\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \﹏﹏﹏
Eram duas da manhã.
Eu estava perfeitamente bem, ouvindo algo em meus fones de ouvido, enquanto olhava pela janela do meu quarto, quando recebi aquela chamada de voz.
Em plenas duas horas da manhã.
— Alô?
— Até que enfim. – Soou uma voz meio grossa, que reconheço perfeitamente de quem é. — Achei que tivesse morrido... – Ele se interrompe, pois percebe o quão pesado sua frase sai. — Você não me respondeu.
— O que você quer, Taehyung?
— Sexo. E um "amanhã não tem aula".
— Mas você sempre quer isso – retruquei, e pude ouvir ele rir através da chamada.
— Você me conhece tão bem. Enfim, – ele suspira, e eu sei o que está prestes a vir. — Você não respondeu minhas mensagens. Ficou off-line o dia inteiro. E, por acaso, me lembrei que hoje era dia de... você-sabe-o-que.
— Exato. – Cruzei os braços, ainda observando a vista da minha janela, e com uma das mãos segurando o telefone. — Só não quero falar sobre isso. – Lembrei do que aconteceu quando cheguei do hospital, e minha garganta se apertou. — Por favor.
— Certo. – Ele parece aborrecido, mas muda de assunto mesmo assim. — Então, nenhuma novidade?
— As mesmas de sempre. Digo, tem uma nova, sim.
Imaginei Taehyung começando a prestar atenção. Normalmente, ele ficava com uma expressão séria, os olhos e ouvidos atentos, e permanecia em silêncio até que você acabasse. E eu gostava disso nele.
Me ajeitei melhor na cadeira, o braço encostando a janela enquanto segurava o telefone. Suspirei, e comecei a contar tudo.
— Meu pais querem me pôr em um grupo de apoio.
Taehyung não disse nada. Continuei.
— Foi o seu tio que recomendou, aliás. Falou sobre como isso pode melhorar minha capacidade intelectual, além de que seria até melhor para o meu estado conviver com pessoas iguais. Tipo, sério isso? Agora, meus pais estão colocando todas as esperanças deles nesse grupo. Como se, sendo obrigado a socializar com outras pessoas, eu acabaria mudando. – Balancei a cabeça, mesmo que Taehyung não pudesse ver.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, e então, veio o clássico comentário:
— E como você se sente com isso?
— Uma merda. Não consigo acreditar que isso é mesmo sério. – Mordi os lábios, e sussurrei, baixo o suficiente para que Taehyung não ouvisse: — Eu não tenho salvação. Quando irão entender isso?
— Bem, – Taehyung começou — não me leve à mal, Yoongi. Mas...
— Mas?
— Eu concordo com seus pais.
— VOCÊ O QUÊ? – Falei alto, e tapei minha boca rapidamente. Esperei algum outro barulho surgir, mas não acabei acordando a vizinha inteira. Respirei profundamente de alívio. — Você o que, Taehyung?
— Eu concordo com seus pais. – Respondeu, tranquilo. — Seria bom, para esfriar a cabeça e tal, além de que eu gostaria de te ver fazer amigos. Você anda muito sozinho ultimamente, na minha opinião.
— Legal. – Comentei, carregado de sarcasmo. — Muito interessante ouvir que você não me aguenta mais, e dizer que eu deveria deixar de ser antissocial. Sério mesmo? – Taehyung silenciou na ligação. — Se não quer mais andar com um doente manchado, era só falar, Taehyung.
— Não é isso, Yoongi. Meu Deus, você só fala merda. Cala boca e me escuta.
Desta vez, fui eu quem prestou atenção nele.
— Pense bem, cara. Um grupo de apoio é aonde existe pessoas, gente que vive e respira, e que estão passando pelos mesmos problemas que você. Tudo bem, não estão exatamente passando o mesmo, mas elas pelo menos conseguem te entender mil vezes melhor do que alguém como eu, ou os seus próprios pais. E saber que você não está sozinho no mundo... Cara – Taehyung se interrompe, e ouço ele fungar. — É muito incrível. Saber que não é o único, saber que tem gente que te apoia e te compreende totalmente... – Engoli a seco. "Mas ninguém conseguirá me compreender," pensei. — Entendeu aonde quero chegar, ou preciso ir na sua casa e te dar uma boa surra pra finalmente conseguir aprender?
— Não precisa, Taehyung. – Desviei o olhar para meu quarto. O espelho continuava ali. Pisquei, e me senti mais sozinho do que parecia. E, pensar que poderia haver pessoas que me entendessem... Talvez, eu estivesse mesmo precisando de algo assim na minha vida. — Eu entendi.
— Acho bom. – Ouvi alguns tec tec tec, e imaginei que ele estivesse digitando algo.
— Fazendo dever de casa nessa hora? – Questionei, e ouvi ele rir baixinho.
— Não me culpe. Sou péssimo para lembrar datas de entrega de trabalho. E devo dizer, este está sendo difícil. – Ele bufou. — Que dia é esse encontro do grupo?
— Sexta-feira. Às sete da noite. No hospital. – Cruzei as pernas, tentando achar conforto naquela posição. — Um tal de Dr. Seokjin vai ser o responsável. Por que a pergunta?
— Oras, óbvio. – Arqueei as sombrancelhas. — Eu vou com você.
— Sério? – Aquilo realmente me surpreendeu.
— Sério. Ou você acha que eu vou perder de assistir Min Yoongi interagindo com outros seres humanos?
— Idiota.
— Obrigado. – Ele continua digitando, até que diz: — Vou terminar o trabalho. Boa noite, branquelo.
E desligou, me deixando no silêncio da madrugada. Olhei as horas. 02h24m da manhã. Virei para minha vista, e pela primeira vez naquele dia, agradeci por ainda estar vivo.
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can you see me? ☆ bts
Fanfiction❝onde park jimin é cego, e conhece min yoongi, um garoto que sofre de câncer de pele.❞ ⇢ min yoongi + park jimin. ⇢ concluída.