\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \﹏﹏﹏
Era dia de consulta.
Mamãe tinha me acordado as forças naquela manhã, me lembrando o que teríamos que enfrentar algumas horas, procurando me animar. Porém, eu não estava tão animado assim.
Chegamos ao hospital, as mesmas pessoas nos recebendo, os mesmos corredores sendo percorridos. Ao chegar no escritório, o Dr. Kim já estava pronto, mostrando o mesmo sorriso de sempre para nós.
— Espero que hoje tenhamos resultados ótimos, menino Yoongi – comenta, me indicando a maca encostada na parede, mas automaticamente me viro para lá, sem respondê-lo.
Mamãe pigarreou, querendo dizer alguma coisa. O Dr. Kim pareceu notar, pois disse:
— Não se preocupe, senhora Min. Seu filho ficará bem, afinal, estamos acostumados, não é mesmo? – E olha brincalhão para mim, mas permaneço com olhar cravado no chão.
Não que fosse por falta de educação, aliás, o próprio Dr. Kim já está acostumado com meus silêncios. Mas porque, assim como todos sabiam, eu não queria estar ali.
Por um dia que fosse, eu gostaria de sumir. Só para faltar a uma consulta.
Infelizmente, aquela era minha vida. E eu teria que aguentá-la, ou se não, ela teria que me aguentar.
— Deixarei vocês a sós, – alerta mamãe, já saindo do consultório — Boa sorte, Suga.
— Yoongi, mãe. Meu nome é Yoongi.
Ela assente, e fecha a porta, deixando-me a sós com o Dr. Kim.
Algum tempo depois de feitos os exames, eu já estava fora do consultório. Segurando um algodão no braço, aonde a agulha havia sido injetada, e esperando minha mãe sair do maldito consultório.
Fiquei esperando. Nada se dizia naquele cômodo. A secretária havia saído para buscar algo, e o Dr. Kim permanecia com minha mãe na sala. Disse que precisavam conversar. "Só imagino o que estariam conversando agora", penso, me dando por vencido naquele completo tédio.
Até que comecei a escutar algumas vozes vindas dali.
— ... Dúvida, doutor? Não sei o que está acontecendo, ele está mais ranzinza hoje do que o normal.
O Dr. Kim pareceu rir.
— Tudo bem, senhora Min. Ainda não sei exatamente do que se trata, mas provavelmente está tudo no mesmo. Não há com que se preocupar. – Houve um silêncio profundo.
Aproximei-me mais, a fim de escutar o resto. Espiei pela fechadura, e vi que mamãe permanecia de pé, e o Dr. Kim, sentado em sua escrivaninha.
Tudo bem, aquilo era errado. Mas, o paciente sou eu, correto? Tinha direito de saber sobre a minha saúde, com certeza.
— Isso é normal dele, pelo visto. Ser ranzinza com todo mundo... – mamãe pareceu bufar de raiva com o comentário do doutor. — Mas tenho uma ideia que pode ajudá-lo, talvez.
Silêncio. Procurei prestar mais atenção ainda.
— Que tipo de ajuda? – Mamãe pergunta, e engoli a seco.
— Um grupo de apoio, pode ser.
Naquele instante, me seguro para não entrar no consultório e gritar na frente do Dr. Kim um imenso "não".
Mamãe permanece em silêncio, deixando o momento todo para o médico se explicar.
— Pense, senhora Min. Lá teriam pessoas na mesma situação que ele, com que pudesse conversar e interagir. Alguns psicólogos dizem que o pessimismo contribui muito para a doença se espalhar, e isso é exatamente o contrário do que queremos – mas é o que eu exatamente quero. — Yoongi irá interagir com jovens da idade dele, da mesma situação, e com certeza, irá fazer muitos amigos.
Amigos. Viver normalmente. Interação. São as exatas três coisas que são capazes de chamar atenção dos meus pais. E, como previsto, minha mãe parece gostar da ideia.
Uma ideia péssima, devo acrescentar.
Quer dizer, onde já se viu isto? Um grupo, cheio de adolescentes morrendo – ou, quem sabe, mortos já – sendo obrigados a conviver uns com os outros, falando sobre suas vidas, quando na verdade só gostariam de estar mofando em casa? Aquilo era o cúmulo.
E eu não me tornaria uma dessas pessoas.
— Mas aonde poderíamos encontrar um grupo do tipo, doutor? – Questiona mamãe, e eu sorrio vitorioso. Em nenhum lugar, querida mamãezinha.
— Bem... O hospital está abrindo um novo agora. – Puta que pariu, é a única coisa que penso. — Começará na sexta. Será comandada pelo Dr. Seokjin, da ala dos psicólogos. Se estiver interessada...
Através da fechadura, vejo mamãe se mexer um pouco. E eu sei perfeitamente o que se passa com ela agora.
Por favor, que não seja para conversar comigo mais tarde.
— Conversarei com meu marido, ele com certeza irá gostar da ideia. E com Suga, também.
Era tudo o que eu não queria ouvir.
Me afasto da porta do consultório, voltando para o meu lugar e pensando sobre a conversa deles. Um grupo de apoio para jovens doentes... Tem coisa pior no mundo que isso?
Ah, é claro. Fazer parte de um.
Alguns minutos depois de eu ter saído de perto, o Dr. Kim e mamãe saem do consultório. Posso perceber que mamãe está um tanto mais alegre, e eu sei bem o porquê.
— Nos vemos na próxima consulta, Yoongi! – Diz o Dr. Kim, e eu aceno para ele.
— Yoongi, temos que conversar. – Fala mamãe quando entramos no carro, e eu assenti, mesmo sabendo do que se trataria.
E eu não me rebaixaria a isso. Nem que fosse por força. Nunca.
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can you see me? ☆ bts
Fanfiction❝onde park jimin é cego, e conhece min yoongi, um garoto que sofre de câncer de pele.❞ ⇢ min yoongi + park jimin. ⇢ concluída.