「 2.0 」

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\ can you see me? /
/ pov. min yoongi \

﹏﹏﹏

O garoto paraplégico e eu ficamos nos encarando por um tempo, enquanto todos do grupo já aproximavam suas cadeiras uns dos outros, começando as interações, e o Dr. Jin concentrava-se em anotar tudo em um caderninho.

Engoli a seco. A lembrança do sorriso mórbido do garoto me fez sentir arrepios, mesmo não tendo sentido antes. Quem saberá o que ele esconde além desse sorriso...

Tomei coragem, e puxei minha cadeira para ficar de frente à ele.

O garoto não disse nada. Apenas me fitou, esperando uma reação minha, ou alguma ação. Isso piorou tudo. Porque, além de um completo caso perdido, eu era péssimo para puxar assunto. Então, sabia que seria bem difícil terminar aquela atividade, se tudo acabasse dependendo de mim.

Permaneci em silêncio, olhando para baixo. Percebi que ele usava meias listradas, bem chamativas, mas invisíveis se a primeira coisa que alguém notasse era seu estado.

— É uma metáfora.

— Hein? – Questionei, levantando a cabeça para olhá-lo.

O garoto suspirou.

— As meias. Você gostou delas, não é? – Não respondi. Ele sorriu, mas não parecia feliz. — Normalmente, as pessoas preferem sempre encarar o rosto de alguém paraplégico, do que ficar olhando as pernas, só para disfarçar a curiosidade, sabe? Por isso que não ligo em usar esse tipo de meia.

Arqueei as sobrancelhas, olhando para suas meias novamente, não acreditando que nelas havia um motivo tão complexo como este.

— Certo, chega de enrolação. Vamos direto ao ponto. – Cortou ele, me olhando sério. — Eu tenho uma maratona inteira de Breaking Bad para terminar, e quero começar a assistir Iris hoje mesmo. Então vamos fazer essa atividade rápido, porque se dependesse de mim, eu nem estaria aqui.

— Eu também não estaria aqui. – Falei, cruzando os braços. — Meus pais me obrigaram a vir, e tenho certeza que os da maioria das pessoas aqui também fez o mesmo.

Hoseok arqueou uma sombrancelha, admirado com minha sinceridade.

— Achei que nunca encontraria outra pessoa sensata nesse mundo. – Disse, sarcástico. Desviou o olhar. — Você lembra uma outra versão minha. Uma versão menos fria, mas ainda sim uma versão.

— Foi o que eu pensei de você, também. – Rebati, e Hoseok assentiu.

Era verdade. Eu conseguia me ver nos traços de Hoseok, nossas personalidades e pensamentos idênticos, porém com certas diferenças mínimas. Era automático. Elementos iguais sempre conseguem se reconhecer.

Hoseok suspirou, balançando a cabeça.

— Você não entende. Você ainda tem esperança. Eu, não. Olhe para mim. – Indicou a si mesmo com as mãos. — Estou condenado. Você ainda tem seus dias de glória. Aproveite, e não se torne este morto-vivo que eu sou hoje.

— Então, acho que já sou um morto-vivo. – Argumentei, mas Hoseok negou.

— Nunca. Você ainda tem ele – apontou para Taehyung, que conversava animadamente com o garotinho de máscara. — E ele também. – Apontou para Jimin.

Balancei a cabeça rapidamente, negando.

— Não! Você está enganado... – Olhei para Jimin rapidamente, voltando a atenção para Hoseok. — Ele e eu...

— Fazem um casal bonito. – Comentou, me fazendo sentir mais desconforto ainda. — E nem adianta vir com essa de que não gosta dele. Eu percebi o jeito que você olha pra ele. É raro encontrar casais assim no mundo, sabia? – Mordeu os lábios, pensativo. — Aproveite enquanto pode, Yoongi. Nunca se sabe quando tudo pode acabar.

Hoseok falava isso com tanta força, que estava quase me convencendo. Mas o que reparei, foi na forma que ele dizia – como se ele estivesse revoltado por encontrar alguém que não sentia os prazeres da vida, e queria jogar na minha cara para valorizá-los melhor.

Olhei para suas pernas, e depois para seu rosto. Inexpressivo, mas seus olhos traziam cansaço. Cansaço das injustiças, de ver pessoas não valorizarem suas bênçãos, de estar preso em uma cadeira para sempre, talvez?

Percebi que para saber as respostas, eu deveria me aproximar mais de Hoseok. E eu faria isso, de alguma forma, eu queria saber todos os segredos escondidos nos olhos escuros do rapaz paraplégico.

— Vamos logo com isso. – Lembrou novamente, e avistei o Dr. Jin já fechando seu caderninho de anotações. — Me diga uma qualidade sua.

— Minha? Hm... – Pensei por um tempo. O que eu poderia usar como exemplo de qualidade minha?

Era quieto. Sentia demais, mas pouco demonstrava. Sonhador, mas pessimista. Preguiçoso, pensador, bom ouvinte, compreendedor. De repente, uma explosão de qualidades me vieram, e lembrei do que Hoseok dissera.

Você ainda tem esperança.

— Eu sou observador. Gosto de observar as coisas. – Não sei por quê, mas aquilo me deixou feliz.

Hoseok assentiu.

— Eu sou negativo. Enxergo as coisas sempre com lado negativo. Pronto, acabamos. – Hoseok chama o Dr. Jin, mas o interrompo, pondo minha mão em seu braço.

Será que era uma boa ideia?

Hoseok afasta rapidamente minha mão, olhando dela para mim, e de mim para ela, surpreso.

— O que aconteceu?

Mordi o lábio inferior, olhando para Jimin de longe, pensando se deveria mesmo contar sobre.

Mas, por alguma obra do destino, a mesma mulher que estava com Jimin na escola apareceu no salão.

Ela entrou rapidamente, já indo conversar com o Dr. Jin, que assentiu, e foi até Jimin, conversando com ele. O mesmo concordou, e se levantou, dando o braço para a mulher, indo embora do grupo.

Um pequeno problema resolvido.

— Você queria que ele fosse embora. – Constatou Hoseok, e abaixei a cabeça.

Não importava o quanto dissessem o contrário. Eu era sim, um ser humano horrível.

can you see me? ☆ btsOnde histórias criam vida. Descubra agora