can you see me? ☆ bts

「 0.2 」

\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \

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Eu nunca fora fã de patinação, mas ver as pessoas patinando era o meu grande hobbie. Imaginava como seria se eu soubesse patinar, se estaria ali junto daquelas pessoas, rindo e se divertindo no gelo. Era maravilhoso. Mesmo dolorido, era maravilhoso.

Anotei mais uma das imensas notas que o professor havia deixado para mim. Consequências de faltar a aula por causa das consultas e exames médicos. E a quimioterapia, aquilo que eu mais odiava. Poderia viver na base de remédios durante a vida toda, mas saber que nunca mais entraria na sala de quimioterapia, era um sonho.

Puxo a manga do meu moletom preto até tapar completamente minha mão. Seguro o tecido, sentindo seu calor do algodão em minha pele. Suspiro, olhando em volta e parando o olhar novamente na pista de patinação.

— Se quiser patins, pode ir na recepção. Eles emprestam e o preço é baratinho – uma voz ecoa atrás de mim.

Suspiro. Sei bem de quem é esta voz.

— Você sabe que mesmo se eu tivesse disposição para pegar um patins, eu nunca iria entrar naquela pista, Taehyung – digo para meu amigo, que empurra uma cadeira da mesa e se senta comigo. — Você sabe que eu morro de medo daquela pista.

— Mas adora ela ao mesmo tempo – Taehyung retruca, pegando meu sanduíche e mordendo um pedaço. Ele faz uma careta. — Argh, de que sabor você pegou dessa vez, Suga? Espinafre com sardinha?

— Brócolis e tomate. – Respondo, pegando meu sanduíche novamente e dando outra mordida. — Estava em promoção e eu fiquei curioso quanto ao gosto.

— Pois essa sua curiosidade vai me fazer vomitar agora – e faz menção de pôr as mãos sob o peito, mostrando uma cara de nojo e desespero, e abrindo a boca. Me seguro para rir. Taehyung às vezes sabe agir perfeitamente como um completo idiota.

Lembro dos mínimos detalhes do dia em que o conheci. Parecia que fora ontem. Sobrinho do Dr. Kim, conheci Taehyung enquanto esperava o Dr. Kim voltar de seu escritório particular e entregar meus exames. Ele estava lá para dar uma mão ao tio, e tentar conseguir uma boa grana, já que precisava de dinheiro até o final de semana para sair com uma garota.

Taehyung nunca me contou quem era essa garota.

De resto, ele era um dos meus poucos amigos que carrego na vida. Claro, tirando Dr. Kim e meus pais. Na verdade, ele era o meu único amigo da minha idade... É, a doença pode afastar certas bem feituras, como exemplo, a habilidade de fazer amigos.

— Muito dever de casa? – questiona, dando um gole no meu suco sem o mínimo respeito.

— Você pode pegar a minha doença se beber do mesmo copo que eu – alerto, mas ele dá uma balançada com a cabeça, e um sorriso maldoso surge nela.

— Mas e se não for em um copo? – e faz questão de beber mais um pouco, com um olhar malicioso e me deixando vermelho.

Claro. Além de um completo idiota, Kim Taehyung era a pessoa mais maliciosa que eu conhecia naquela vida. Acredito que se meus pais descobrissem, nem me deixariam ficar perto dele.

— Melhor você parar de falar besteira, Tae. Estamos em local público. – E demonstro com um movimento da mão as pessoas ao meu redor. Taehyung ri, cruzando os braços e encarando a pista de patinação, ainda sorrindo.

— Conheci um garoto no hospital – conto, hesitando um pouco quanto a isso.

Taehyung automaticamente presta atenção em mim.

— Conheceu do verbo conhecer alguém, ou conheceu do verbo você-sabe-o-que? – é impressionante. Nem falo duas palavrinhas sequer e ele já vem com malícia pra cima de mim.

Ignoro totalmente, continuando a história.

— O nome dele é Jimin – ao dizer aquelas palavras, lembro perfeitamente dele. De seu olhar cheio de vida, porém apagado. — E ele não sabe o meu nome.

Taehyung arqueia as sobrancelhas.

— Como assim, ele "não sabe o seu nome"?

— Eu menti. – conto, sentindo uma bola surgir em minha garganta. — A verdade, é que ele entrou no meu quarto sem perceber, e me viu pelado da cintura pra cima. Só que, não foi bem que ele olhou... Quer dizer... – O sorriso de Taehyung cresce a cada palavra que eu digo. Merda, merda dupla.

— Confessa logo, Yoongi. Você e o tal de Jimin transaram, não é?

Arregalo os olhos. O mais estranho nisso é que imagino como seria se Jimin aparecesse para mim sem camisa.

— Você está louco, por acaso? – tento afastar a vermelhidão de minhas bochechas. Taehyung ri como se fosse a última risada de sua vida. — Não, cara. Ele é cego.

Taehyung para de gargalhar, finalmente prestando atenção em mim.

— Ele é cego. Sim, ele entrou no meu quarto achando que era o quarto dele. Mas não me viu completamente semi-nu. Entendeu agora? – Taehyung assente, bebendo novamente do meu suco. — Encontrei ele ontem, no consultório. E não sei o que me deu, mas quando ele perguntou o meu nome, eu disse que era Suga. Droga. – Xingo, com uma imensa vontade de me estapear.

Taehyung balança a cabeça, bufando de decepção.

— Isso realmente é um problema. – E termina de vez com minha bebida, sem fazer questão de se desculpar. — Afinal, como eu posso saber se a sua primeira vez foi boa, se o cara que ficar com você não conseguir nem saber se está sentado no seu braço ou no lugar correto? Francamente.

— E como sempre, Kim Taehyung só pensa em bobagem.

— Não é bobagem. É anatomia humana.

— Muito engraçadinho.

— Você devia contar que seu nome é Yoongi, e não Suga.

Silêncio. Ficamos assim enquanto a música na pista de dança tocava nas alturas.