「 2.7 」

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\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \

﹏﹏﹏

"Era só o que me faltava, ter que conviver e respirar o mesmo ar que aqueles putos", pensei, enquanto caminhava tranquilamente pelo corredor da escola sozinho.

Desta vez, Taehyung resolveu ficar na sala de artes para terminar seu quadro, mas prometeu me encontrar na próxima aula. O que significava: um intervalo inteiro sozinho e remoendo com meus próprios pensamentos.

Eu não queria, e Taehyung não queria isso também. Mas se tratando dos pais dele, a conversa era como a melhor forma de conseguir uma paz imediata entre eu e eles. Mesmo com todas as circunstâncias, e os riscos que traria.

Entre minha vida e a de Taehyung, o nosso barco só faltava um pouco para conseguir afundar.

Era por isso que não gostávamos de falar sobre esses assuntos – tanto a minha doença quanto a relação familiar dele – quando estávamos juntos. Duas vidas perdidas juntas não podem ser comparadas. Seria crueldade.

Isso tudo era crueldade, na verdade. Taehyung era uma pessoa tão boa. E pessoas boas não merecem sofrerem as dores do universo.

Percebi que estava de frente para a porta do banheiro masculino, e resolvi entrar.

O espelho do banheiro, algo impossível de se evitar, ficava ali, revelando minha aparência desgraçada. Tanto a que eu carregava por fora – cheia de manchas e coberta por roupas escuras – quanto a de dentro, a mais dolorosa de se encarar.

Encarei os olhos do garoto no espelho. Ainda tinham o mesmo brilho de sempre.

— Você vai conseguir, Yoongi. – Sussurrei. Nada aconteceu.

Engoli a seco, e fui para a cabine do banheiro.

Passado alguns minutos ali, repensando sobre o mesmo assunto, levantei para sair, até ouvir murmúrios vindos do cômodo e o barulho da porta se fechar.

Levantei meus pés automaticamente. Não queria ser descoberto, e tampouco queria descobrir quem estava ali.

Os sussurros da conversa ou eram baixos demais, ou eles estavam afastados do meu box. Apenas captei algumas poucas palavras.

— ... Você sabe que eu não...

— Só me explica, então. – Interrompeu a primeira voz. — Por que você não pode? É algum problema comigo?

— Não! Nunca! – Exclamou a segunda voz, baixinho. — Você não tem...

— Então, por quê?

Silêncio.

Pelo rumo da conversa, com toda certeza era a discussão de algum casalzinho. Mas o modo como pareciam demonstrar suas emoções na conversa, me fez repensar que fosse mesmo sério.

Ouço passos próximos demais da minha cabine. Prendo a respiração, esperando que funcione. Acontece um soco na porta da cabine vizinha.

Arregalo os olhos, surpreso. A coisa é mesmo séria.

"Aonde você se meteu, de novo, Yoongi?", perguntei a mim mesmo, fitando as sombras aparecendo no chão do banheiro.

— Eu confio em você. – Falou a segunda voz, decidida. — Mesmo com tudo isso, eu acredito em você. Espero que entenda.

Ouve um suspiro. A sombra mais próxima se afasta, e solto meu ar, aliviado.

— Desculpe ser assim... – A primeira se interrompe por uns instantes. — Eu... Vou contar. Um dia. Prometo.

Um barulho de estalos surge no banheiro. Que ótimo. Além de ficar preso na cabine, ainda vou presenciar a transa de um casal de adolescentes.

Felizmente, o barulhinho incômodo para, e a porta do banheiro é aberta. Aguardo mais uns minutos, mas sou obrigado a sair pelas minhas pernas já dormentes.

Me espreguiço, relembrando o momento ali na cabine, questionando quem seria o casal que conversava.

Ah, deve ser apenas uma D.R de casal clichê mesmo.

Lavo as mãos e saio do banheiro, verificando nos cantos se havia algum casal se pegando escondido, ou algo parecido.

Até ver, perto da sala do diretor, ele.

— Puta merda. – Me escondi no canto da parede mais próxima, e fiquei observando. Afinal, alguns costumes nunca mudam.

O diretor saiu da porta, convidando Jimin e a mulher com ele entrarem. Sei muito bem o que será tratado dentro daquela sala.

E a resposta também.

Fiquei escondido naquele canto da parede, os olhos presos em qualquer acontecimento na sala do diretor. Com certeza quem me visse agora, diria que eu sou um doente perseguidor transportador de câncer.

— Buh! – Saltei para trás, deixando escapar um gritinho de susto.

Já começava a planejar minha bronca de uma hora com Taehyung, até ver que não era ele.

Jungkook?

O garoto com sorriso de coelhinho sorriu, assentindo.

— Eu mesmo.

Ignorei, focando novamente na porta da sala do diretor. Depois ensino para esse garoto que me assustar não leva à uma boa causa.

— O que você está olhando, Yoongi? – Questionou, se apoiando nos meus ombros.

Bufei, me virando para ele.

— Jungkook, isso é realmente sério e...

Bem na hora, a porta se abre, saindo dali um Jimin de bochechas vermelhas, e a mulher que o acompanhava, atrás de si.

Ambos estavam de cabeça baixa, mas a mulher a levantava algumas vezes para responder o diretor com gentileza. Seu jeito era muito parecido com o de Jimin.

Devem ser mesmo mãe e filho.

Agradeceram ao diretor, sorrindo fraco, e seguiram seu caminho. De longe, juro que vi Jimin limpar uma lágrima que escorria pelas bochechas.

Jungkook se afastou, me fitando, seus olhos mostrando tudo o que ele havia entendido dali.

— Você conhece ele? – Perguntou, e eu assenti levemente. — Você gosta dele?

Abaixei a cabeça, e convidei-o para sair daquele canto na parede, em silêncio.

can you see me? ☆ btsOnde histórias criam vida. Descubra agora