaixão.

— Por que está chorando, menino? – Perguntou, e funguei, limpando o rosto rapidamente.

— Por nada... É só umas coisas que aconteceram. – Usei como desculpa, procurando não contar a verdade. Já bastava as pessoas dentro do meu ciclo social saberem dos problemas. Um garotinho como este não merece saber nem porquê não posso tomar refrigerante.

O menino sentou-se ao meu lado, e balançou a cabeça em negação.

— Coisas que te deixam muito triste, pelo visto. – Reparou o menino, estendendo-me a mão. — Me chamo Jeongin, muito prazer, moço dos acontecimentos tristes.

Encarei por alguns segundos aquela mãozinha estendida, e depois, o garotinho em si. "Por que não?", pensei, e aceitei sua mão.

— Nossa, sua mão é áspera, moço. – Comentou, retirando sua mãozinha de perto da minha. — Ei, você tem manchas... – Atentamente observou-as, e a cada minuto, minha vontade de desaparecer crescia cada vez mais.

Mesmo com toda autoconfiança que eu adquirira nas pistas, a insegurança fazia parte da minha vida. E deixar alguém olhar meu maior pesadelo, me deixava assim; sem saber como escapar do fluxo da realidade que existia fora da minha pele.

O menino tocou em meu braço, e sorrindo, falou:

— Elas são bonitas.

Arregalei os olhos, encarando-o inexpressivo.

— Sério mesmo?

— É, eu achei. – Deu de ombros. — Se você está triste por causa delas, não se preocupe. Suas manchas são bonitas, moço triste.

— Meu nome é Yoongi. – Interrompi. — E não estou triste por causa disto, eu já me acostumei. – Observei a praça, já com algumas pessoas surgindo aqui e ali, dando vida ao lugar. Prestei atenção as pessoas, me perguntando internamente como elas apareceram tão rápido e silenciosamente desse jeito.

Era como se elas não estivessem ali antes. Uma sensação de despertar me invadiu. Será que eu estava ficando cego também?

Fiquei tão focado nos próprios pensamentos, que acabei esquecendo-me do mundo real.

— Então, por que está triste? – Questionou Jeongin, me trazendo à realidade.

Respirei fundo, olhando para baixo, procurando forças para pronunciar as próximas palavras.

— É... Uma pessoa que eu gosto muito. – Engoli a seco, prosseguindo. — Ela vai morrer, porque está muito doente. E eu não sei como reagir à isso, entendeu?

O menino assentiu, apoiando sua mão em meu ombro.

— Entendo. Minha avó também foi assim. – Desviou o olhar, continuando a dizer: — Ela morreu bem rápido, e eu amava muito ela. Mas, sabe, não estou triste por isso. – Sorriu minímo, me fitando. — Porque, de acordo com meu pai, eu "aproveitei" bem a minha avó. Ele não diz o mesmo sobre ele. Acho que é por isso que se parece com você, todo triste. Mas, quer saber? Vovó já morreu, mas essa pessoa que você gosta, não. – Levantou do banco, ficando de frente para mim. — Aproveite essa "pessoa", Yoongi. Não quero ver pessoas parecidas com o meu pai por aí.

Aproximou-se, me abraçando de repente. Jeongin tinha cheirinho de sabonete de bebê, e receber o seu abraço, valeu praticamente todo meu dia.

Por mais forte que já tenho sido, segurei firmemente as lágrimas, enquanto avistava o menino ir embora, e seu conselho sábio repetir em minha memória.

"Aproveite."

Quantos arrepios uma palavra pode trazer na vida de alguém?

E indo para casa, fiquei pensando em todas as coisas que poderia fazer com Jimin enquanto podia, a desculpa que usaria por ter voltado tão cedo da escola, e a lembrança do menino que salvara minha vida inteira, em apenas um único abraço.

can you see me? ☆ btsOnde histórias criam vida. Descubra agora