「 2.9 」

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\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \

﹏﹏﹏

A consulta dessa vez havia sido tranquila demais para o meu gosto. O Dr. Kim, que costumava sempre comentar algo comigo para não deixar o clima tenso – para ele, ser examinado e não se sentir confortável era uma péssima forma de fazer um exame – não falara absolutamente nada durante o processo.

Não o culpava por querer manter algum papo comigo, aquilo de relação entre médico e paciente podia ser uma ótima forma de descomplicar o clima, deixá-lo menos pesado. Mas, daquela vez, ele falou bem pouco do que costumava.

Apenas perguntas de como eu me sentia, instruções sobre o exame, como comportar-me durante a passagem pela quimioterapia – antes, bio e quimioterapia juntas. Era como um pesadelo.

Porém, nada sobre qual time de futebol havia ganhado o jogo de noite passada, ou se o tempo estava para chuva ou sol. Somente coisas de médico para paciente.

Naquele instante, eu não reconhecia mais o Dr. Kim.

Após me liberar, foi como um alívio. Só não caminhava para fora daquele sufoco, porque sabia que o Dr. Kim ainda tinha sentimentos, e eu não estava a fim de arruinar mais a vida de alguém que me acompanhava nesta dura luta de cada dia.

Infelizmente, ao abrir a porta para fora do consultório, não vi mais o garoto de meias coloridas esperando chegar sua vez para entrar.

Suspirei, e comecei a tomar meu caminho para fora do hospital. Desta vez, a mente totalmente fora de ordem, os pensamentos rondando ela, procurando organizá-los.

O Dr. Kim estranho, Hoseok não estando mais na fileira do corredor, e o desaparecimento total de Jimin. Considerava até que ele havia sido uma miragem daquela vez, e minhas conclusões chegavam cada vez mais a esse caminho.

Eu estou enlouquecendo.

Senti meu bolso da calça vibrar. Peguei, conferindo mais de duas vezes se era ele mesmo, já que encontrava-me tão cansado que nem forças para ler eu tinha mais.

— Alô? – Atendi, e ouvi o suspiro de Taehyung pelo outro lado da linha.

— Até que enfim atendeu. Achei que já tivesse saído do exame. – Reclamou, me fazendo conferir as horas pela tela do celular.

Até as horas estavam diferentes. Tudo estava diferente. Puta merda. O que um pouco de tratamento e remédios não fazem com a sua cabeça, não é mesmo?

— Ah... Sim, saí faz um tempo. Desculpe. – Falei, me sentando no primeiro banco do hospital que vi na fileira do corredor.

De repente, senti um tremendo cansaço me atingir, principalmente nos braços, pernas e abdômen. Poderia dormir sentado para sempre, se desse.

— E está tudo bem? Com você, e etc... – Perguntou Taehyung, e suspirei.

— O mesmo de sempre, Tae. Nada de novo na vida de Min Yoongi – ironizei, sabendo que era mentira. Havia muitas coisas de novo na minha vida agora. — Pode ficar tranquilo, está tudo normal, e...

Parei. Mordi o lábio, não sabendo se deveria contar ou não. Mas ignorei, aliás, nem deveria se passar pela minha cabeça o receio em contar sobre as coisas com Taehyung. Esse garoto sabia coisas que até eu nem sequer imaginava existir.

— E...?

— Encontrei com o garoto do grupo, o tal de Hoseok. – Mudei o foco, desviando como um perfeito covarde.

Taehyung murmurou um "interessante", e sabia do que se tratava.

Ele não se lembrava de Hoseok.

— Aquele que usava meias coloridas, se lembra? – Procurei usar a primeira característica que me veio na cabeça.

— Eu não reparo nas meias das pessoas, Yoongi. Só pra você saber, mesmo.

— Aff, grosso. – Bufei, me encostando no banco.

Como eu poderia explicar para Taehyung, porém de uma forma mais delicada? Ninguém gosta de falar direto sobre a doença ou deficiência, mas eu sabia que seria a única forma.

— O garoto que fez dupla comigo, no primeiro encontro... – Engoli a seco, sentindo certa leveza na mente me preencher. Efeitos do remédio. — O garoto paraplégico, Taehyung.

Taehyung demorou para falar, e sua resposta foi um único "ah".

Ele ficava assim quando alguém acabava mencionando assuntos pesados.

— E vocês... conversaram?

— Sim... Ele é legal. – Soltei, e era verdade. — Vou apresentar vocês no dia do grupo. Você vai gostar dele.

Taehyung deu uma boa risada através do telefone. Ouvir o som de sua risada, depois de tanto tempo, havia melhorado de mais meu dia.

— Estou realmente muito feliz que você esteja fazendo novos amigos, Yoongi. – Confessou. — Só, por favor, não esquece as antigas amizades não, tá? A gente nem se pegou ainda pra querer cortar essa relação tão linda como a nossa... – Não resisti, e soltei um sorrisinho.

— Nunca, Taehyung. Promessa de portador.

— Promessa meio mórbida, essa sua. – Falou, e meu sorriso aumentou. — Por falar de morte e essas coisas... – Silenciou.

Parei de sorrir imediatamente. Por algum motivo, meu coração tremeu por dentro.

— O que aconteceu, Taehyung?

— Amanhã, Yoongi. – Respondeu, e ouvi sua respiração pesada. — Meus pais querem conversar amanhã com você.

Era isso.

Uma vez, me disseram que certos remédios possuíam a habilidade de me fazer sentir como um drogado, outros, como um morto jogado no túmulo. Mas nunca falaram sobre as quedas do coração. E aquela, principalmente, fora a mais turbulenta.

E tanto Taehyung como eu sabíamos aonde ela poderia chegar, e como nenhum remédio conseguiria fazê-la cair em uma completa chapada sem acabar sentindo nada no final.

can you see me? ☆ btsOnde histórias criam vida. Descubra agora